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quinta-feira, 17 de outubro de 2019
sexta-feira, 13 de julho de 2018
quarta-feira, 2 de maio de 2018
Álvaro Laborinho - Barcos sobre o paredão
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Álvaro Laborinho, Barcos no paredão, 1933 Museu Dr. Joaquim Manso |
Fotografia a p/b de uma rua da frente do mar da Nazaré, rua Mouzinho de Albuquerque. No lado esquerdo, na praça Manuel Arriaga, estão duas barcas e um pescador e, à direita, sobre o paredão, barcos de arte xávega, em fila, mais pescadores e rapazes de camisola e barrete. Vê-se ainda um quiosque, parte do casario, e o edifício dos Banhos Quentes.
Ficha de Inventário Aqui
domingo, 25 de março de 2018
Manuel de Freitas - Hotel Praia, Quarto 508
Para a Inês
I
São ruas que vão até ao mar, abruptamente
- ou é o mar que, desde sempre, nelas
encontrou morada? Indiferentes a esta pergunta
ociosa, as mulheres falam de casas, discutem
preços e amarguras, alugam barracas por um dia.
E vestem-se de luto ou de cores tão improváveis
como Deus, enquanto distribuem bênçãos,
pequenos rancores, rios de ouro sobre o peito.
Será talvez um modo atávico de exorcizarem a fome
nas casas que não têm mas alugam, sentadas junto ao mar.
pequenos rancores, rios de ouro sobre o peito.
Será talvez um modo atávico de exorcizarem a fome
nas casas que não têm mas alugam, sentadas junto ao mar.
Não sorriem nunca, por excesso ou falta de razões.
II
Não esperava, trinta anos depois, reconhecer
a Nazaré. Igual a sim mesma, fintou o progresso
no desmando da morte e no cheiro seco
dos carapaus jacentes (só um gato preto, sem
jeito para o negócio, foi poupado ao extermínio).
II
Não esperava, trinta anos depois, reconhecer
a Nazaré. Igual a sim mesma, fintou o progresso
no desmando da morte e no cheiro seco
dos carapaus jacentes (só um gato preto, sem
jeito para o negócio, foi poupado ao extermínio).
Diferente é apenas vê-la agora desta varanda,
contigo ao lado, e perceber a alegria que
irmana dos telhados e balcões, sob os farrapos
de uma língua apátrida que nem o amor
nem o mar conseguiriam devidamente pardonner.
contigo ao lado, e perceber a alegria que
irmana dos telhados e balcões, sob os farrapos
de uma língua apátrida que nem o amor
nem o mar conseguiriam devidamente pardonner.
Um homem de fato completo deixou-nos ver a lua.
III
III
Há quem veja na sereia, que um dia se cansou,
razão suficiente para tantas mortes.
E há quem desça sem temor as escadas que vão
do Forte ao rochedo do Guilhim. Nós, menos
confiantes, olhávamos as grutas, escolhíamos pedras.
Conchas com água dentro, recentes pedacinhos de ossos.
IV
IV
E era como se caminhássemos sobre a lua
e o vento de Agosto nos juntasse lado
a lado, quando já não há degraus.
Pedacinhos de Ossos
Manuel de Freitas
Averno, Lisboa, Novembro 2012
segunda-feira, 8 de maio de 2017
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[Álvaro] Laborinho, 'Um dóri no mar', Nazaré, XX d.C. |
«Retrata, no meio do alto mar, um dóri equipado com vários aprestos, entre eles, linhas e foquim. A meio do dóri, sentado no banco da embarcação, o pescador Armando Bizarro Valverde, com boné e roupa de oleado, segura em dois remos, na posição própria de remar, mas olhando para o observador. No verso da reprodução fotográfica, um carimbo, pouco legível, " Fotografia Laborinho/Nazaré/S. Martinho do Porto".»
O pescador representado na fotografia é Armando Bizarro Valverde, que viveu na Rua dos Pescadores, 22, na Nazaré. Ofereceu ao Museu, além desta fotografia, um par de botas para a pesca do bacalhau, que ele próprio utilizou (inv. 658 Etn.), duas pedras de amolar (inv. 662 e 663 Etn.), uma faca de escalar (inv. 659 Etn.), uma espicha (inv. 660 Etn.), uma bóia (inv. 661 Etn.), uma "Medalha comemorativa do esforço dos tripulantes dos navios mercantes durante a guerra de 1939-1945. Reconhecimento da Nação", de 1958 (inv. 35 Med.) e ainda outra fotografia (cf. recibos n.ºs 195 e 196).
DAQUI
quarta-feira, 19 de abril de 2017
terça-feira, 18 de abril de 2017
Inês Dias - JOAQUIM E JUDITE
Para o Manuel,
na Nazaré
Fizera toda a viagem com ele ao colo.
