quinta-feira, 24 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Maias e Maios -1 de Maio
fotografia de Jorge Barros |
As Maias
Todos
os anos, de 30 de Abril para 1 de Maio é tradição no Minho, Douro e
Beira Alta, que se coloquem à porta ou janelas de casa ramalhetes de
giestas amarelas, também conhecidas por maias por florirem em Maio. Todavia, noutras regiões de Portugal é também celebrado, embora de forma algo diferente [1].
Leite de Vasconcelos [3] refere que a mais “antiga menção desta festa popular,
festa evidentemente naturalística, posto mais ou menos desviada da sua
significação primitiva, já pelo próprio Paganismo, já pelo Cristianismo,
creio que se acha nestas linhas da Postura da câmara de Lisboa de 1385: «Outro sim estabelecemos que daqui em diante em esta Cidade e em seu
termo não se cantem as Janeiras nem Maias, nem outro nenhum mês do
ano.»
É
referido também que as origens desta tradição, de reminiscências pagãs,
encontra-se ligada a ritos de fertilidade, do início da Primavera e do
novo ano agrícola, tal como se afirme que afasta o mau-olhado e as
bruxas de casa [1] [2].
As
Maias propriamente ditas constam de duas partes: o enramalhamento das
portas, e o “Maio-moço”. A primeira é celebrada no 1º de Maio no Minho,
Douro, Beira Alta, entre outros, onde se enfeitam “as portas das casas
com ramos de giestas, chamadas Maias (…). O povo dá destes costumes duas
explicações (…):
- Quando a Virgem foi para o Egipto, deixou pelo caminho muitos ramos de giesta para não se enganar na volta;
- Quando Jesus Cristo nasceu, os Judeus procuraram-no para o matarem, e, como soubessem que ele estava em certa casa, colocaram-lhe à porta um ramo de giesta, a fim de no dia seguinte o prenderem. Nesse dia porém, todas as casas da povoação apareceram marcadas, e os Judeus não puderam dar com ele [3].
Com o advento do Cristianismo atribuiu-se a este velho ritual pagão um carácter religioso ligado à Festa da Santa Cruz e, mesmo, ao Corpo de Deus. A lenda, alusiva a esta tradição, que com mais frequência se ouve no Alto Minho, reza assim: Herodes soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, pernoitaria numa certa aldeia. Para garantir que conseguiria eliminar o Menino, Herodes dispunha-se a mandar matar todas as crianças. Perante a possibilidade de um tão significativo morticínio, foi informado, por um outro "Judas", que tal poderia ser evitado, bastando para isso, que ele próprio colocasse um ramo de giesta florida na casa onde se encontrava a Sagrada Família, constituindo um sinal para que os soldados a procurassem e consumassem o crime... A proposta do "Judas" foi aceite e Herodes tratou de mandar os seus soldados à procura da tal casa. Qual não foi o espanto dos soldados quando, na manhã seguinte, encontraram todas as casas da aldeia com ramos de giesta florida à porta, gorando-se, assim, a possibilidade do Menino Jesus, ser morto [2].
Daí terá vindo essa tradição de colocar ramos e giestas (ou conjuntamente com outras flores, coroas), nas portas e janelas das casas, na véspera do 1º de Maio. De registar, ainda, que no Alto Minho este costume se estende aos carros de bois, aos automóveis, aos tractores, etc. Em certas localidades, coloca-se o raminho de giesta porque... o Maio é tolo! Noutras, os rapazes que estão para casar, metem por baixo das portas das casas das moças "de bom comportamento" (sem disso elas se aperceberem) uma "maia de rosas" [2].
Bibliografia:
[1] Falcão do Minho, 2006. Tradição das Maias. Site disponível: Jornal Falcão do Minho; URL: http://www.falcaodominho.pt/jornal/fm_news.php?nid=38.
[2] RTAM, 2004. Os Maios… As Maias. Site Disponível: RTAM – Região de Turismo do Alto Minho; URL: http://www.rtam.pt/index.php?id_categoria=3&id_item=410.
