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sábado, 18 de setembro de 2021
quinta-feira, 16 de setembro de 2021
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
domingo, 29 de março de 2020
Senhora da Rocha, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Isto já se vai tornando um hábito para mal de todos, especialmente de vocês. Mas este foi a pedido, o que me deixa muito feliz. Cá está ele com muito carinho, Helena Nilo! [Daniel Soares Ferreira - Aqui ]
SENHORA DA ROCHA
Tu não estás como Vitória à proa
Nem abres no extremo do promontório as tuas asas
Nem caminhas descalça nos teus pátios quadrados e caiados
Nem desdobras o teu manto na escultura do vento
Nem ofereces o teu ombro à seta da luz pura
Mas no extremo do promontório
Em tua pequena capela rouca de silêncio
Imóvel, muda inclinas sobre a prece
O teu rosto feito de madeira e pintado como um barco
O reino dos antigos deuses não resgatou a morte
E buscamos um deus que vença connosco a nossa morte
É por isso que tu estás em prece até ao fim do mundo
Pois sabes que nós caminhamos nos cadafalsos do tempo
Tu sabes que para nós existe sempre
O instante em que se quebra a aliança do homem com as coisas
Os deuses de mármore afundam-se no mar
Homens e barcos pressentem o naufrágio
E por isso não caminhas cá fora com o vento
No grande espaço liso da luz branca
Nem habitas no centro da exaltação marinha
O antigo círculo dos deuses deslumbrados
Mas rodeada pela cal dos pátios e dos muros
Assaltada pelo clamor do mar e a veemência do vento
Inclinas o teu rosto
Imóvel muda atenta como antena.
Sophia de Mello Breyner Andresen , Geografia, 1962
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
Jorge de Sena - Sinais de fogo
![]() |
Fernando Lemos, Jorge de Sena, 1949 |
« Mas, quando já descia uma das azinhagas, e passava a rua do fundo, em que as casas me mostraram a sua realidade de estarem assentes no chão, em face do muro de suporte do largo, tive de parar para escrever mais:
Nas vastas águas que as remadas medem,
tranquila a noite está adormecida.
Desliza o barco, sem que se conheça
que o espaço ou tempo existe noutra vida,
— após estes versos, houve no meu espírito um vazio total. Seguidamente escrevi:
ou nesta, em que da noite o respirar
é um sussurro de águas contra o casco
é um sussurro de águas contra o casco
— linhas estas que me repugnaram instintivamente, e risquei, para continuar assim:
em que os barcos naufragam, e nas praias
há cascos arruinados que apodrecem,
a desfazer-se ao sol, ao vento, à chuva,
e cujos nomes se não vêem já.
há cascos arruinados que apodrecem,
a desfazer-se ao sol, ao vento, à chuva,
e cujos nomes se não vêem já.
Faltava um final. O que poderia ser? O paralelo entre o nome que as intempéries apagaram, e o que a noite não deixa ver. Tal, porém, como acontecera no poema anterior, o final era uma coisa separada, ainda que continuação do mesmo discurso, da mesma ideia condutora. Comecei a escrever — «Tal como à noite... » — e novamente risquei. O final que escrevi não me satisfez, pareceu-me mais restrito que o que estava antes:
Ao que singrando vai, a noite esconde o nome. »
sexta-feira, 3 de maio de 2019
Inês Dias - RUA DOS CAVALEIROS DA ESPORA DOURADA
Para a Ginja
Imagino-os sempre
de olhos cegos,
de quem correu o mar
e aprendeu outra cor
para o mesmo sangue
– gridelém.
Não se apressam.
O coração mais fielmente negro
parou entretanto de bater,
deixando-lhes o peso
do seu embalo nas mãos vazias;
e trazem colada ao corpo
a cal da memória
– raparigas com cabelo de linho,
olhos de esmalte.
Chamam cada onda
pelo seu nome,
agora que todas elas são cinza
de lume familiar.
Tornaram-se veladores,
guiados pelo desatar invisível
da água nessa longa noite
– mortos ainda à procura
do calor de um gato.
Inês Dias
in AA.VV., Sete, volta d' mar, 2018
quarta-feira, 3 de abril de 2019
segunda-feira, 19 de novembro de 2018
o mar, o mar... para a Lenita, o mar! : )
praia da Rocha ao fundo, vista do Vau.
parámos aqui tantas vezes... e, noutras tantas, fizemos, à beira-mar, o caminho que as ligava...
— cristina, vem! olha que a maré já sobe!