Queria despedir-se junto ao mar,
mas as partidas são tão imperfeitas
demasiado enferrujada para abrir
se o coração é uma caixa de cinzas
ao vento. Mesmo agora, depois de lavada
a última partícula que se lhe colara
à pele, sabia que o amor passara a ter
o peso exacto das ondas e, por isso,
nunca mais deixaria de o ouvir.
E ria, apontando-nos mais um turista
à procura das marcas do milagre
na pedra. Como se não fosse milagre
suficiente cada volta do mar: sermos
ainda reconhecidos, sete passos
dentro da noite, quando andamos
pelo mundo a povoá-lo de fantasmas.
Manuel de Freitas - Forte de São Miguel
in memoriam A. F.
Ainda não enlouqueci e julgo-me até
capaz de reconhecer a beleza, quando a vejo.
Esta noite, por exemplo, era de prata,
sonora, o mar que se erguia na varanda do hotel.
Acordei-te; és agora a única testemunha
deste poema - e da minha vida.
Antes, logo de manhã, coube-nos lançar
ao mar as cinzas do meu pai.
Não foi fácil, tecnicamente falando.
A tampa de metal teimava em não abrir,
tivemos de recorrer a uma ponta de corrimão
das escadas velhas do Forte. E assim,
sem preparo nem rigor, há-de chegar ao oceano
o que sobrou, fisicamente, do meu pai.
Custou-me lavar as mãos, sujas
- pela última vez - da carne que me gerou.
A alma, se existe, não a sei lavar, embora
as lulas estufadas e o vinho branco
voltassem a tornar recomendável a Casa Pires.
Adeus, pai. Acho que foi mesmo
a única vez que me sujaste as mãos.
Manuel de Freitas
segunda-feira, 17 de abril de 2017
Augusto Oliveira Mendes
No mar velhaco e atroz da Praia do Norte
a sereia chegou um dia ao areal
e dormiu -, diziam os mais velhos do Sítio
Aqui, lugar de santa e de suicídios
onde não chegam gaivotas nem sardinhas
as águas viraram-se para sapatear
toda a terra o homem
*****
AO MÁRIO BOTAS
Inalado o cheiro das flores do campo
os gatos,
a morte moribunda, afastada
Poderias estar lá, Mário, nu, obrando
Perto um riacho ferido de espinhos, de mato
Os doces cobertos de seios e pimenta
seriam o repasto no feriado da lota
o desleixo perdido dos homens do mar
As gaivotas teriam partido rio acima
levando os pêlos quebrados da tua face
a noite embriagada
Augusto Oliveira Mendes
publicações o camelo e o cachimbo, Tramagal, 1990
publicações o camelo e o cachimbo, Tramagal, 1990
terça-feira, 20 de setembro de 2016
Álvaro Laborinho - Nazaré
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Álvaro Laborinho, Mar bravo, onda gigante (Nazaré), 1931 Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
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Álvaro Laborinho, Forno d'Orca (lPraia Norte, Nazaré) e Augusto, 1930
Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
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Álvaro Laborinho, José Maria Isaac pescando as enguias (foz do Alcôa), 1907 Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
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Álvaro Laborinho, Mar chegando ao paredão, frente aos chalets (Nazaré) Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
sábado, 7 de maio de 2016
AFONSO LOPES VIEIRA - À SENHORA MARIA LARANJO DA PRAIA DA NAZARÉ
Minha boa Amiga senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
em quem tanto admiro essa fidalguia
de um povo que na Europa o mais fino é,
muito agradecido pelo almoço Real
que aí me deu junto às ondas do mar;
tivera Camões comido um igual,
fazia-lhe versos, mas não a zombar.
Minha boa Amiga, senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
por minha mulher a receberia
(se a minha Amiga quisesse, já se vê)
se acaso a conheço quando era solteiro,
para ser agora, — ventura tamanha —
em vez de pobre doutor, marinheiro,
mendigo do mar, arrais de companha.
Estando da banda dos pobres do mar
já eu não teria, como tenho às vezes,
remorsos tamanhos e tão graves fezes
de ver tantas dores em roda a penar;
assim penaria e acreditaria
como eles, por lindo milagre da fé,
que depois no mar do Paraíso seria
o pescador mais feliz da Nazaré!...
Mas já que eu errei, por destino fatal,
o que era a minha pura, certa vocação,
saiba que em si louvo e admiro Portugal
no que tem de belo — alma e coração.
E saibam as altas senhoras princesas
que há uma fidalga aí na Nazaré
com quem elas podem aprender finezas
e a dar um almoço que tão fino é.
Afonso Lopes Vieira, 'Onde a terra se acaba e o mar começa', Lisboa, Livraria Bertrand, 1940; 2.ª ed., edição de António Manuel Couto Viana, Lisboa, Vega, 1998.
O poema é dedicado à avó materna do pintor Mário Botas.
