domingo, 6 de novembro de 2011

Eugénio de Andrade - Coração Habitado

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

aos presentes e aos ausentes ...













1 e 2 de Novembro, práticas e costumes

Práticas Alimentares

Autores há que defendem constituírem as duas celebrações do dia 1 e dia 2 uma única festa, expressa e directamente ligada ao culto dos mortos.

Nas festividades de Todos os Santos, de Finados ou dos Fiéis Defuntos - e noutras comemorações de carácter cíclico ou pontual, religiosas ou profanas - vamos encontrar reminiscências de celebrações mágico-propiciatórias, de purificação ou profilácticas praticadas pelos nossos antepassados, representando, por sua vez, também elas resquícios de cultos naturalistas de deuses ou espíritos da vegetação, mais remotos ainda, tendo por objectivo o apaziguamento e a debelação do mal ou a procura da fertilidade e da abundância.

Na aldeia de Benquerença (Castelo Branco), no dia de Todos os Santos, faziam-se as tradicionais «papas de milho» ou de «carolo», comidas neste dia a hora da merenda ou à sobremesa. Manjar cerimonial desta data, as papas oferecem aos amigos ou familiares que apareciam como visita ou a quem passava, ocasionalmente, em casa de cada de cada um.

As papas de milho aparecem também no Alto Alentejo, caso de Arronches (Portalegre), onde lhes juntam passas, nozes e castanhas, e de Castelo de Vide, em que lhes adicionam açúcar e mel, enquanto no Algarve tomam o nome de «xarém».

Em Castelo de Vide o milho destinado às papas tradicionais deste dia era obrigatoriamente moído nas «zagarelhas» (moinhos manuais).

Em Aveiro, em vez de milho, as papas são feitas de abóbora-menina, costume que só neste lugar se verifica, conquanto confeccionadas especialmente para o dia dos Fiéis Defuntos.

No distrito de Bragança (Trás-os-Montes), antigamente, no dia 1 de Novembro os rapazes comiam dois chibos, um deles oferecido pelos próprios rapazes, o outro pelas raparigas.

Também na aldeia de Cidões (mesma região) é tradição antiga, na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro, os habitantes reunirem-se numa refeição conjunta, tendo por prato cerimonial a carne de cabra. Nas mesas improvisadas ao ar livre, além da abundância de vinho, comem-se ainda castanhas e maçãs. Enquanto decorre a ceia, arde perto dos convivas (aldeia em peso) a chama acolhedora do «canhoto», nome dado ali à tradicional «fogueira dos santos».


O Roubo Ritual

Ainda no dia de Todos os Santos, em certas localidades do Norte, continua a verificar-se o hábito de praticar o «roubo ritual», que consiste em furtar objectos diversos (vasos de flores das janelas, cancelas, carro de lavoura e outros utensílios), que são deixados no meio dos caminhos ou colocados no adro das igrejas. A praxe inclui ainda o roubo de animais, que se levam para longe e se abandonam depois presos a uma árvore.
Estas diversões rituais terão origem nas liberdades licenciosas de natureza mágico-propiciatória praticadas em épocas remotas, cujas reminiscências, à semelhança de muitas outras, perduram ainda hoje um pouco por todo o mundo associadas às festividades cíclicas actuais, religiosas e profanas.



Pão por Deus

Como representantes dos mortos, vamos encontrar no dia dos Fiéis Defuntos e até no dia de Todos os Santos, crianças e pobres que pedem de porta em porta o «pão por Deus», isto é, os manjares cerimoniais que lhes são oferecidos nesta data, afirmando o povo que, «por cada bolo por eles comido, há uma alma que se livra do Purgatório». Crianças e adultos representam, assim, as almas dos mortos que «neste dia erram pelo mundo», simbolizando a oferta do pão por Deus a esmola que se dá por intenção dos defuntos ou uma dádiva feita às próprias almas.
Os grupos de crianças que pedem de porta em porta o «pão por Deus» recebem em troca romãs, nozes, figos, pêros, maçãs, pinhões, rebuçados, bolachas, pequenos pãezinhos e também dinheiro, que guardam destinado aos donativos.