-— vou já, vou já...
do tempo em que - até prò ano! - era uma eternidade
![]() |
do Vau à Rocha fotografia de/para Helena Nilo |
para a Lenita, que faria anos hoje
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
ANTÓNIO MARIA LISBOA - ISSO ONTEM ÚNICO
(…)
RAOMOMAR
amor confuso, amor repetido, amor esotérico, amor mágico
– MAR
mar perdido de conchas no meio do mar
mar de marés justapostas de amor num mar de marfim
perdido no teu joelho de marfim.
mar de bosques que anuncia ao estrangeiro terra perfumada
oceano no teu oceano de olhar
Isís a mulher de Osíris – a realidade misturada.
no MAR.
mar que te apontei do alto da torre coberta pelo nevoeiro
pelo avião que atravessa o espaço
pelo incêndio que percorre o mundo num autocarro
pelo soerguer do teu corpo semi-quente na madrugada
mar azul-vermelho queimado de arestas
mar de dedos frios, de velas sibilinas na noite de cristal
mar de sonâmbulos esquecidos a medir o espaço com fitas de estrelas
mar de passageiros estranhos e abismados
mar de casas altíssimas onde habitam as cidades
MAR para que não me chegam os olhos
mar branco de nuvens sobrepostas para lhe podermos passar por cima
mar de esquecimento, de objectos sensíveis e distintos
mar onde guardei o aquário azul que trouxe até hoje na memória
e só hoje te espalho para o mundo MAR
onde é possível e provável o envenenamento total da espécie onde
descanso a minha mão esquerda sobre uma pantera negra e todos os
dias mergulho em fogo
descanso a minha mão esquerda sobre uma pantera negra e todos os
dias mergulho em fogo
Amor sem nexo, amor contínuo, amor disperso – MAR
mar com uma bala direita no cérebro
mar sem apoio em nenhum ponto do espaço, mas preso apesar de tudo
numa enorme teia diabolicamente construída para conseguir ser
livre
numa enorme teia diabolicamente construída para conseguir ser
livre
mar de submarinos insondáveis que navegam o infinito do mar
mar espacial de sons, de cores, de imagens, de mil anos passados que
percorremos
percorremos
MAR que flutua no MAR abusivamente medonho
amor esquecido, amor distante, amor insolente
RAOMOMAR
(…)
António Maria Lisboa, Poesia, Biblioteca editores Independentes, Lisboa, pp 90-91
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
António Botto - Poema do Mar
Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.
Chorámos, rimos, cantámos.
Falou-me do seu destino,
Do seu fado...
Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.
O seu hálito perfuma –
E o seu perfume faz mal!
Deserto de águas sem fim...
Ó sepultura da minha raça,
Quando me guardas a mim?...
Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...
Ao longe, o Sol, na agonia,
De roxo as águas tingia.
- Voz do mar misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
Ó voz moribunda e doce
Da minha grande saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...
................................................
E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/joao-villaret-16/
Aos 16m53, João Villaret declama o poema de António Botto
sábado, 18 de agosto de 2018
Miguel Torga - Sagres
Sagres
Vinha de longe o mar...
Vinha de longe, dos confins do medo...
Mas vinha azul e brando, a murmurar
Aos ouvidos da terra um cósmico segredo.
E a terra ouvia, de perfil agudo,
A confidencial revelação
Que iluminava tudo
Que fora bruma na imaginação.
Era o resto do mundo que faltava
(Porque faltava mundo!).
E o agudo perfil mais se aguçava,
E o mar jurava cada vez mais fundo.
Sagres sagrou então a descoberta
Por descobrir:
As duas margens de certeza incerta
Teriam de se unir!
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Gastão Cruz - Nas Muralhas do Mar
Qual dentre as primeiras do
dia é a imagem
da gruta onde a voz
se repercute o
tema do extenso poema
falhado tal o autor o dizia
ansiosamente prostrado
na adoração da morte Do seu
corpo esgotado
pela algidez das águas não sobrava
nenhum tempo vivido entre
as muralhas gerais dessas
cidades Assim
como uma vaga suicida
marcado pela água o corpo à gruta
tal a voz à imagem refluia.
Gastão Cruz, O pianista, Porto: Limiar, 1984
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
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Jorge Calado, À Prova de Água. Waterproof, 2018 |
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Jorge Calado, À Prova de Água. Waterproof, 2018 |
As provas estendem-se de 1843 a 1997 e dividem-se em 17 secções temáticas:
«Há ‘Os Estados da Água’, que inclui tudo – neve, gelo, glaciares, geada, granizo, chuva, orvalho, géisers, nuvens, vapor, nevoeiro. A outra secção chamei ‘Os Caminhos da Água’, com a nascente, o rio, a queda de água, o lago, o pântano, o mar, o oceano. Depois seguem-se ‘Oceanos e Ondas’ e a ‘Antárctida’, que é uma das partes mais bonitas, com peças históricas das expedições do Scott e do Shackleton (com quatro fotografias do álbum que Frank Harley ofereceu ao Shackleton, com inscrições manuscritas), e também obras contemporâneas. Há outra secção que se chama ‘Na Praia’, outra sobre ‘A Natação’, com a piscina, saltos, nadadores, fotografia submarina; outra ainda, ‘Lavagens’, os banhos, duches, baptismos – a lavagem no sentido espiritual; outras sobre vela e remo, a pesca e os peixes, e ‘As Cidades Aquáticas’, só com grandes panorâmicas do séc. XIX e XX. E ainda, ‘Água Urbana’ (fontes, lagos, bocas de incêndio, poços, engenharia hidráulica), ‘Águas Perigosas’ (inundações, monção, afogamentos, naufrágios, guerra naval, poluição), ‘Água Humana’ (urina, suor e lágrimas) e ‘Água Abstracta’ (gotas, bolhas, cristais, reflexão, refracção, difusão, metáforas).»
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terça-feira, 31 de julho de 2018
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