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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Terras de Bouro - Moimenta - Chã da Nave

 



«A Chã da Nave é um amplo alvéolo aplanado encravado na vertente meridional do maciço do Piorneiro. É verdadeiramente uma planície entre montanhas, tal como significa o seu nome Nave* ou Navia, que é uma corruptela de nava, de origem pré-indoeuropeia. No topo Nordeste da chã, conservam-se duas mamoas, bem perceptíveis na linha de superfície do solo e distantes uma da outra cerca de 50 metros. Estes monumentos megalíticos a que se atribui uma função funerária, apresentam similitudes formais com inúmeros conjuntos dispersos pelas serras do Noroeste e aos quais se atribui uma cronologia situada entre os IV.º e III.º milénios a.C.. »





*Relacionado com a oronímia e deriva de uma raiz proto-indo-europeia, muito espalhada por todo o norte da Península Ibérica, França, Suíça e Itália, que significa um "lugar plano entre montanhas".

Não se deve confundir com o céltico "navia" - que originou hidrónimos como "Nabão", "Navia"  e "Neiva". Embora possa haver uma relação entre "nava"/"nave" e "navia": as "navas" ou "naves" são lugares húmidos, de junção de águas que descem dos cumes dos montes e, por isso, de nascentes de rios

terça-feira, 11 de junho de 2019

JUAN CARLOS OLIVARES PEDREÑO - EL CULTO A NABIA EN HISPANIA Y LAS DIOSAS POLIFUNCIONALES INDOEUROPEAS




Las inscripciones relativas a Nabia en Hispania muestran algunas particularidades que la diferencian del resto de divinidades femeninas. Es la única diosa constatada en toda laamplia región situada al norte del río Duero y se alude a ella con epítetos que indican unatutela sobre núcleos poblados. Además, sus altares votivos han sido descubiertos en diversos contextos: elevaciones montañosas, fuentes o en el interior de castras. Finalmente, la diosaes citada dos veces, una de ellas sin epítetos y la otra con un apelativo, en una misma dedicación. Todos estos datos apuntan que Nabia tenía un carácter polifuncional, como algunas delas principales diosas del ámbito indo-iranio, romano o céltico insular.







sexta-feira, 30 de junho de 2017

NABIA


NABIA

«Para Blanca María Prósper (2002: 194), Nabia significa “o vale”. Diríamos que nos parece mais adequado fazer de Nabia “a (senhora) do vale” ou “a que mora no vale”. Ora, pensando que o renascer da Primavera era fenómeno que não podia deixar de surpreender e de ser objecto de uma explicação mítica, e, por outro lado, que é nos vales que o renascimento primeiro ocorre, não corresponderá Nabia à Perséfone grega, a “menina do trigo”? Sob uma forma ou outra, e com diferentes nomes, semelhante deusa encontra-se em muitas religiões indo-europeias: é a Prosérpina romana, talvez a Nantosvelta da Gália.

Nantosvelta significará “o vale que o sol aquece” ou “a que faz florir o vale” (OLMSTED, 1994: 42). Se aceitarmos esta etimologia, teremos nesta deusa correspondência com Nabia. Mas, porque as correspondências raramente serão exactas, a deusa Nabia não parece ter par masculino, enquanto Nantosvelta, na Gália, acompanha Sucellus. Este deus, que se representa com um martelo na mão e acompanhado por um cão, seria um deus da região subterrânea (OLMSTED, 1994: 42 e 300-302). Não podemos deixar de pensar no Tongus Nabiacus da Fonte do Ídolo (Braga), tanto mais que, aqui, o que parece ser um busto do deus se apresenta, como vimos, numa edícula em cujo frontão se representam um martelo e uma pomba.

Os símbolos, porém, são polissémicos. Não podemos, sem reservas, sustentar que o martelo, que acompanha Plutão e Vulcano, identifica Tongus com uma divindade subterrânea. Mais parece, como vimos atrás, que Tongus será um deus (ou génio) das fontes.