Até há alguns anos atrás, tão enraizada entre nós a oferta do repasto e donativos neste dia em favor dos mortos que, em cumprimento dessa crença, nela tomavam parte como delegados dos defuntos as crianças e os adultos não necessitados, chegando, por intenção das almas a ser enviado, em certas localidades o «pão por Deus» a familiares e amigos.

(…)

Em Lamego chamam aos bolos desta quadra «santoros»  ou «santórios», com forma de pães alongados ostentando nas pontas duas saliências imitando chifres – designados popularmente «cornos» (cuja praxe obrigava a que nessa noite fossem colocados debaixo das almofadas das crianças, com sentido de protecção, ritual ainda hoje mantido, embora sem a adesão de outrora).
Na região da Guarda levam a designação de «santórum» e apresentam um formato oval.
Em Coimbra dão-lhe o nome de «bolinhos bolinhós», tomando em Leiria (mesma região)o nome de «merendeiras», ou «bolos santos».
Em Idanha-a-Nova, os bolinhos tomam o nome de «broinhas dos santos». Na Batalha (Beira Litoral) são uma vez mais os «santoros» ou «santorinhos» [destes comi eu - Rebolaria, Batalha] que as crianças, no dia de Todos os Santos, pedem um pouco por todo o concelho.
Em Óbidos as mulheres fazem as «merendeiras» (pequenos pães de milho com açúcar e erva-doce).

No Alentejo são representados por pequenos pães cozidos especialmente para este dia, conhecido ali por «dia dos bolinhos», continuando a juntar-se à dádiva dos bolos maçãs, pêros, passas de uva, figos secos, nozes, pinhões, amêndoas, castanhas, marmelos e romãs.
No Algarve, os bolos tomam a forma de pequenas broas de farinha de milho, mel, erva-doce e azeite. Em Lagos, os «bolinhos» são achatados, levam farinha, açúcar e erva doce e são cozidos no forno sobre folhas de figueira ou couve.

Em São Miguel (Açores) confeccionam-se nesta quadra as «escaldadas» pequenos pães feitos com farinha de milho, leite e açúcar. 

IN: Soledade Martinho Costa e Jorge Barros (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.

2 de Novembro - Dia de finados - Comemoração de Todos os fiéis defuntos





fotografia de Jorge Barros
A caminho do cemitério, Cós, Alcobaça, 2 de Novembro de 1989



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Encontro Inter-Religioso, em Assis

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Assis, Basílica de Santa Maria dos Anjos
Quinta-feira
, 27 de Outubro de 2011

(...)

Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível. Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas. Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito. Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser «peregrinos da verdade, peregrinos da paz».

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

mãos, mãozinhas...


Festa das Flores. 1989



Festa das Flores, Campo Maior, Setembro de 1989
fotografia de Jorge Barros

viola odorata

violetas


São Gonçalo de Lagos



Nasceu em Lagos, no Algarve, um pouco depois de 1370.
Tomou o hábito de Santo Agostinho no convento da Graça, em Lisboa, onde vinha pôr mais a salvo os seus vinte anos de virtude e pureza, quase de anjo, e já vitoriosa de repetidos assaltos. Dedicou-se à pregação em correrias apostólicas e, com o mesmo zelo, a manter a observância regular, quando superior dalguns mosteiros da sua Ordem. Foi o último o de Torres Vedras onde morreu a 15 de Outubro de 1422. Ali ficou o seu jazigo, tomando-o a vila de Torres Vedras por seu padroeiro, depois de beatificado por Pio VI, em 1798. Mas, em Portugal, é-lhe atribuído o culto de santo. Ao que parece, a escolha que fez Torres Vedras do seu padroeiro deve-se à carta que D. João II, encontrando-se no Algarve em 1495, escreveu à Câmara da referida vila, exaltando a memória de Frei Gonçalo e celebrando a felicidade que essa terra possuía conservando o seu milagroso corpo. O mesmo fez a cidade de Lagos, sua terra natal, onde os pescadores mais o invocam e experimentam a sua especial protecção. A sua festa, actualmente, é a 27 de Outubro, mas os Padres Agostinhos celebram-no, em Portugal, a 21 do mesmo mês.


