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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
sábado, 12 de janeiro de 2019
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Raul Brandão - Os Pescadores
Atravesso
Portimão de olhos postos no castelo de Arade, onde o velho poeta sonha
com O Fausto, e talvez como ele em recomeçar a vida. A luz é cada vez
mais viva. Um homem com dois cabazes apregoa na rua: é um tipo seco e
tisnado de mouro, de camisola azul e perna nua. Passa uma carrinha
guizalhando, e logo atrás outro burro com bilhas de água fresca. É
extraordinário o que este pobre jerico inocente e peludo, de olhos
límpidos, trabalha no Algarve. É ele que leva a fruta ao mercado e tira a
água das noras. Lavra as terras calcinadas, transporta pelas estradas
solheirentas, adornado com cordões vermelhos, quase uma família a dorso.
Vai às Caídas buscar as grandes bilhas vermelhas que transpiram, mata a
sede da gente e a sede da terra – e não sei se embala os berços...
Produz muito e contenta-se com pouco.
In: Raul Brandão, Os Pescadores, ed. Vítor Pena Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Lisboa, Relógio D'Água, 2014, p.181
In: Raul Brandão, Os Pescadores, ed. Vítor Pena Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Lisboa, Relógio D'Água, 2014, p.181
![]() |
Fotografia de Manuel Mendonça Retirada daqui: http://portimaoruaarua.blogspot.com/ |
quinta-feira, 14 de setembro de 2017
sábado, 29 de abril de 2017
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Sebastião da Gama - O Cais
Já o cais não é de pedra,...
de tanto sentir o Mar.
Já não é, a pedra, lisa:
já ganha forma de velas
pandas de vento e de orgulho;
já deixou de ser branquinha
p'ra ser azul como as águas.
Já o cordame, que sonha
noite e dia sobre o cais,
o tem o sonho mudado
em algas prenhes de iodo.
Degraus de pedra se animam
e pelas ondas se atrevem
-botes sem mestre, perdidos,
sem outro leme que o gosto
de ir pelas ondas adentro.
Marujos que o nunca foram,
assentadinhos no cais
desde a hora de nascer,
quem foi que disse que tinham
raízes naquelas pedras?
- Já lhes despontam nas costas,
já por ares e mares os levam,
asas leves de gaivota.
Cada traineira que passa
convida o cais a sair.
Já o cais não é de pedra.
O sal moldou-lhe uma quilha,
as ondas o encurvaram,
os limos o arrastaram
p'ra lá de todo o limite,
e o cais cedeu ao convite
de ser um barco sem mestre.
Lá vai perdido nas ondas
e não lhe importa a chegada.
Deitou a bússola ao Mar.
Fez uma estaca do leme,
que atesta o sítio em que foi.
Voltou as costas à terra
e o seu destino cumpriu-se,
que era partir e mais nada.
Sebastião da Gama, Pelo Campo Aberto, Edições Arrábida
de tanto sentir o Mar.
Já não é, a pedra, lisa:
já ganha forma de velas
pandas de vento e de orgulho;
já deixou de ser branquinha
p'ra ser azul como as águas.
Já o cordame, que sonha
noite e dia sobre o cais,
o tem o sonho mudado
em algas prenhes de iodo.
Degraus de pedra se animam
e pelas ondas se atrevem
-botes sem mestre, perdidos,
sem outro leme que o gosto
de ir pelas ondas adentro.
Marujos que o nunca foram,
assentadinhos no cais
desde a hora de nascer,
quem foi que disse que tinham
raízes naquelas pedras?
- Já lhes despontam nas costas,
já por ares e mares os levam,
asas leves de gaivota.
Cada traineira que passa
convida o cais a sair.
Já o cais não é de pedra.
O sal moldou-lhe uma quilha,
as ondas o encurvaram,
os limos o arrastaram
p'ra lá de todo o limite,
e o cais cedeu ao convite
de ser um barco sem mestre.
Lá vai perdido nas ondas
e não lhe importa a chegada.
Deitou a bússola ao Mar.
Fez uma estaca do leme,
que atesta o sítio em que foi.
Voltou as costas à terra
e o seu destino cumpriu-se,
que era partir e mais nada.
Sebastião da Gama, Pelo Campo Aberto, Edições Arrábida
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