I
À flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razão se perde!
Pútrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, n'um balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.
O seu esboço, na marinha turva…
De pé, flutua, levemente curva,
Ficam-lhe os pés atrás, como voando…
E as ondas lutam como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co'a salsugem.
II
Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina …
— Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor-de-rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrui, compara.
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
— Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira…
Dentinhos que o vaivém desengastara.
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos.
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