sexta-feira, 4 de maio de 2018

José de Almada Negreiros - Varina




José Almada Negreiros,  'Varina', 1946



Lá na Ribeira Nova
onde nasce Lisboa inteira
na manhã de cada dia
há uma varina
e se não fosse ela
ai não sei
não sei que seria de mim!
Por ela
fiz dois versos a todas as varinas:
E vós varinas que sabeis a sal
e trazeis o mar no vosso avental!
Acho parecidos estes versos
com as varinas de Portugal.

Uma vez falei-lhe
para ouvi-la
e vê-la
ao pé.
A voz saborosa
os olhos de variar
castanhos de variar
castanhos-escuros de variar
com reflexos de variar
desde a rosa
até ao verde
desde o verde
até ao mar.

Num reflexo reflecti:
não dar aquele destino
ao meu destino aqui.

Lisboa, 1926

In: José Almeida Negreiros, Poemas, Assírio & Alvim, Lisboa

Imagem daqui

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