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terça-feira, 22 de agosto de 2017
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
ANTÓNIO NOBRE
Na Água quisera com Vocês morar:
Trazer o grande gorro de três cores,
Mestre da lancha Deixem-nos passar!
Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De há tantos tempos, devem já estar
Calafetados pelo breu das Dores,
Como esses pongos em que andais no Mar!
Ó meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail-Irmão do «Senhor de Matosinhos»!
No alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometermos, si o barco fôri intieiro,
Nossa bela à Sinhora dos Aflitos!
António Nobre, Só, Livraria Tavares Martins, 1950
segunda-feira, 21 de março de 2016
António Nobre - Santa Iria
N'um rio virginal d'agoas claras e mansas,
Pequenino baixel, a santa vae boiando...
Pouco e pouco, dilue-se o oiro das suas tranças
E, diluido, ve-se as agoas aloirando.
Circumda-a um resplendor, a luzir esperanças,
Unge-lhe a fronte o luar, avelludado e brando,
E, com a graça etherea e meiga das crianças,
Formosa Iria vae boiando, vae boiando...
Á lua, cantam as aldeãs de Riba-Joia,
E, ao verem-na passar, phantastica barquinha,
Exclamam todas: «Olha um marmore que aboia!»
Ella entra, emfim, no Oceano... E escuta-se, ao luar,
A mãe do pescador, rezando a ladainha
Pelos que andam, Senhor! sobre as agoas do mar...
António Nobre, SÓ, 1982

sábado, 18 de julho de 2015
António Nobre - Ao Mar
(SONETO ANTIGO)
Ó meu amigo Mar, meu companheiroDe infancia! dos meus tempos de collegio,
Quando p'ra vir nadar como um poveiro
Eu gazeava á lição do mestre-regio!
Recordas-te de mim, do Anto trigueiro?
(O contrario seria um sacrilegio)
Lembras-te ainda d'esse marinheiro
De boina e de cachimbo? Ó mar protege-o!
Que tua mão oceanica me ajude,
Leva-me sempre pelo bom caminho,
Não me faltes nas horas de afflicção.
Dá-me talento e paz, dá-me saude,
Que um dia eu possa emfim, poeta velhinho!
Trazer meus netos a beijar-te a mão...

sábado, 23 de fevereiro de 2013
António Nobre - Nasci, num reino d'Oiro e amores
Nasci, num reino d'Oiro e amores
À beira-mar.
Sou neto de Navegadores,
Heróis, Lobos-d'água, Senhores
Da índia, d'Aquém e d'Além-mar!
E o Vento mia! e o Vento mia!
Que irá no Mar!
Que noite! ó minha Irmã Maria
Acende um círio à Virgem Pia,
Pelos que andam no alto Mar...
Ao Mundo vim, em terça-feira
Que noite! ó minha Irmã Maria
Acende um círio à Virgem Pia,
Pelos que andam no alto Mar...
Ao Mundo vim, em terça-feira
Um sino ouvia-se
dobrar!
Vim a subir pela ladeira
E, numa certa terça-feira,
Estive já pra me matar...
Ides gelar, água das fontes
Vim a subir pela ladeira
E, numa certa terça-feira,
Estive já pra me matar...
Ides gelar, água das fontes
Ides gelar!
Águas do rio! Águas dos montes!
Cantigas d'água pelos montes,
Que sois como amas a cantar...
Passam na rua os estudantes
Águas do rio! Águas dos montes!
Cantigas d'água pelos montes,
Que sois como amas a cantar...
Passam na rua os estudantes
A vadrulhar...
Assim como eles era eu dantes!
Meus camaradas! estudantes!
Deixai o Poeta trabalhar.
O Job, coberto de gangrenas,
Assim como eles era eu dantes!
Meus camaradas! estudantes!
Deixai o Poeta trabalhar.
O Job, coberto de gangrenas,
Meu avatar!
Conservo as mesmas tuas penas,
Mais tuas chagas e gangrenas,
Que não me farto de coçar!
E a neve cai, como farinha,
Conservo as mesmas tuas penas,
Mais tuas chagas e gangrenas,
Que não me farto de coçar!
E a neve cai, como farinha,
Lá desse moinho a
moer, no Ar;
Ó bom Moleiro, cautelinha!
Não desperdices a farinha
Que tanto custa a germinar...
Andais, à neve, sem sapatos,
Ó bom Moleiro, cautelinha!
Não desperdices a farinha
Que tanto custa a germinar...
