Mostrar mensagens com a etiqueta águas-milagrosas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta águas-milagrosas. Mostrar todas as mensagens
quinta-feira, 23 de setembro de 2021
quarta-feira, 3 de junho de 2020
Rodrigo Banha da Silva - O sítio do Cemitério dos Prazeres (Lisboa): um assentamento romano no espaço rural de Olisipo
RESUMO
No sítio do actual Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, se descobriu em 1996, e de maneira
fortuita, a pré-existência no local de um sítio romano. Apresentam-se agora os escassos
dados inéditos relativos ao arqueossítio com o CNS 37436.
Relaciona-se, no texto, o sítio de Prazeres com as restantes ocupações do baixo vale da
Ribeira da Alcântara, que incluem um eixo viário regional romano importante e a possível
existência de um locus sagrado conectado com a deusa Nabia.
A panóplia de materiais inclui elementos que cobrem um espectro cronológico entre o
séc. II a.C., pelo mais, e o séc. IV-V d.C., pelo menos, e incluem materiais de construção
(olaria de construção e mosaico) que atestam a capacidade aquisitiva da comunidade.
O local levanta problemáticas pertinentes acerca da antiguidade relativa dos assentamentos
rurais dos agri olisiponenses e da forma como esta assume expressão material arqueológica,
aspectos essenciais para a construção de uma leitura da dinâmica de ocupação do espaço
rural nas etapas iniciais da Época Romana que está, todavia, longe de suficientemente
esclarecida
![]() |
Detalhe da panorâmica de Lisboa de Grabriel Del Barco, c. 1700, com indicação dos sítios romanos conhecidos e da ponte Alcântara (Museu Nacional do Azulejo e Cerâmica) |
[...]
... o espaço do Vale de Alcântara era atravessado pela principal via terrestre que comunicava com os espaços ocidentais da Península de Lisboa das áreas de Oeiras, Cascais e sul da
Serra de Sintra, densamente povoados ao longo da Época Romana(CARDOSO, 2002). Um
dos principais elementos deste itinerário terrestre era, justamente, a ponte de Alcântara, cuja remota origem romana é altamente provável, considerando o próprio topónimo que remete
para a sua existência já no período medieval muçulmano. Construída em alvenaria, possuía
ainda em 1582, aquando da batalha de Alcântara, 6 arcos, como surge representada em 1662,
e os registos de 1727 apontam-lhe 90 metros de comprimento e uma largura de 6,20 metros
(SILVA, 1942). Seria depois desmantelada em 1887.
Remontando ao século XIV, a Porta de Santa Catarina da muralha fernandina de Lisboa,
genericamente localizável na zona do Chiado lisboeta (Largo das Duas Igrejas), dava acesso ao
trajecto desta estrada, então nomeada «caminho da Horta Navia». Este topónimo aparece em
documentação manuscrita medieval já desde o séc. XIII (reinados de Afonso II ou III), sob a
forma latina «Hortus Navia» (SILVA, 1942: pág. 75), aspecto que já havia chamado a atenção de
Leite de Vasconcelos, que supôs a existência na zona da antiga foz da Ribeira de Alcântara de
um santuário de origem pré-romana dedicado a Nabia, divindade aquática de cariz profilático
(REIS 2017: pág. 256; VASCONCELOS 1988 [1905]: pp. 278-279).
Na esteira daquele erudito português, Vieira da Silva (SILVA, 1942) e, mais tarde, José
d´Encarnação (ENCARNAÇÃO, 1975) e José Cardim Ribeiro (RIBEIRO, 1982-83: pp. 6-8),
iriam defender a probabilidade da existência de um espaço sagrado devotado à Deusa Nabia/
Navia nas imediações, possivelmente associado à ocorrência de águas na encosta meridional e
ocidental dos Prazeres: ali se encontra ainda hoje o remanescente da «Fonte Santa», local alvo
de especial devoção popular documentada desde o séc. XVII, depois transformado num chafariz na centúria de oitocentos. A estrutura hidráulica ainda hoje subsiste, discreta
e com lastimável enquadramento, na actual Rua de Possidónio da Silva, artéria degradada que
leva o nome de um dos principais arqueólogos portugueses do séc. XIX.
O sugestivo topónimo de Horta Navia era aplicado a uma vasta parcela de terreno no sopé
do pequeno vale encaixado entre a vertente norte das Necessidades e a encosta sul do morro
dos Prazeres (este, onde se detectou a ocupação romana), em local hoje sobreposto pelas
instalações ferroviárias da gare de Alcântara-Terra.
[...]
![]() |
Cira Arqueologia, n.º 6, Novembro, 2018 |
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Chafariz da Fonte Santa
![]() |
Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, 1939 fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
O Chafariz da Fonte Santa, com data de construção e arquitecto desconhecidos, localiza-se na rua Possidónio da Silva, entre os bairros da Estrela e de Alcântara, sendo o único chafariz, em Lisboa, com a designação de Fonte Santa. O seu
nome deve-se à fama das virtudes medicinais da sua água. Segundo reza a
crença popular apareceu há cinco séculos, no cimo da encosta do Vale de
Alcântara para os Prazeres, perto de uma mina de água, a imagem de uma
Santa. Foi baptizada pelos
populares Fonte Santa, porque os devotos da Santa, esperando a cura milagrosa, ali iam para lavar as
feridas, os olhos, e beber água. No final do séc. XVI, o chafariz da Fonte Santa com as duas bicas e dois tanques,
integrava a Quinta dos Prazeres, que foi enfermaria de pestíferos depois
da epidemia de 1598.
A água da mina
era sulfatada cálcica, mas, a partir do século XIX, a sua proximidade do cemitério e o seu teor
nitratado vedou-a ao consumo público, passando o chafariz a ser
alimentado por outra conduta. No local da ermida foi construída a
taberna do João da Ermida. O chafariz tornou-se, então, num espaço de encontro dos
operários e dos marujos, que aí descansavam depois de se saciarem na
dita taberna.
Actualmente, possui apenas um tanque de recepção de águas com a
respectiva bica, que surge encimada por um baixo relevo em calcário com
as armas da cidade. Da fachada simples, destaca-se o remate invulgar "em
quilha", à semelhança de um frontão de igreja setecentista em forma de arco abatido,
coroado por uma cruz, cuja peanha evidencia o ano de 1735, data
provável da reconstrução que lhe deu o aspecto actual. Do lado direito da fonte existem umas escadas de acesso.
![]() |
Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, caravela 1951 fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
![]() |
Eduardo Portugal, Chafariz da Fonte Santa, 1939 fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Subscrever:
Mensagens (Atom)