Quanto ao epíteto Nabiacus, tanto podemos considerá-lo derivado do nome comum nabia, “o vale” (e neste caso Tongus Nabiacus seria o “Tongus do vale”), como ver no epíteto uma alusão à deusa Nabia (caso em que Tongus Nabiacus seria “o Tongus de Nabia”, com o sentido de “acompanhante de Nabia”)» 

IN: JORGE DE ALARCÃO, "A religião de lusitanos e calaicos", Conimbriga, 48 (2009) 81-121 AQUI

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Nabia - "Ara de Marecos"




"Ara de Marecos"



Achada na Capela de Nossa Senhora do Desterro, em Marecos, Penafiel, Porto.
Encontra-se no Biblioteca-Museu de Penafiel.  Ver ficha epigráfica aqui*

[...]
«Se a ocupação romana de Santarém se fez sentir entre meados do século II a.c. e o século VI, é natural que o panteão divino se tivesse mesclado de deidades pré-romanas, romanas pagãs e romanas cristãs. Assim se explicaria a semelhança entre cultos pré-cristãos, por exemplo ligados a rios e fontes, e cultos cristãos com capelas, igrejas e mosteiros construídos, na maior parte das vezes, sobre antigos templos, anteriores ao cristianismo.
Nabia ou Navia, deusa aquática adorada na Lusitânia, parece ter sido cultuada a 5 de Abril [?], segundo a inscrição numa ara de Marecos* e surge relacionada com nomes de rios e de localidades próximas de ribeiras e nascentes. São exemplos os rios Nábios, Neiva e mesmo Nabia(13), ou a vila de Nava, na Galiza; Nabais e Nabainhos, na Serra da Estrela; Naves, povoação próxima de Envendos, região de nascentes e barragens; ou o rio Nabão, que deu origem a Nabância, a 2 km do que é hoje Tomar. Em Braga, a milenar Fonte do Ídolo, que secou há bem pouco tempo, tem uma pedra com a inscrição “Tongoe Nabiago” que algumas versões apontam como um juramento a Nabia.»

(13) J. M. Blázquez 1983 294: “El rio Nabia gozó de gran culto, a juzgar por el número de dedicatorias. Nabia es palabra que indica corriente de agua y que aparece con diferentes denominaciones”. 

Lina Maria Soares, "Da Scallabis romana a Sanctaren medieval: espaço, gentes e lendas",
AQUI:  CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ESTUDOS CLÁSSICO, 7, Évora 2008 - Espaços e paisagens: antiguidade clássica e heranças contemporâneas: Vol.3 História, Arqueologia e Arte. Coimbra


******

[...]
«A inscrição de Marecos (Penafiel, Porto), que alude a um sacrifício consagrado a Nabia Corona, “ninfa” (ou divindade protectora) dos Danigi, e a outras divindades, recorda uma cerimónia realizada em 9 de Abril. Ora, não ficando esta data distante da que hoje consideramos a do equinócio da Primavera, poderemos tomar a inscrição de Marecos como argumento a favor da função que atribuímos a Nabia?
Na ara de Marecos, P. Le Roux e A. Tranoy (1974) leram primeiro: O(ptimae) V(irgini) Co(nservatrici), vel Co(rnigera), et Nim(phae) Danigom Nabiae Coronae. Depois, P. Le Roux (1994: 561) sugeriu O(mnia) v(ota) co(nsagro) et nim(bifero) Danigo m(acto) Nabiae Coronae, traduzindo: “Consagro-vos todas estas oferendas e, por Danigo, que dispensa a chuva, sacrifico a Nabia Corona”.
A primeira restituição, “À excelente virgem conservadora (ou cornuda) e ninfa dos Danigos”, parece-nos preferível.
A inscrição começaria pela invocação da divindade, com seus epítetos. Segue-se a indicação dos animais oferecidos: à própria deusa javascript:void(0); Nabia (agora nomeada sem epítetos), a Júpiter, a uma outra divindade [...]urgo e a Ida (ou Lida). Estando atestado o epíteto Idunica ou Idennica com o sentido de “a que gera ou dá à luz” (OLMSTED, 1994: 157), esta divindade a que se oferece um cordeiro seria, talvez, deusa que se invocaria para favorecer o parto dos animais. Na inscrição, os animais oferecidos parecem preceder os teónimos.
Perséfone é por vezes, na Grécia, designada apenas como Korê, “virgem” ou “rapariga”. Não surpreende, pois, que Nabia leve este nome de “virgem” na ara de Marecos.»

