quarta-feira, 12 de setembro de 2018

António Botto - Poema do Mar




Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma –
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim...

Ó sepultura da minha raça,
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe, o Sol, na agonia,
De roxo as águas tingia.

- Voz do mar misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
Ó voz moribunda e doce
Da minha grande saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...

................................................
E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!



https://arquivos.rtp.pt/conteudos/joao-villaret-16/
Aos 16m53, João Villaret declama o poema de António Botto





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