sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Al Mutamid Ibn Abbad - Evocação de Silves








Saúda, por mim, Abu Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava...
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.

sábado, 18 de agosto de 2018

Miguel Torga - Sagres








Sagres

Vinha de longe o mar...
Vinha de longe, dos confins do medo...
Mas vinha azul e brando, a murmurar
Aos ouvidos da terra um cósmico segredo.

E a terra ouvia, de perfil agudo,
A confidencial revelação
Que iluminava tudo
Que fora bruma na imaginação.

Era o resto do mundo que faltava
(Porque faltava mundo!).
E o agudo perfil mais se aguçava,
E o mar jurava cada vez mais fundo.

Sagres sagrou então a descoberta
Por descobrir:
As duas margens de certeza incerta
Teriam de se unir!

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Gastão Cruz - Nas Muralhas do Mar



Qual dentre as primeiras do
dia é a imagem
da gruta onde a voz
se repercute o
tema do extenso poema
falhado tal o autor o dizia
ansiosamente prostrado
na adoração da morte Do seu

corpo esgotado
pela algidez das águas não sobrava
nenhum tempo vivido entre
as muralhas gerais dessas
cidades Assim
como uma vaga suicida
marcado pela água o corpo à gruta
tal a voz à imagem refluia.

Gastão Cruz, O pianista, Porto: Limiar, 1984

quarta-feira, 15 de agosto de 2018




«Postal ilustrado, colorido, dirigido a Cassiano Branco por sua filha Maria Elisa Branco, representando o castelo de S. João do Arade, em Ferragudo, no Algarve.» 22.06.1965
© Arquivo Fotográfico Municipal De Lisboa



«Postal ilustrado, colorido, dirigido a Cassiano Branco por sua filha Maria Elisa Branco, representando o castelo de S. João do Arade, em Ferragudo, no Algarve.» 22.06.1965
© Arquivo Fotográfico Municipal De Lisboa


«Postal ilustrado, colorido, dirigido a Cassiano Branco por sua filha Maria Elisa Branco, representando o castelo de S. João do Arade, em Ferragudo, no Algarve.» 22.06.1965
© Arquivo Fotográfico Municipal De Lisboa

Zona do Sapal e Largo do Dique, na fotografia mais antiga de Portimão que se conhece





Zona do Sapal e Largo do Dique, na fotografia mais antiga de Portimão que se conhece
(foto da colecção de Manuel Mendonça) Retirada daqui:
https://portimaoruaarua.blogspot.com/search?q=arade

Raul Brandão - Os Pescadores



Atravesso Portimão de olhos postos no castelo de Arade, onde o velho poeta sonha com O Fausto, e talvez como ele em recomeçar a vida. A luz é cada vez mais viva. Um homem com dois cabazes apregoa na rua: é um tipo seco e tisnado de mouro, de camisola azul e perna nua. Passa uma carrinha guizalhando, e logo atrás outro burro com bilhas de água fresca. É extraordinário o que este pobre jerico inocente e peludo, de olhos límpidos, trabalha no Algarve. É ele que leva a fruta ao mercado e tira a água das noras. Lavra as terras calcinadas, transporta pelas estradas solheirentas, adornado com cordões vermelhos, quase uma família a dorso. Vai às Caídas buscar as grandes bilhas vermelhas que transpiram, mata a sede da gente e a sede da terra – e não sei se embala os berços... Produz muito e contenta-se com pouco.

In: Raul Brandão, Os Pescadores, ed. Vítor Pena Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Lisboa, Relógio D'Água, 2014, p.181



Fotografia de Manuel Mendonça
Retirada daqui: http://portimaoruaarua.blogspot.com/

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

GASTÃO CRUZ - VAGAS







Imagens que passais pela retina
dos meus olhos por que vos fixais?
Acumuladas como sucessivas
vagas cativas sob o céu das praias

vós encheis ao morrer a minha vida
presente onde já nada vos chamava
porque a vida suprime-vos e cria
sucessivas imagens das imagens

Este céu que revela as ondas frias
sob a sua cratera separando-se
exaustas

como as folhas do livro da linguagem
no passado presente cresce oscila
e reconduz aos olhos as imagens

Gastão Cruz, 'Campânula', Lisboa, & etc. 1978.

imagem © Arquivos RTP
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/casimiro-de-brito-e-gastao-cruz/#sthash.dIubIJs0.dpbs

 

Do facebook de Luis Manuel  Gaspar - Aqui

quinta-feira, 2 de agosto de 2018




Jorge Calado, À Prova de Água. Waterproof, 2018



Jorge Calado, À Prova de Água. Waterproof, 2018


As provas estendem-se de 1843 a 1997 e dividem-se em 17 secções temáticas:
«Há ‘Os Estados da Água’, que inclui tudo – neve, gelo, glaciares, geada, granizo, chuva, orvalho, géisers, nuvens, vapor, nevoeiro. A outra secção chamei ‘Os Caminhos da Água’, com a nascente, o rio, a queda de água, o lago, o pântano, o mar, o oceano. Depois seguem-se ‘Oceanos e Ondas’ e a ‘Antárctida’, que é uma das partes mais bonitas, com peças históricas das expedições do Scott e do Shackleton (com quatro fotografias do álbum que Frank Harley ofereceu ao Shackleton, com inscrições manuscritas), e também obras contemporâneas. Há outra secção que se chama ‘Na Praia’, outra sobre ‘A Natação’, com a piscina, saltos, nadadores, fotografia submarina; outra ainda, ‘Lavagens’, os banhos, duches, baptismos – a lavagem no sentido espiritual; outras sobre vela e remo, a pesca e os peixes, e ‘As Cidades Aquáticas’, só com grandes panorâmicas do séc. XIX e XX. E ainda, ‘Água Urbana’ (fontes, lagos, bocas de incêndio, poços, engenharia hidráulica), ‘Águas Perigosas’ (inundações, monção, afogamentos, naufrágios, guerra naval, poluição), ‘Água Humana’ (urina, suor e lágrimas) e ‘Água Abstracta’ (gotas, bolhas, cristais, reflexão, refracção, difusão, metáforas).»


Ler artigo AQUI

Rio Douro



Caminho de ferro do Pocinho, um aspecto do rio Douro e a barca de passagem em direcção à Barca D'Alva, 1903

 para a Edite
 
 DAQUI