Jorge de Alarcão, "A religião de lusitanos e calaicos"
DAQUI: Conimbriga XLVIII (2009) p. 81-121


*****

Para outra interpretação da Ara de Marecos (Nabia: divindade de culto agrário)
Artigo sem autor. Ver aqui: http://revistas.ucm.es/index.php/HIEP/article/viewFile/HIEP9696110381A/30467
Revista - Hispania Epigraphica, volume 6 (2000)

terça-feira, 25 de abril de 2017

NABIA - INSCRIÇÃO RUPESTRE DA LAJE DO ADUFE



«Inscrição rupestre, datada do século II, localizada na cumeada da Lomba da Pedra Aguda, divisória entre os concelhos da Covilhã e do Fundão, abrigada num suave talvegue adjacente ao povoado amuralhado da Quinta da Samaria Gravou-se num afloramento granítico arredondado, provavelmente seccionado para o efeito, aproveitando-se a face quase plana obtida pelo corte, na qual tem uma posição central.




O texto encontra-se rodeado por um profundo e largo sulco, definindo um quadrado de cantos arredondados, dividido por rasgo central que cesura o texto, criando o esquematismo de um livro, e encimado por uma alusão a um frontão rebaixado e mais estreito que a cartela. Julgamos resultar de regravação (e reavivamento) a rudeza do sulco que envolve o texto, possivelmente ensaiada aquando da execução da cissura que o rasgou de alto a baixo, pelo que é provável que originalmente o texto já se encontrasse no interior de uma cartela incisa quadrilateral, talvez subjacente à representação do frontão, esta em jeito de fastigium de altar, pois se por um lado o sulco regravado parece excluí-lo, por outro também aparece claro que este elemento não se adapta ao resultado esperado de esquissar um livro, deduzindo-se, assim, a sua anterioridade. A superfície do espaço epigráfico encontra-se bastante delida e totalmente coberta por líquenes, condições que, aliadas aos danos provocados pela cissura supracitada e por uma depressão aberta no seu canto inferior direito, dificultam grandemente a leitura da inscrição.

Dimensões: 250 x 330 x ?
Campo epigráfico: 62 x 62 [frontão (b x l): 29 x 20]. 



MAT[A]VS MO
GV[L]IN[I L]IBERT
VS++++NESIS (sic)
ARA(m) DE[AE] NABI
AE MV[.]TINA[C]
AE M(erito) L(ibens) F[E]CIT

  - Mantau, liberto de Mogulino, ...ense, fez de boa vontade um altar à deusa Nábia Mu[.]tinaca


O dedicante é liberto de um peregrino, identificando-se ambos com onomástica indígena [da Lusitânia].
A divindade invocada não é desconhecida na região, embora o seja o seu epíteto, apresentando-se o teónimo precedido do qualificativo Dea. A geografia do culto a Nabia inclui os territórios galaico e lusitano, estando, no que a este último respeita, bem afirmado na actual província de Cáceres, com extensão à Beira Baixa, constatação que igualmente poderia reforçar a possibilidade aventada para a indicação de proveniência do dedicante. A interpretação de Nabia como divindade ligada aos vales tem ganhado consistência em função dos argumentos da análise etimológica ao teónimo.»

DAQUI: http://www.uc.pt/fluc/iarq/pdfs/Pdfs_FE/FE_80_2005 
[Armando Redentor, Marcos Daniel Osório, Pedro C. Carvalho, Inscriçao rupestre da laje do adufe (Ferro, Covilha): (Conventus Emeritensis), Ficheiro epigrafico, ISSN 0870-2004, Nº. 80, 2005, págs. 3-8


Laje do Adufe

Imagem publicada aqui:
http://arqueofundao.blogspot.pt/2013/04/castro-de-vale-feitoso-peroviseu.html 
[Publicado por ]


Do autor: José-Vidgal Madruga
Ficha epigráfica:
 - http://eda-bea.es/pub/record_card_1.php?rec=25642
Artigo:
José-Vidal Madruga, "Dedicación a Nabia", 2015-03-03 Aqui: http://www.europeana.eu/portal/pt/record/2058808/UAH__89a183c0c11d6d0ca7830f9d530a3097__artifact__cho.html

Outra Bibliografia:
Redentor, A., Osório, M., Carvalho, P.C., 2006. "Inscrição rupestre da Laje do Adufe: um novo testemunho do culto à deusa Nabia", Eburobriga 4, 51–59