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quarta-feira, 3 de junho de 2020

Rodrigo Banha da Silva - O sítio do Cemitério dos Prazeres (Lisboa): um assentamento romano no espaço rural de Olisipo



RESUMO 

No sítio do actual Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, se descobriu em 1996, e de maneira fortuita, a pré-existência no local de um sítio romano. Apresentam-se agora os escassos dados inéditos relativos ao arqueossítio com o CNS 37436. Relaciona-se, no texto, o sítio de Prazeres com as restantes ocupações do baixo vale da Ribeira da Alcântara, que incluem um eixo viário regional romano importante e a possível existência de um locus sagrado conectado com a deusa Nabia. A panóplia de materiais inclui elementos que cobrem um espectro cronológico entre o séc. II a.C., pelo mais, e o séc. IV-V d.C., pelo menos, e incluem materiais de construção (olaria de construção e mosaico) que atestam a capacidade aquisitiva da comunidade. O local levanta problemáticas pertinentes acerca da antiguidade relativa dos assentamentos rurais dos agri olisiponenses e da forma como esta assume expressão material arqueológica, aspectos essenciais para a construção de uma leitura da dinâmica de ocupação do espaço rural nas etapas iniciais da Época Romana que está, todavia, longe de suficientemente esclarecida


Detalhe da panorâmica de Lisboa de Grabriel Del Barco, c. 1700, com indicação dos sítios romanos conhecidos
 e da ponte Alcântara (Museu Nacional do Azulejo e Cerâmica) 


[...]
... o espaço do Vale de Alcântara era atravessado pela principal via terrestre que comunicava com os espaços ocidentais da Península de Lisboa das áreas de Oeiras, Cascais e sul da Serra de Sintra, densamente povoados ao longo da Época Romana(CARDOSO, 2002). Um dos principais elementos deste itinerário terrestre era, justamente, a ponte de Alcântara, cuja remota origem romana é altamente provável, considerando o próprio topónimo que remete para a sua existência já no período medieval muçulmano. Construída em alvenaria, possuía ainda em 1582, aquando da batalha de Alcântara, 6 arcos, como surge representada em 1662, e os registos de 1727 apontam-lhe 90 metros de comprimento e uma largura de 6,20 metros (SILVA, 1942). Seria depois desmantelada em 1887.

Remontando ao século XIV, a Porta de Santa Catarina da muralha fernandina de Lisboa, genericamente localizável na zona do Chiado lisboeta (Largo das Duas Igrejas), dava acesso ao trajecto desta estrada, então nomeada «caminho da Horta Navia». Este topónimo aparece em documentação manuscrita medieval já desde o séc. XIII (reinados de Afonso II ou III), sob a forma latina «Hortus Navia» (SILVA, 1942: pág. 75), aspecto que já havia chamado a atenção de Leite de Vasconcelos, que supôs a existência na zona da antiga foz da Ribeira de Alcântara de um santuário de origem pré-romana dedicado a Nabia, divindade aquática de cariz profilático (REIS 2017: pág. 256; VASCONCELOS 1988 [1905]: pp. 278-279). 

Na esteira daquele erudito português, Vieira da Silva (SILVA, 1942) e, mais tarde, José d´Encarnação (ENCARNAÇÃO, 1975) e José Cardim Ribeiro (RIBEIRO, 1982-83: pp. 6-8), iriam defender a probabilidade da existência de um espaço sagrado devotado à Deusa Nabia/ Navia nas imediações, possivelmente associado à ocorrência de águas na encosta meridional e ocidental dos Prazeres: ali se encontra ainda hoje o remanescente da «Fonte Santa», local alvo de especial devoção popular documentada desde o séc. XVII, depois transformado num chafariz na centúria de oitocentos. A estrutura hidráulica ainda hoje subsiste, discreta e com lastimável enquadramento, na actual Rua de Possidónio da Silva, artéria degradada que leva o nome de um dos principais arqueólogos portugueses do séc. XIX. 

O sugestivo topónimo de Horta Navia era aplicado a uma vasta parcela de terreno no sopé do pequeno vale encaixado entre a vertente norte das Necessidades e a encosta sul do morro dos Prazeres (este, onde se detectou a ocupação romana), em local hoje sobreposto pelas instalações ferroviárias da gare de Alcântara-Terra.

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Cira Arqueologia, n.º 6, Novembro, 2018

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Chafariz da Fonte Santa




Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, 1939
fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico
O Chafariz da Fonte Santa, com data de construção e arquitecto desconhecidos, localiza-se na rua Possidónio da Silva, entre os bairros da Estrela e de Alcântara, sendo o único chafariz, em Lisboa, com a designação de Fonte Santa. O seu nome deve-se à fama das virtudes medicinais da sua água. Segundo reza a crença popular apareceu há cinco séculos, no cimo da encosta do Vale de Alcântara para os Prazeres, perto de uma mina de água, a imagem de uma Santa.  Foi baptizada pelos populares Fonte Santa, porque os devotos da Santa, esperando a cura milagrosa, ali iam para lavar as feridas, os olhos, e beber água. No final do séc. XVI, o chafariz da Fonte Santa com as duas bicas e dois tanques, integrava a Quinta dos Prazeres, que  foi enfermaria de pestíferos depois da epidemia de 1598. 
A água da mina era sulfatada cálcica, mas, a partir do século XIX, a sua proximidade do cemitério e o seu teor nitratado vedou-a ao consumo público, passando o chafariz a ser alimentado por outra conduta. No local da ermida foi construída a taberna do João da Ermida. O chafariz tornou-se, então, num espaço de encontro dos operários e dos marujos, que aí descansavam depois de se saciarem na dita taberna.
Actualmente, possui apenas um tanque de recepção de águas com a respectiva bica, que surge encimada por um baixo relevo em calcário com as armas da cidade. Da fachada simples, destaca-se o remate invulgar "em quilha", à semelhança de um frontão de igreja setecentista em forma de arco abatido, coroado por uma cruz, cuja peanha evidencia o ano de 1735, data provável da reconstrução que lhe deu o aspecto actual. Do lado direito da fonte existem umas escadas de acesso.
Com base na informação recolhida AQUI e AQUI
Imagens do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico


Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, caravela 1951
fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico



Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, 1939
fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico