segunda-feira, 28 de novembro de 2011

bodo...




3. "Convites", "confrarias" e bodos

(...)
Mas o tipo mais amplo de refeição comunitária é o bodo que, na maior parte dos casos, anda associado à festa do Espírito Santo. A sua essência reside no facto de todos os alimento se destinarem a toda a gente, sem excepção, estando o bodo desvinculado de preocupações caritativas ou sufragantes.

(...)
Sem funções caritativas nem sufragantes, os bodos tornaram-se altamente suspeitos para a mentalidade reformadora. Igreja e Coroa consorciaram-se na luta contra os bodos que foram proibidos pelas Ordenações do Reino, sob pretexto de delapidarem os bens das confrarias, de não aproveitarem às almas dos benfeitores e darem ocasião a irreverências nos lugares sagrados.

Está por explicar o verdadeiro significado dos bodos. A justificação, com base na etimologia, de que bodo provém de um voto não parece muito esclarecedora, tanto mais que outras distribuiçoes alimentares também andam associadas a votos. Se, na realidade, o bodo de Sao Brás de Torres Novas anda ligado a promessas, também as "confrarias" de Sto André de Montemor-o-Novo decorrem de promessas e dádivas de confrades.

Há quem os aproxime da dádiva  cerimonial do Potlatch, mas deles parece estar usente o objectivo da «conquista ou manutenção de prestígio social» indissociável daquela dádiva ritualizada, tal como os antropólogos a definem.

Finalmente ainda, os bodos parecem celebrar, em tempos de fome, o velho mito da idade de ouro ou anunciar a esperança num reino de felicidade.

 Maria Ângela Beirante, "Ritos alimentares em algumas confrarias portuguesas medievais"
In: Actas do Colóquio Internacional - Piedade Popular, 1998


Pavões, ontem, no Museu da Cidade

... nunca pensei que dormissem tão alto

Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,
Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio.


Ricardo Reis

sábado, 26 de novembro de 2011

vamos dar de beber à alegria

já que, enquanto não sabe o veredicto, vai andar por aí a sofrer até de madrugada...
aqui fica um fadinho:





[para o FADO, mas passando antes pelo Daniel]

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Lisboa - Alentejo

chamam-lhe: "a casa das andorinhas"

lavrar a Terra



Fotografia de Alfredo Cunha


Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nós e compelindo-nos
Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.

Ricardo Reis

cinema português


PAZ DOS REIS E OS PRIMÓRDIOS DO CINEMA - AQUI

bacalhau







ver AQUI documentário sobre a pesca do bacalhau:

The White Ships - Santa Maria Manuela, 1966

Lisboa - Sintra

terça-feira, 22 de novembro de 2011

faina do sal em Alcochete

pãezinhos de sal

Glossário do sal
Canastras / cestas onde era transportado o sal, com capacidade para cerca de 56litros;
Cintas / camada de lama colocada à volta das ponjas e no combro, com a finalidade de segurar a palha que cobre a serra;
Combro / camada de palha colocada no topo da serra rematando as várias ponjas que protegem o sal. O apuro na elaboração do combro vai tornar a serra mais ou menos duradoura;
Marinha / nome também dado à salina;
Marnoteiro / trabalhador responsável pelo funcionamento de toda a salina;
Moio / cerca de 840 litros de sal, 15 canastras a 56 litros cada;
Moirar / fase em que a água fica a evaporar, ganhando por isso salinidade;
Pãezinhos de sal / elaborados a partir do sal de embate que é colocado dentro de formas de madeira, com desenhos talhados em alto-relevo. São tradicionais em
Alcochete;
Ponja / chama-se a cada camada de palha disposta em altura para cobrir a serra;
Rapar / puxar e juntar o sal em pequenos montes para escorrer e limpar do magnésio antes de ser colocado na serra;
Sal de embate / cristaliza nas águas remexidas pelo vento (móveis), ficando um sal fino e gomoso que, precisamente por estas características, se mostra o melhor para manter a estrutura dos pãezinhos de sal;
Serra de sal / é formada pelo sal, depois de escorrido, que aí fica a secar até ao fim da safra sendo posteriormente protegido por uma cobertura de palha;
Talharia / conjunto dos talhos que formam a salina
Talho / rectângulo de terreno escavado onde o sal cristaliza;
Viveiro / encontra-se na parte mais elevada da marinha de forma a poder encher-se na preia-mar e despejar na baixa-mar, sendo aí controlada a quantidade de água que se mantém na marinha.



