NABIA
«Para Blanca María Prósper (2002: 194), Nabia significa “o vale”. Diríamos que nos parece mais adequado fazer de Nabia “a (senhora) do vale” ou “a que mora no vale”. Ora, pensando que o renascer da Primavera era fenómeno que não podia deixar de surpreender e de ser objecto de uma explicação mítica, e, por outro lado, que é nos vales que o renascimento primeiro ocorre, não corresponderá Nabia à Perséfone grega, a “menina do trigo”? Sob uma forma ou outra, e com diferentes nomes, semelhante deusa encontra-se em muitas religiões indo-europeias: é a Prosérpina romana, talvez a Nantosvelta da Gália.
Nantosvelta significará “o vale que o sol aquece” ou “a que faz florir o vale” (OLMSTED, 1994: 42). Se aceitarmos esta etimologia, teremos nesta deusa correspondência com Nabia. Mas, porque as correspondências raramente serão exactas, a deusa Nabia não parece ter par masculino, enquanto Nantosvelta, na Gália, acompanha Sucellus. Este deus, que se representa com um martelo na mão e acompanhado por um cão, seria um deus da região subterrânea (OLMSTED, 1994: 42 e 300-302). Não podemos deixar de pensar no Tongus Nabiacus da Fonte do Ídolo (Braga), tanto mais que, aqui, o que parece ser um busto do deus se apresenta, como vimos, numa edícula em cujo frontão se representam um martelo e uma pomba.
Os símbolos, porém, são polissémicos. Não podemos, sem reservas, sustentar que o martelo, que acompanha Plutão e Vulcano, identifica Tongus com uma divindade subterrânea. Mais parece, como vimos atrás, que Tongus será um deus (ou génio) das fontes.
Quanto ao epíteto Nabiacus, tanto podemos considerá-lo derivado do nome comum nabia, “o vale” (e neste caso Tongus Nabiacus seria o “Tongus do vale”), como ver no epíteto uma alusão à deusa Nabia (caso em que Tongus Nabiacus seria “o Tongus de Nabia”, com o sentido de “acompanhante de Nabia”)»
IN: JORGE DE ALARCÃO, "A religião de lusitanos e calaicos", Conimbriga, 48 (2009) 81-121 AQUI