Andais, à neve, sem sapatos,
Vós que não tendes
que calçar!
Corpos ao léu, vesti meus fatos!
Pés nus! levai esses sapatos...
Basta-me um par.
Quando eu morrer, hirto de mágoa,
Corpos ao léu, vesti meus fatos!
Pés nus! levai esses sapatos...
Basta-me um par.
Quando eu morrer, hirto de mágoa,
Deitem-me ao Mar!
Irei indo de frágua em frágua,
Até que, enfim, desfeito em água,
Hei de fazer parte do Mar!
No Pantéon, trágico, o sino
Irei indo de frágua em frágua,
Até que, enfim, desfeito em água,
Hei de fazer parte do Mar!
No Pantéon, trágico, o sino
Dá meia-noite,
devagar:
É o Vítor, outra vez menino,
A compor um alexandrino,
Pelos seus dedos a contar!
Que olhos tristes tem meu vizinho!
É o Vítor, outra vez menino,
A compor um alexandrino,
Pelos seus dedos a contar!
Que olhos tristes tem meu vizinho!
Vê-me a comer e
põe-se a ougar:
Sobe ao meu quarto, bom velhinho!
Que eu dou-te um copo deste vinho
E metade do meu jantar.
Bairro Latino! dorme um pouco,
Sobe ao meu quarto, bom velhinho!
Que eu dou-te um copo deste vinho
E metade do meu jantar.
Bairro Latino! dorme um pouco,
Faze, meu Deus, por
sossegar!
Cala-te, Georges! estás já rouco!
Deixa-me em paz! Cala-te, louco.
Ó boulevard!
Boas almas, vinde ao meu seio!
Cala-te, Georges! estás já rouco!
Deixa-me em paz! Cala-te, louco.
Ó boulevard!
Boas almas, vinde ao meu seio!
Espíritos errantes
no Ar!
Sou médium: evoco-os, noite em meio!
Vós não acreditais, eu sei-o...
Deixá-lo não acreditar.
Se eu vos pudesse dar a vista,
Sou médium: evoco-os, noite em meio!
Vós não acreditais, eu sei-o...
Deixá-lo não acreditar.
Se eu vos pudesse dar a vista,
Ceguinhos que ides
a tactear...
Quando essa sorte me contrista!
Mas ah! mais vale não ter vista
Que um mundo destes ter de olhar...
A Morte, agora, é a minha Ama
Quando essa sorte me contrista!
Mas ah! mais vale não ter vista
Que um mundo destes ter de olhar...
A Morte, agora, é a minha Ama
Que bem que sabe
acalentar!
À noite, quando estou na cama:
"Nana, nana, que a tua Ama
Vem já, não tarda! foi cavar..."
Camões! Ó Poeta do Mar-bravo!
À noite, quando estou na cama:
"Nana, nana, que a tua Ama
Vem já, não tarda! foi cavar..."
Camões! Ó Poeta do Mar-bravo!
Vem-me ajudar...
Tenho o nome do teu escravo:
Em nome dele e do Mar-bravo
Vem-me ajudar!
E o Vento geme! e o Vento geme!
Tenho o nome do teu escravo:
Em nome dele e do Mar-bravo
Vem-me ajudar!
E o Vento geme! e o Vento geme!
Que irá no Mar!
Lobos-d'água, que ides ao leme
Tende cuidado! A lancha treme.
Orçar! orçar!
Meu velho Cão, meu grande amigo,
Lobos-d'água, que ides ao leme
Tende cuidado! A lancha treme.
Orçar! orçar!
Meu velho Cão, meu grande amigo,
Por que me estás
assim a olhar!
Quando eu choro, choras comigo
Meu velho Cão! és meu amigo...
Tu nunca me hás-de abandonar.
Frades do Monte de Crestelo!
Quando eu choro, choras comigo
Meu velho Cão! és meu amigo...
Tu nunca me hás-de abandonar.
Frades do Monte de Crestelo!
Abri-me as portas!
quero entrar...
Cortai-me as barbas e o cabelo,
Vesti-me esse hábito singelo...
Deixai-me entrar!
Moço Lusíada! criança!
Cortai-me as barbas e o cabelo,
Vesti-me esse hábito singelo...
Deixai-me entrar!
Moço Lusíada! criança!
Por que estás
triste, a meditar?
Vês teu país sem esperança
Que todo alui, à semelhança
Dos castelos que ergueste no Ar?
Vês teu país sem esperança
Que todo alui, à semelhança
Dos castelos que ergueste no Ar?
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