[3] Vasconcelos, José Leite de, 1938. OPÚSCULOS Volume V – Etnologia (Parte I). Imprensa Nacional, Lisboa.terça-feira, 1 de maio de 2012
Para o Ricardo Martins
são as minhas mãos que tremem até não poder segurar os talheres
sou eu sentado na cama, transido de medo de acordar para viver
sou eu a vomitar de medo como desde os tempos da escola primária
sou eu a driblar o futuro, acabando por sair pela linha lateral
sou eu agora em espasmos, assemelhando-me a um campo de minas
sou eu agarrando-me aos poucos que me disseram alguma coisa
eu tentando não cair, não sabendo como vim parar a esta copa
sou eu com a morte nos olhos que trago dentro dos meus olhos
eu, fidelíssimo traidor, não entendendo porque me achei só
eu a fugir de encontrar-me e sempre na exaustão de me encontrar
eu em cada vivo, em cada morto, em cada esquina da cidade
sou eu não conseguindo adormecer e, adormecendo, não dormindo
sou eu sem saber fugir a uma luxúria que jamais me faz feliz
eu a habitar um corpo doloroso, como semáforo amarelo
eu vendo outra coisa em cada coisa e em tudo palavras de papel
eu carregando o peso do passado sobre um futuro inexorável
eu mais mortal que os mortais e defrontando a imortalidade
sou eu com a cara e a alma à venda nos escaparates insensíveis
eu pedindo esmola a quem despreza o que lhe posso dar
sou eu rindo-me de mim para evitar chorar por tudo o mais
sou eu irremediavelmente sozinho para toda a eternidade
sou eu sem música de fundo, vendo-me num espelho desbotado
sou eu a fumar como se me defumasse para me poder comer
sou eu silenciando um grito por minuto e escrevendo no mel
eu vestindo toda esta nudez, só para só amar a verdade do amor
e se isto é difícil de entender, dizendo-te outra coisa não seria eu
Miguel Martins
PROIBIDA A ENTRADA A ANIMAIS (EXCEPTO CÃES GUIA), Língua Morta
são as minhas mãos que tremem até não poder segurar os talheres
sou eu sentado na cama, transido de medo de acordar para viver
sou eu a vomitar de medo como desde os tempos da escola primária
sou eu a driblar o futuro, acabando por sair pela linha lateral
sou eu agora em espasmos, assemelhando-me a um campo de minas
sou eu agarrando-me aos poucos que me disseram alguma coisa
eu tentando não cair, não sabendo como vim parar a esta copa
sou eu com a morte nos olhos que trago dentro dos meus olhos
eu, fidelíssimo traidor, não entendendo porque me achei só
eu a fugir de encontrar-me e sempre na exaustão de me encontrar
eu em cada vivo, em cada morto, em cada esquina da cidade
sou eu não conseguindo adormecer e, adormecendo, não dormindo
sou eu sem saber fugir a uma luxúria que jamais me faz feliz
eu a habitar um corpo doloroso, como semáforo amarelo
eu vendo outra coisa em cada coisa e em tudo palavras de papel
eu carregando o peso do passado sobre um futuro inexorável
eu mais mortal que os mortais e defrontando a imortalidade
sou eu com a cara e a alma à venda nos escaparates insensíveis
eu pedindo esmola a quem despreza o que lhe posso dar
sou eu rindo-me de mim para evitar chorar por tudo o mais
sou eu irremediavelmente sozinho para toda a eternidade
sou eu sem música de fundo, vendo-me num espelho desbotado
sou eu a fumar como se me defumasse para me poder comer
sou eu silenciando um grito por minuto e escrevendo no mel
eu vestindo toda esta nudez, só para só amar a verdade do amor
e se isto é difícil de entender, dizendo-te outra coisa não seria eu
Miguel Martins
PROIBIDA A ENTRADA A ANIMAIS (EXCEPTO CÃES GUIA), Língua Morta
O Passeio de Santo António
Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.
Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando…
E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo…
O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.
Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante.
O luar, mais alto, iluminava mais.
De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia… o coração no peito.
Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Ó Frei António, o que foi aquilo?…
O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
- Não sei o que fosse. Eu cá não ouvi nada…
Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho.
- Tu não estás com a cabeça boa…
Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,
Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
…Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!
Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: - Jesus,
São horas…
E abalaram pró convento.
Augusto Gil
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
12-6-1914
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1981, p. 23
sexta-feira, 6 de abril de 2012
sábado, 3 de março de 2012
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
20 de Janeiro - Festa de São Sebastião
"Mesinha de São Sebastião", na freguesia de Couto de Dornelas - Boticas
fotografia de Jorge Barros |
fotografia de Jorge Barros |
fotografia de Jorge Barros |
Sobre a festa, o culto e os usos e costumes, ver:
aqui
aqui
aqui
fotografias de Jorge Barros, in: Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Novembro e Dezembro. Lisboa: Círculo de Leitores.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Fernando Pessoa - Entre o sono e o sonho
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa, Poesias
domingo, 1 de janeiro de 2012
sábado, 31 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Cepo de Natal |
VIII - Num meio-dia de fim de Primavera
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas —
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
«Se é que ele as criou, do que duvido.» —
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
……
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos às cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
……
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
……
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro
Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas —
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
«Se é que ele as criou, do que duvido.» —
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
……
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos às cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
……
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
……
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Alberto Caeiro
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Bucho Raiano – O Melhor Prato do Mundo*
Manuel Leal Freire, distinto escritor natural da Bismula, concelho do Sabugal, tem-se empenhado na defesa da gastronomia tradicional portuguesa, sendo membro de várias confrarias gastronómicas.