infância

fotografia de Jorge Barros

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

bodos...


fotografias de Jorge Barros


em agradecimento a todas as refeições partilhadas, preparadas, oferecidas...

sábado, 19 de novembro de 2011

flores de amendoeira, do Algarve


para a Lenita, que faria hoje anos

José Carlos Ary dos Santos - Plenitude






Encontrei afinal o meu caminho!
Ando louco de azul, ébrio de terra!
Como as aves que vão de ninho em ninho
Sem saber se no mundo há paz ou guerra.

A minha alma mais rubra do que o vinho
- Beijo de fogo que a verdade encerra -
Tem a doçura cândida do linho
E a resistência heróica duma serra.

Adoro o sol em êxtases pagãos,
Abençoando o dom da claridade
Que faz vibrar de luz todo o universo.

Trago o luar escondido em minhas mãos
E esta onda suprema que me invade
É o sangue da minha alma feito verso!


(1.º prémio de soneto nos Jogos Florais da Praia da Rocha, em 1951)

sementes


Na Horta semear agrião, alface, cenoura, couves, com excepção da couve-flor e brócolos. Plantar batata (nas zonas secas), alho, couve temporã, tremoço. Semear fava, ervilha, e em camas quente, alface, beterraba, cebola, nabiça, nabo, rabanete e tomate. Semear cereais de pragana, como a aveia, centeio, cevada e trigo. Colher azeitona e beterraba. Na Adega, verificar as vasilhas do vinho novo. Destilar bagulho para fazer a aguardente. 
Borda D'Água

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Senhor Jesus dos Navegantes - Ex-votos (quadros votivos)

   Existem vários objectos ligados ao culto da imagem do Senhor Jesus dos Navegantes no espólio artístico da Igreja Matriz de Ílhavo: dezanove quadros de ex-votos, desenhados e pintados, representando naufrágios e promessas dos marítimos ilhavenses, na sua maioria de finais do séc. XIX e que antigamente preenchiam na íntegra a parede entre o retábulo de altar das Almas e o retábulo de altar do Senhor Jesus dos Navegantes; ramos de flores artificiais, oferenda das mordomas; jarras de porcelana e prata; seis faixas bordadas a matiz e fio metálico de adorno da imagem e duas cabeleiras naturais.

Ex-votos do Senhor Jesus dos Navegantes de Ílhavo:





os rios na poesia popular



 




Opúsculos, de José Leite de Vasconcelos, Etnologia, volume V
Os rios na poesia popular (Poesia de Amor) AQUI

domingo, 13 de novembro de 2011

 
O tempo pergunta ao tempo, 
quanto tempo o tempo tem. 
O tempo responde ao tempo 
que o tempo tem tanto tempo,
quanto tempo o tempo tem.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Fonte da Moura, em Alpedriz (Alcobaça)






Da lendária ocupação árabe apenas ficou a lenda da “Fonte da Moura”. Situada numa propriedade particular a referida fonte é uma nascente de água, ligada ao chamado rio da Loureira. Segundo a lenda, uma Moura ia ali buscar água arranjando pretexto para se encontrar com o namora­do e terá ficado ali “encantada” vendo a água correr e certamente a pensar nas delícias do futuro, quando o povo a que pertencia foi atacada e tudo foi desfeito.

