terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cais do Sodré




Desembarque dos passageiros das canoas cacilheiras no Cais do Sodré
 [Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]


Ermida da Memória, Cabo Espichel




 
Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014



A segunda tradição do culto de Nossa Senhora do Cabo é transmitida por Frei Agostinho de Santa Maria, no Santuário Mariano. "Outros affirmarão que a Senhora apparecera na praya que lhe fica em baixo da mesma penha, aonde se aedifcou a Ermidinha, e que apparecera sobre uma jumentinha, e que esta suba pela rocha assima, e que ao subir hia firmando as mãos, e os pés na mesma rocha, deixando impressos nella os vestígios das mãos, e pés; e que de ser isto assim o affirmava a tradição dos que virão estes mesmo sinaes, que já hoje tem gastado, e consumido o tempo. E como a Deos lhe não he impossivel obrar mayores maravilhas, bem podemos crer obraria esta, para que assim fosse por ella buscada, evenerada aquella Santissima Imagem. Aquella Ermidinha que se fundo no lugar aonde a Senhora parou, naquella liteirinha vivente que a levava, desfez muytas vezes o tempo; mas a devoçam dos que a servem, a reformou outras tantas vezes, pezar dos seus rigores".   DAQUI
 


Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014





quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Linho


30 de Dezembro

A vida é tecida como o linho: um fio de dor, um fio de ternura. Eu intrometo-lhe sempre um fio de sonho. Foi o que me perdeu.


Raul Brandão, Húmus



fotografia de Artur Pastor
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



fotografia de Artur Pastor
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



Um fio de água que reluz prende-me horas e transforma as pedras.


Raul Brandão, Húmus

Castelo de São Jorge - Março de 1996



Helena Nilo | 1996



Helena Nilo | 1996



Helena Nilo | 1996

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Eugénio de Andrade - Véspera da Água





Tudo lhe doía
de tanto que lhes queria:

a terra
e o seu muro de tristeza,

um rumor adolescente,
não de vespas
mas de tílias,

a respiração do trigo,

o fogo reunido na cintura,

um beijo aberto na sombra,

tudo lhe doía:

a frágil e doce e mansa
masculina água dos olhos,

o carmim entornado nos espelhos,

os lábios,
instrumentos da alegria,

de tanto que lhes queria:

os dulcíssimos melancólicos
magníficos animais amedrontados,

um verão difícil
em altos leitos de areia,

a haste delicada de um suspiro,

o comércio dos dedos em ruína,

a harpa inacabada
da ternura,

um pulso claramente pensativo,

lhe doía:

na véspera de ser homem,
na véspera de ser água,
o tempo ardido,

rouxinol estrangulado,

meu amor: amora branca,

o rio
inclinado
para as aves,

a nudez partilhada, os jogos matinais,
ou se preferem: nupciais,

o silêncio torrencial,

a reverência dos mastros,
no intervalo das espadas

uma criança corre
corre na colina

atrás do vento,

de tanto que lhes queria,
tudo tudo lhe doía.


IN: Obscuro Domínio, 1971

RAQUEL ROQUE GAMEIRO - A MULHER RURAL DEVE SER AMIGA DA ÁGUA




Raquel Roque Garmeiro (1889-1970)
Ver também Aqui e Aqui