A sua primeira confraria é a do Queijo Serra da Estrela, da qual foi fundador e é Grão-Mestre, mas é também presidente do conselho fiscal da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, sendo além disso sócio de honra da Confraria do Bucho Raiano do Sabugal.
Dando nota do valor do bucho raiano, que considera «o melhor prato do mundo», Manuel Leal Freire publicou no nº.19 da revista «Gastronomias» (edição de Junho de 2011), dois sonetos dedicados ao bucho e à sua confraria, que aqui transcrevemos com a devida vénia.
A sua primeira confraria é a do Queijo Serra da Estrela, da qual foi fundador e é Grão-Mestre, mas é também presidente do conselho fiscal da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, sendo além disso sócio de honra da Confraria do Bucho Raiano do Sabugal.
Dando nota do valor do bucho raiano, que considera «o melhor prato do mundo», Manuel Leal Freire publicou no nº.19 da revista «Gastronomias» (edição de Junho de 2011), dois sonetos dedicados ao bucho e à sua confraria, que aqui transcrevemos com a devida vénia.
Sabores da mais rara qualidade
A que o tempo deu superno cunho
Atingiram no bucho a sumidade
De que a Confraria é testemunho
Qualquer um de nós pelo seu punho
O atesta escrivão da puridade
Perfeita assinatura e não rascunho
Que para sempre obrigar-nos há-de.
Que outros cantem hinos, carmes, loas
Gastem, horas de sexta, véspera e noas
Rendidos aos seus sabores, é natural.
Mas nós de nossas coisas sempre ufanos
Elegemos como Ambrósia dos raianos
O bucho que se serve em Sabugal.
De onde advirá todo este gosto
Que corpo e alma tanto nos deleita
Tão entranhado em nós que é pressuposto
De uma interacção quase perfeita.
Antiga, muito antiga é a receita,
Perene, em seus segredos, o composto
O fumo, a carne, o dedo que a confeita
O alho e colorau, em contragosto.
Os Deuses no Olimpo luminoso
Criaram um sabor suprafamoso
Que Homero eternizou, de nome Ambrósia
Porém, se o nosso bucho aos sete céus
Chegara um dia, então diria Zeus
Que tudo ali ao bucho é simples sósia
Manuel Leal Freire - AQUI
*[para mim é um pouco como a história das toradas]
O valor dos nossos vinhos
Domingo, 12 Junho, 2011
Se fossemos um povo de bons comerciantes, Portugal poderia viver só com o produto das exportações de vinhos e derivados ou, mais abrangentemente, ainda de tudo o que a videira pode gerar de Melgaço ao Pico, afora as zonas de grande altitude, área aliás insignificante no contexto geral, não há nesga de terra que não tenha aptidão para a cultura da vinha.
Por força da multiplicidade das minhas andanças já bebi não um copo, mas meia dúzia deles em quintas e vilares de mais de meio reino.
Um pouco exageradamente ou talvez não, costumo afirmar que não há município onde não resida pelo menos um meu antigo aluno e onde eu não tenha apanhado pelo menos uma bebedeira… Penso que sem prejuízo para a saúde física e a acuidade mental de que, passada de há muito, a casa dos oitenta, graças a Deus ainda gozo.
Possivelmente, porque só me tenho emborrachado em dias de festa, abstendo-me no quotidiano, de acordo com a regra usada no posto de carabineiros de Alamedilha del Chozo, ou de Lazaba, que, nos meus tempos de sirga muito frequentei e que manda assim comer y beber, hasta rebentar…después, ayunar…
Invocando o adágio, lembro também as loas que o cabo Canário e o alferes Rosales, ambos veteranos da guerra civil espanhola e por essência bons adoradores de baco, teciam ao vinho, à geropiga e à bagaceira com que meu pai os mimoseava. Ao contrário de mim, um fenómeno de inabilidade manual e de impaciência para esperas, meu pai, era capaz de ficar dois dias seguidos doseando a temperatura de uma alquitarra … E daí a qualidade do produto, tanto mais realçada por los civiles, quanto é certo que na raia espanhola era proibido fazer aguardente, sendo a balsa usada como estrume. Mas eles tinham fartura de domeqes, a que, no entanto, preferiam a nossa bagaceira. Geropiga, consideravam-na bebida para damas e donzelas. E quanto a vinho meu pai tratava amorosamente de uma courela abacelada, a que chamávamos Vinha da Porta.
E num tempo em que a totalidade dos íncolas juntavam castas e só esporadicamente apartava o branco do tinto, já seleccionava castas. O espadal, feito á base de ferral, tâmara e um palhete mistura de malvasia e moscatel torrado, arrancavam olés na guarnição, o que mais nos admirará lembrando que o alferes era da terra do Vega Cecilia e de família abastada e o Canário devia o nome á toponímia.
