Havia trez rios irmãos, o Tejo, o Guadiana e o Douro, que combinaram deitar-se a dormir, dizendo que o que primeiro acordasse partisse para o mar. O Guadiana foi o primeiro que acordou; escolheu lindos sitios e partiu de seu vagar. O Tejo acordou depois, e como queria chegar primeiro ao mar, largou mais depressa, e já as suas margens não são tão bellas como as d’aquelle. O Douro foi o ultimo que acordou, por isso rompeu por montes e valles, sem se importar com a escolha, e eis porque as suas margens são tristes e pedregosas.
(Mondim da Beira, Famalicão, Porto.)
Teófilo Braga, Contos Tradicionaes do Povo Portuguez, Porto: Livraria Universal de Magalhães e Moniz Editores, 1883
«Uma ida ao Porto é sempre uma lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável – claro! » ^ Vitorino Nemésio 6/11
Desde o aparecimento do vinho do Porto até meados do século XX o seu transporte rio abaixo, até Vila Nova de Gaia onde se procede ao seu tratamento, foi garantido por barcos tradicionais conhecidos por Rabelos.
Com a evolução natural das vias de
comunicação e dos transportes terrestres este tipo de ligação entre a
origem do vinho e o local onde é envelhecido, engarrafado e distribuído,
passou a ser garantido por outros meios mais rápidos, fáceis e de maior
capacidade.
Contudo, o registo feito em 1960, a preto-e-branco e com a duração de 33 minutos e 45 segundos,
tem proporcionado às gerações vindouras a possibilidade de desfrutar da
epopeia da descida do rio vivida pelas tripulações dos Rabelos de
então, tendo o mesmo ficado a dever-se a Adriano Nazareth, o qual recorreu a uma equipa de luxo para a sua realização, ou seja:
O texto foi escrito pelos Jornalistas Vasco Hogan Teves e Carlos Rodrigues, a locução off do consagrado Gomes Ferreira, a câmara de captação foi operada por um lendário da RTP, o Artur Moura, a captação e registo de som por um trio de ataque único, ou seja, Jorge Teófilo, Jorge Soromenho e João Castanheira e a soberba sonorização da responsabilidade do grande Albano da Mata Diniz.