Arco de São Gonçalo
Oratório edificado nos anos 40 para perpetuar a memória do Santo Padroeiro de Lagos que terá nascido em 1360, segundo a tradição, numa casa situada junto das Portas do Mar, no local onde hoje se encontra o seu nicho e imagem. Ainda jovem vai estudar para Lisboa, onde decide entrar na Ordem dos Eremitas de S. Agostinho. Estudou teologia e dedicou-se à catequese e pregação, interessando-se sempre pelo bem-estar das populações e apoiando os pobres. Aí ganhou fama de santo, pelo bem e pelos milagres que fez, quer em vida quer depois de morto. São Gonçalo de Lagos faleceu em Torres Vedras, a 15 de Outubro de 1422. Em 1778 o Papa Pio VI autorizou o culto do “Bem-aventurado” ou Beato, a Frei Gonçalo de Lagos, com honras de Santo em Portugal.
Lagos comemora, a 27 de Outubro, o seu feriado municipal, em honra deste seu ilustre filho e padroeiro.

mãos que trabalham...







Borda D' Água

26 de Outubro, de 2011 - LUA NOVA, 19:56 
* tempo ventoso e aguaceiros

mãos que trabalham




Romaria de Nossa Senhora do Rosário, São Cosme e São Damião ou Festa das Nozes



fotografia de Jorge Barros


Há mais de 300 anos, acontece, em Outubro a mais importante manifestação popular do Concelho, denominada por Romaria de Nossa Senhora do Rosário, São Cosme e São Damião, que decorre na freguesia de Gondomar (S. Cosme). Do ponto de vista profano é também conhecida por “Festa das Nozes”. Esta é a altura em que os gondomarenses lançam às janelas e varandas as melhores colchas e bordados, para participarem na majestosa procissão de Nossa Senhora do Rosário.


fotografia de Jorge Barros


É também nesta altura do ano que aparecem as nozes, possuindo o Concelho de Gondomar uma riqueza natural nas margens do rio Douro que se prestam ao cultivo da nogueira, daí o aparecimento de grandes centros de comercialização de nozes, como são os casos de Melres e Gondomar (S. Cosme).

Também conhecidas no concelho são as festas em honra de S. Bento das Pêras, S. Sebastião, Sto António, S. Cristóvão, Sr. dos Aflitos, N.ª Sra. da Conceição e Sta Luzia, em Rio Tinto; S. Vicente, Stª Isidoro, Nª Srª Mãe dos Homens, Stª António, Nª Srª da Atalaia (Nª Srª dos Remédios), Sr. dos Aflitos, Nª Srª de Fátima, S. Miguel e Almas, S. Cosme e S. Damião e Nª Srª do Rosário, em Gondomar (S. Cosme); S. Brás e Imaculado Coração de Jesus, em Baguim do Monte; S. Gonçalo, Stª Isabel e Nª Srª dos Navegantes, em Covêlo; Nª Srª de Fátima, Stº António, Stª Bárbara, S. Tiago e Divino Salvador, em Fânzeres; Stº Amaro, S. Jorge, Stª Helena, S. João Baptista, Nª Srª Aparecida, Nª Srª da Livração, S. Roque e Stº Ovídio, na Foz do Sousa, Nª Srª do Ó, Santo António, Festa do Senhor e Santa Eufémia, na Lomba; Nª Srª de Canas, Srª da Hora e Divino Salvador, em Medas; Senhor dos Passos, Nª Srª de Fátima, Stª Iria, Domingo do Senhor, Nª Srª da Piedade, Nª Srª da Assunção, S. Bartolomeu e Feira das Nozes, em Melres; S. Pedro e S. Paulo, Festas da Vila e S. Vicente, em S. Pedro da Cova; S. Pedro e Sagrada Família, em Valbom; Srª das Neves e Santa Cruz, em Jovim.

fotografia de Jorge Barros



Gondomar sempre em Festa...  Calendário de Festas e Romarias