Agora, passarei a falar da minha experiência diaspórica, que começou por Castelo Branco. Aí tive a sorte de gozar da amizade de dois fidalgos – o Visconde de Tinalhas e o Marquês da Graciosa – o primeiro licenciado em Direito e de nome José Meireles Coutinho Barriga e o segundo engenheiro agrónomo e cujo nome de baptismo abrevio para Fernando Afonso de Melo Geraldes Sampaio Pereira de Figueiredo. O Visconde, ao tempo, já andava na casa dos setenta e o seu prazer era beber com um amigo uma das centenas de garrafas que seu pai enchera por ocasião do seu nascimento. O Marquês, esse revia-se num palheto da sua propriedade situada nos cabeços de Monsanto, a aldeia mais portuguesa… Mas nem Tinalhas, nem as Idanhas faziam ou fazem parte de roteiros vínicos.
Evoco ainda dois outros fidalgos da região, proverbiais pela aversão ao uísque. Um combatera ao lado de Mousinho, outro era germanófilo, ambos davam jantares de vinte pratos A quem pedisse aquele símbolo do império britânico arriscava expulsão. Álcoois só dos seus vinhedos, sendo certo que ambos já achampanhavam tintos e brancos das encostas da Gardunha, Alvelos e Moradal.
Mais tarde, passei a frequentar casas minhotas, e em todas elas achei verdes esplêndidos, mesmo os de puro enforcado. Entre os braços do ulmeiro, está a jucunda vide…
Há em frente ao meu quarto, um roble, uma floresta…, com uma vide enlaçado.
O roble enche um celeiro – a vide enche um lagar.
Mas também a vide faz braseal. E uma rez de leite – borrego ou cabrito – tem outro sabor assado sobre um feixe delas. Experimentem.
Experimentem também fazer doces com arrobe, que é o mosto tornado melaço pela fervura. E bebam homens e senhoras, lembrando o pranto da Maria Parda ou a quadra:
Mais vinho que é sangue virgem
Mais vinho que pago eu
Se o vinho leva ao inferno
Primeiro nos mostra o Céu.
Manuel Leal Freire
Capeia Raiana AQUI
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Pitos de Santa Luzia
Neste dia de Santa Luzia, em Vila Real, manda a tradição que as raparigas da cidade ofereçam o pito aos rapazes seus eleitos, para que no dia 3 de Fevereiro, dedicado, na liturgia, a São Brás, os rapazes, retribuam a oferta com a gancha.
Para que não haja confusões, convém referir, que o pito é um bolo com recheio de doce de calondro e a gancha um rebuçado em forma de báculo bispal.
A tradição, a lenda e a receita encontram-se, por exemplo, AQUI
Feira de Santa Luzia ou Feira dos Sardões e das Passarinhas - Guimarães
bandeja usada nos rituais a Santa Luzia |
Conhecida outrora pelo grande comércio de frutos, sobretudo pela castanha (hoje a aparecer pouco), pode dizer-se que a fama da feira assentou, desde sempre, no típicos «sardões» e «passarinhas» - doces tradicionais desta romaria, feitos de massa doce e escura, revestidos com uma camada branca de açucar, enfeitados com papel de cor.
Os sardões são oferecidos pelos rapazes às raparigas e as passarinhas são oferecidas pelas raparigas aos rapazes.
Outra tradição da festa, conservada até aos nossos dias, prende-se com os chamados «segredos», igualmente à venda nas bancas dos doces, a manter idêntica procura. Trata-se de pequenas caixas de cartão (pouco maiores que uma caixa de fósforos), vistosamente forradas, contendo no interior, sobre algodão, três miniaturas: um sardão, uma passarinha e um coração trespassado por um papelinho, onde pode ler-se uma dedicatória, quase sempre de teor moroso.
Os «segredos» (não comestíveis) continuam a ser oferecidos pelos rapazes às raparigas, conforme manda a praxe
sardões e passarinhas |
banca dos doces |
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Novembro e Dezembro. Lisboa: Círculo de Leitores.
Santa Luzia - dia 13 e Dezembro
Pendão de Santa Luzia. Ruilhe, Braga |
(Cantares populares a Santa Luzia - Fundão)
Senhora Santa Luzia,
Tendes o pinheiro à porta;
Dá-me uma polinha dele
Para pôr na minha horta.
Senhora Santa Luzia,
Acudi a quem vos chama,
Acudi ao meu amor,
Que está doente na cama.
Senhora Santa Luzia,
Cá vos fica o meu cordão,
Fica muito bem entregue,
Senhora, na vossa mão.
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