Laranjo, da praia da Nazaré,
em quem tanto admiro essa fidalguia
de um povo que na Europa o mais fino é,
muito agradecido pelo almoço Real
que aí me deu junto às ondas do mar;
tivera Camões comido um igual,
fazia-lhe versos, mas não a zombar.
Minha boa Amiga, senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
por minha mulher a receberia
(se a minha Amiga quisesse, já se vê)
se acaso a conheço quando era solteiro,
para ser agora, — ventura tamanha —
em vez de pobre doutor, marinheiro,
mendigo do mar, arrais de companha.
Estando da banda dos pobres do mar
já eu não teria, como tenho às vezes,
remorsos tamanhos e tão graves fezes
de ver tantas dores em roda a penar;
assim penaria e acreditaria
como eles, por lindo milagre da fé,
que depois no mar do Paraíso seria
o pescador mais feliz da Nazaré!...
Mas já que eu errei, por destino fatal,
o que era a minha pura, certa vocação,
saiba que em si louvo e admiro Portugal
no que tem de belo — alma e coração.
E saibam as altas senhoras princesas
que há uma fidalga aí na Nazaré
com quem elas podem aprender finezas
e a dar um almoço que tão fino é.
Afonso Lopes Vieira, 'Onde a terra se acaba e o mar começa', Lisboa, Livraria Bertrand, 1940; 2.ª ed., edição de António Manuel Couto Viana, Lisboa, Vega, 1998.
O poema é dedicado à avó materna do pintor Mário Botas.
terça-feira, 5 de maio de 2015
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
ALVES REDOL - [São Brás - Nazaré]
São Brás é um santo pobre. Tão pobre que os pescadores do carapau o consideram seu camarada e o único capaz de os ouvir, embora lá no alto, no monte de São Bartolomeu, que é um mamilo despropositado e quase esquecido no meio do pinhal, quando as outras montanhas figuram para longe. Mas o Santo se não os ouve, vê-os com certeza a arrastarem-se na praia, a medirem-se com o mar nas entradas e saídas, a deitarem-se na areia, abatidos, quase sem ganas de erguer um braço, tão agreste lhes vai a vida nestes tempos ruins. E apieda-se deles, dando-lhes resignação, que é a única coisa que um santo pode oferecer do céu.
[...]
Depois do almoço começam os grupos a derramar-se pela estrada além, apinocados os homens nas camisas coloridas de escocês e as raparigas nos aventais de seda bordados com flores, nas saias rodadas e bem curtas, nos cachinés de ramagens e nas blusas de padrões caprichosos, muitas delas com capas pretas pelos ombros, não porque o tempo esteja incerto, mas por lhes ficarem bem. Como manda a tradição, aparecem os primeiros mascarados a assinalar o começo do Carnaval, pois é preciso folgar quem passa vida tormentosa naquele mar de cruzes, que não perdoa a são nem a doente.
Depois do almoço começam os grupos a derramar-se pela estrada além, apinocados os homens nas camisas coloridas de escocês e as raparigas nos aventais de seda bordados com flores, nas saias rodadas e bem curtas, nos cachinés de ramagens e nas blusas de padrões caprichosos, muitas delas com capas pretas pelos ombros, não porque o tempo esteja incerto, mas por lhes ficarem bem. Como manda a tradição, aparecem os primeiros mascarados a assinalar o começo do Carnaval, pois é preciso folgar quem passa vida tormentosa naquele mar de cruzes, que não perdoa a são nem a doente.
Mascaram-se as costureiras de mulheres da Praia, vestem-se estas com fatos de homens, e os homens de matrafonas, seios grossos de trapos, ancas largas com almofadas, em caricaturas de senhoras que já se não usam, de chapéus floridos e peles ratadas a cingirem-lhes os ombros.
Enfiam todos pelo pinhal, onde se fazem fogueiras pequenas para assar a chouriça do costume, bem regada com vinho que os homens levam nos garrafões pequenos e nas cabaças, pinga dum lado, pinga do outro, e a meio da tarde já tudo dança. Dançam em grandes rodas ao som de pequenas charangas, em rodopios de estarrecer, cá em baixo e no planalto do meio da encosta, onde vendilhões oferecem fiadas de pêros secos, bolos de açúcar e canela, pinhões enfiados ou em medidas. É aqui que os mascarados bailam, num primeiro arremedo de grupos carnavalescos. Rapam de pandeiretas e rodopiam, põem as fiadas de pêros à volta do pescoço, e petiscam e cantam, e petiscam e bailam, enquanto os mais devotos lá amarinham por aquele caminho de cabras, num escadório de madeira apoiada nas rochas velhas e com a ajuda de um corrimão de ferro já velho também.
Alves Redol, 'O Lago das Viúvas', romance inédito, 'A Nazaré na Obra de Alves Redol', SEC/Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, 1980
[ aportou aqui via Luis Manuel Gaspar, obrigada ]
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
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