Dito de outro modo, sem justificação ou explicação alguma, há, eu sei, um avanço da imagem na linguagem. Entre uma e outra, nesse avanço, um salto, um vazio (mas não um salto no vazio). Há um pensar por imagens ao qual as palavras chegam com atraso, quase como se delas ficasse só a música lançada para diante. É ainda a linguagem, mas já não são palavras, são imagens, livres, que as palavras falham ao circundar Há um azul que excede a palavra azul, há esse azul, e quando a sua mancha alastra, atrasa-se qualquer palavra acerca disso. Se A. L. diz «pára-me de repente o pensamento», posso imaginá-lo precisamente aí. O que então escreve e não escreve envolve uma pausa fulminante. Mas nunca poderei dizer isto, a ponte afunda-se no rio.
Rosa Maria Martelo, Siringe, Averno, 2017, p.66
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