Fotografia de Jorge Barros |
Quinta-Feira Santa a Procissão do Senhor Ecce Homo, popularmente designada por Procissão do Senhor da Cana Verde, a lembrar as palavras proferidas por Pôncio Pilatos aos Judeus: «Eis o homem», quando lhes mostrou Jesus Cristo coroado de espinhos, com uma cana verde nas mãos a servir-lhe de ceptro. Nesta procissão incorporam-se, obrigatoriamente, todos os irmãos da Irmandade da Misericórdia.
À frente, descalços e encapuçados, caminham os «farricocos», vestidos com túnicas negras até meio da perna (os «balandraus»), uma corda atada à cintura, outra a cingir-lhes a testa e a cabeça, sobre uma espécie de capuz com dois buracos para os olhos.
Chamados igualmente «os homens dos fogaréus», transportam um cabo de madeira, altíssimo, na ponta do qual balança uma bacia de cobre contendo pinhas a arder em chama viva. São acompanhados por outros «farricocos» com cestas cheias de pinhas destinadas a alimentar os fogaréus.
Em tempos recuados competia aos «farricocos» a tarefa incómoda de «lançar as pulhas», ou seja, de divulgar ou caluniar publicamente os mais íntimos segredos de cada família, a coberto da escuridão e do disfarce, atingindo, indistintamente, quem calhava. Outras vezes, após a procissão, espalhavam-se pelas ruas, noite dentro, causando medo a quem com eles se cruzava.
Havia também os «farricocos» que se limitavam a fazer soar as «matráculas», após o silenciamento dos sinos, na intenção de chamar os fiéis ao culto ou a lembrar-lhes a confissão e a penitência – tal como se faz ainda hoje em Braga e noutras localidades durante o dia de Quinta-Feira Santa.
Na sua origem pagã, estes homens tinham por missão anunciar às pessoas, pelas ruas, utilizando as «matráculas», a passagem dos condenados, relatando os crimes por eles cometidos. Posteriormente cristianizados, os «farricocos», associados depois ao relato das «pulhas», limitam-se, actualmente, a tocar as «matráculas», mantendo a tradição litúrgica, e a fazer parte dos cortejos processionais desta quadra.
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.
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