«Outra
vez rebuliço — agora é na fonte. Balbúrdia. Algumas são desbocadas, e
aquela no auge da fúria curva‑se e bate palmadasem certo sítio, sobre as
saias — quando não faz pior e o mostra… Então o barulho ensurdece. —
Bateste no meu filho, grande porca! — Arrolada! — diz a outra. Arrolada é
a pior de todas as injúrias… Dois cântaros partidos nas cabeças. A água
inunda‑as e refresca‑as. E tudo volta ao silêncio. Só se ouve cantar
nos tanques e o bater compassado da onda no cais. Aí tornam a passar as
raparigas, com o cântaro à cabeça, a mão na cinta, e um fio húmido a
escorrer‑lhes pela cara, apesar da cortiça que usam à superfície da
água, para não se espalhar o líquido…»
in: Raul Brandão, Os Pescadores, ed. Vítor Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Lisboa, Relógio D'Água, 2014
in: Raul Brandão, Os Pescadores, ed. Vítor Viçoso e Luis Manuel Gaspar, Lisboa, Relógio D'Água, 2014
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