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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Maias e Maios -1 de Maio


fotografia de Jorge Barros

 

As Maias

Todos os anos, de 30 de Abril para 1 de Maio é tradição no Minho, Douro e Beira Alta, que se coloquem à porta ou janelas de casa ramalhetes de giestas amarelas, também conhecidas por maias por florirem em Maio. Todavia, noutras regiões de Portugal é também celebrado, embora de forma algo diferente [1].

Leite de Vasconcelos [3]  refere que a mais “antiga menção desta festa popular, festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo, creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: «Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do ano.»

É referido também que as origens desta tradição, de reminiscências pagãs, encontra-se ligada a ritos de fertilidade, do início da Primavera e do novo ano agrícola, tal como se afirme que afasta o mau-olhado e as bruxas de casa [1] [2].

As Maias propriamente ditas constam de duas partes: o enramalhamento das portas, e o “Maio-moço”. A primeira é celebrada no 1º de Maio no Minho, Douro, Beira Alta, entre outros, onde se enfeitam “as portas das casas com ramos de giestas, chamadas Maias (…). O povo dá destes costumes duas explicações (…):
  1. Quando a Virgem foi para o Egipto, deixou pelo caminho muitos ramos de giesta para não se enganar na volta;
  2. Quando Jesus Cristo nasceu, os Judeus procuraram-no para o matarem, e, como soubessem que ele estava em certa casa, colocaram-lhe à porta um ramo de giesta, a fim de no dia seguinte o prenderem. Nesse dia porém, todas as casas da povoação apareceram marcadas, e os Judeus não puderam dar com ele [3].

Com o advento do Cristianismo atribuiu-se a este velho ritual pagão um carácter religioso ligado à Festa da Santa Cruz e, mesmo, ao Corpo de Deus. A lenda, alusiva a esta tradição, que com mais frequência se ouve no Alto Minho, reza assim: Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto [2].

Daí terá vindo essa tradição de colocar ramos e giestas (ou conjuntamente com outras flores, coroas), nas portas e janelas das casas, na véspera do 1º de Maio. De registar, ainda, que no Alto Minho este costume se estende aos carros de bois, aos automóveis, aos tractores, etc. Em certas localidades, coloca-se o raminho de giesta porque... o Maio é tolo! Noutras, os rapazes que estão para casar, metem por baixo das portas das casas das moças "de bom comportamento" (sem disso elas se aperceberem) uma "maia de rosas" [2].


Bibliografia:
[1] Falcão do Minho, 2006. Tradição das Maias. Site disponível: Jornal Falcão do Minho; URL: http://www.falcaodominho.pt/jornal/fm_news.php?nid=38.
[2] RTAM, 2004. Os Maios… As Maias. Site Disponível: RTAM – Região de Turismo do Alto Minho; URL: http://www.rtam.pt/index.php?id_categoria=3&id_item=410
[3] Vasconcelos, José Leite de, 1938. OPÚSCULOS Volume V – Etnologia (Parte I). Imprensa Nacional, Lisboa.

DAQUI

outras fotografias aqui: maias e maios ... 1 de Maio

 

sábado, 23 de abril de 2011

Os Farricocos




Fotografia de Jorge Barros


Quinta-Feira Santa a Procissão do Senhor Ecce Homo, popularmente designada por Procissão do Senhor da Cana Verde, a lembrar as palavras proferidas por Pôncio Pilatos aos Judeus: «Eis o homem», quando lhes mostrou Jesus Cristo coroado de espinhos, com uma cana verde nas mãos a servir-lhe de ceptro. Nesta procissão incorporam-se, obrigatoriamente, todos os irmãos da Irmandade da Misericórdia.

À frente, descalços e encapuçados, caminham os «farricocos», vestidos com túnicas negras até meio da perna (os «balandraus»), uma corda atada à cintura, outra a cingir-lhes a testa e a cabeça, sobre uma espécie de capuz com dois buracos para os olhos.
Chamados igualmente «os homens dos fogaréus», transportam um cabo de madeira, altíssimo, na ponta do qual balança uma bacia de cobre contendo pinhas a arder em chama viva. São acompanhados por outros «farricocos» com cestas cheias de pinhas destinadas a alimentar os fogaréus.
Em tempos recuados competia aos «farricocos» a tarefa incómoda de «lançar as pulhas», ou seja, de divulgar ou caluniar publicamente os mais íntimos segredos de cada família, a coberto da escuridão e do disfarce, atingindo, indistintamente, quem calhava. Outras vezes, após a procissão, espalhavam-se pelas ruas, noite dentro, causando medo a quem com eles se cruzava.
Havia também os «farricocos» que se limitavam a fazer soar as «matráculas», após o silenciamento dos sinos, na intenção de chamar os fiéis ao culto ou a lembrar-lhes a confissão e a penitência – tal como se faz ainda hoje em Braga e noutras localidades durante o dia de Quinta-Feira Santa.
Na sua origem pagã, estes homens tinham por missão anunciar às pessoas, pelas ruas, utilizando as «matráculas», a passagem dos condenados, relatando os crimes por eles cometidos. Posteriormente cristianizados, os «farricocos», associados depois ao relato das «pulhas», limitam-se, actualmente, a tocar as «matráculas», mantendo a tradição litúrgica, e a fazer parte dos cortejos processionais desta quadra.


Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.