A moura de Cidagonha


Na aldeia de Moimenta, concelho de Vinhais, há um lugar com sinais de antigas fortificações conhecido por Cidagonha, e a que o povo também chama “cidade dos mouros”. Diz a lenda que vivia ali uma princesa mourisca encantada que, ora aparecia a pentear os seus cabelos com um pente de ouro, ao luar, ora a tecer num tear de ouro, cujo bater compassado dos pentes na teia e o ruído dos pedais poderiam ouvir-se na povoação em noites calmas. Outras vezes poderia ouvir-se a referida princesa cantar melodiosas canções de saudade, cujas palavras não seriam perceptíveis.
Segundo a lenda, o tesouro seria constituído pelo tear, o pente e muitos outros utensílios e jóias da princesa, incluindo um manto, tudo em ouro. Mas tratando-se de um tesouro encantado, este só poderia ser descoberto por pata de ovelha e ponta de relha.

Fonte: MARTINS, João Vicente – Moimenta da Raia – uma aldeia
comunitária em evolução e mudança, Braga, Ed. Autor, 1995, p. 83

A cisterna da Torre de Dona Chama




No castelo da Torre de Dona Chama [concelho de Mirandela] há uma cisterna com uma moura encantada em mulher da cinta para cima e serpente da cinta para baixo. Uma vez passou por ali um homem, e a moura chamou-o e disse-lhe que fosse lá ao outro dia desencantá-la, e que não tivesse medo, porque ela nesse dia apareceria toda serpente, mas o homem ficaria rico. O homem foi. Quando a serpente ia a subir pelo homem acima, a dar-lhe um beijo na boca, assim que chegou à garganta, este intimidou-se e atirou-lhe com o casaco. A serpente enroscou-se, fugiu e exclamou:
– Ah! Que dobraste o meu encanto!
Ainda assim ela mandou ao homem que a certas horas fosse lá a um lugar, onde acharia uma pedra com doze vinténs, todos os dias. Nessa cisterna, na manhã de S. João, ouve-se um tear a trabalhar.

Fonte: VASCONCELLOS, J. Leite – Contos Populares e Lendas,

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Este Silêncio - Camané



Há um silêncio pesado
Que não sei de onde é que vem
Nem sei se lhe chamam fado
Ou que outro nome é que tem

Se canto, não me dói tanto
O coração magoado
Mas há em tudo o que canto
Este silêncio pesado

Não é mágoa nem saudade
Nem é pena de ninguém
O silêncio que me invade
E não sei de onde é que vem

Silêncio que anda comigo
E que mesmo sem eu querer
Diz através do que eu digo
O que eu não posso dizer

Este silêncio pesado
Que me suspende e sustém
Não sei se lhe chamam fado
Ou que outro nome é que tem

Se com palavras se veste
A alegria e o pranto
Então que silêncio é este
Que há em tudo o que eu canto

mãos que fumam, fumam...


Brandas e Inverneiras - Lã


Nas Serras do Soajo e da Peneda existe um tipo de povoamento muito típico: as Brandas e Inverneiras.
São núcleos habitacionais temporários cuja origem se prende com a necessidade das populações utilizarem os pastos localizados na serra para alimentar o gado. Este processo de transumância tem a ver com a garantia de alimentos e, consequentemente, com a sobrevivência humana.
A Inverneira, como o nome indica, é a aldeia onde a família passa o Inverno. Localizam-se em vales, ou seja, em altitudes baixas. No princípio do Outono, as pessoas descem para a Inverneira permanecendo aí até Março. Nessa altura, sobem para a Branda, onde se fazem as sementeiras e onde se passa a maior parte do ano. Hoje em dia, nas poucas aldeias que mantêm a tradição, as pessoas apenas levam os animais e alguns haveres, ao contrário de antigamente, em que as pessoas levavam até a mobília.
As Brandas e Inverneiras são, sem dúvida, um elemento importante da cultura da população deste Território.


fotografias de Jorge  Barros
GERÊS - AQUI