fotografias de Jorge Barros
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Romaria da Senhora Aparecida - Balugães/Barcelos
Nossa Senhora do Monte - Funchal
Antigo descante popular da Festa de Nossa Senhora do Monte
Que lindo olhos vieram
Hoje a esta romaria:
Cada dois com seu derriço,
Cada dois com companhia.
Se são lindos os do campo,
Os de cá matam de amor:
'Tou vendo uns que tir' o «fôlego»
Ao primeiro cantador.
O dono desta viola
Faz do charamba um trovão,
Mas nam m'assusta q'os raios
Caem-lhe ao pé do bordão.
O trovão 'inda o mais rijo
Nam é que o há-de abrasar:
O perigo está nos coriscos
Que a moça tem no olhar.
E junto àquela parede
Ai, Senhora Santa Bárbara,
Estão eles a fuzilar.
Que lindo olhos vieram
Hoje a esta romaria:
Cada dois com seu derriço,
Cada dois com companhia.
Se são lindos os do campo,
Os de cá matam de amor:
'Tou vendo uns que tir' o «fôlego»
Ao primeiro cantador.
O dono desta viola
Faz do charamba um trovão,
Mas nam m'assusta q'os raios
Caem-lhe ao pé do bordão.
O trovão 'inda o mais rijo
Nam é que o há-de abrasar:
O perigo está nos coriscos
Que a moça tem no olhar.
E junto àquela parede
Ai, Senhora Santa Bárbara,
Estão eles a fuzilar.
domingo, 7 de agosto de 2011
A Moura do Poço
Alentejo profundo, planicie extensa, charneca silenciosa e lugubre.
A’ beira de um caminho ha perto de Extremoz, na aldeia historica de Santa Victoria do Ameixial, um poço de alto bordo e de fundo negro.
Perto do poço ficam as ruinas de uma herdade antiga, que os Romanos por alli fizeram e engrandeceram.*Ha quanto tempo lhe chamarão a este o Poço da Moura?*Aquellas ruinas foram de Mouros, — diz-se. Quem sabe se os Mouros, ao invadir a terra, se apoderaram da herdade romana? Quem sabe se, uma vez senhores de ella, a destruiram depois, quando de ella foram desapossados!
Fosse como fosse, a Moura do Poço para alli ficou presa no encanto.
De dia ninguern a vê. A agua vem por vezes até a base da bocca do poço. Outras vezes, aguas baixas, echôa lá dentro o ruido dc fóra. E’ a Moura a chorar a desgraça de se vêr só.
De noite, a pobre encarcerada sae. Ouve-se então o barulho arrastado e frio de uma corrente de ferro. A Moura está presa ao poço por uma corrente pesada, para que não fuja e o seu martyrio seja ali.
Então chora. Passa a eternidade do encanto a chorar, como a fonte que corre sem parar. Chora e suspira.*Uma noite passava no caminho um homem. ia só. Eram deshoras e a noite estava escura. Perto do poço corre de inverno um rego de agua, e o caminho galga-o em um viaducto. Passava o homem nesse lugar, quando ouviu chorar álguem, que entremeava os soluços com suspiros. Pareceram-lhe indicios de mulher.
— Quem está ahi? — preguntou elle.
Ninguem lhe respondia. Parou. Firmou a vista, e suppôs avistar, junto do poço, em um bloco de marmore a servir-lhe de assento, o vulto gentil de uma mulher vestida, de branco.
— Quem está para ahi? — interrogou elle de novo, por ver que o choro continuava.
Resolveu-se por fim a descer do caminho para o campo marginal, onde estava o poço, e que era mais baixo que o nivel do caminho. Desceu em direcção do poço. Mas o vulto ergueu-se silenciosamente, como nevoazita branca e leve a desprender-se da terra, ao nascer o dia, e ele ouviu o arrastar frio e irregular de corrente de ferro pelo chão secco.
— Quem está ahí? — preguntou elle ainda.
O vulto branco desappareceu. A corrente batia com força maior de chocalhar de ferros, de encontro á pedra. Chegado ao pé do poço, o homem não viu por onde o vulto da mulher se escondêra. Approximou-se mais e debruçou-se do bordo alto do poço a olhar para dentro.
O suspiro mais sentido e profundo, mais chorado e sentido, ouviu o elle naquelle momento. Vinha do fundo do poço, negro como a noite. Uma cobra subia. O homem fugiu.
Era a transformação da Moura em cobra, para metter medo ao homem, e desencantar-se ella, se o não conseguisse amedrontrar? Ou era o guarda fiel da Moura, que o pae ou um irmão para alli deixára encantada?
Ninguem o saberá dizer. O homem atemorizou-se, e fugiu para a estrada.
Um grito agudo de mulher assassinada cortou o silencio da noite. E o homem ouviu ainda o baque pesado de um corpo na agua do poço. A noite continuou negra, escurissima, sem um soluço de compaixão pela desgraçada tragedia.*
Quando acabará o encanto da Moura? Vive a chorar, a pobrezita! Ninguem sabe que encanto é o seu!*O homem correu, fugiu, como se atrás de si fosse continuamente sentindo aquelle grito atroz, que lhe atravessou a alma, e lhe gelou o sangue.
E todas as noites, á meia noite, um grito de dôr se ergue, sem que ninguem saiba de onde, embora todos digam que do Poço da Moura, e corre pela charneca infinda, causando calefrios aos que pelos casaes estão ainda acordados.Dizem que ao homem embranqueceu o cabello naquella noite, e nunca mais elle teve serenidade e sossêgo em vida. Era sempre o grito, na noite escura, atrás delle, que fugia do poço pavoroso. E o arrastar frio e lento de cadeias pode ser ouvido por quem á noite passe ao pé do tanque, altas horas, na estrada de Santa Victoria do Ameixial á velha e branca villa do Cano.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Muhammad ibn ‘Abbad al-Mu’tamid
Eia, Abû Bakr, saúda os meus lares em Silves
e pergunta-lhes se, como penso,
ainda se lembram de mim.
ainda se lembram de mim.
Saúda o Palácio das Varandas
da parte de um donzel
que sente perpétua nostalgia desse alcácer.
da parte de um donzel
que sente perpétua nostalgia desse alcácer.
Aí moravam guerreiros como leões,
e brancas gazelas
- em que belas selvas, em que belos covis!
e brancas gazelas
- em que belas selvas, em que belos covis!
À sua sombra, quantas noites passei
com mulheres de quadris opulentos
e de aparência extenuada!
com mulheres de quadris opulentos
e de aparência extenuada!
Brancas e morenas
provocavam-me na alma
o efeito das espadas refulgentes
e das lanças escuras!
provocavam-me na alma
o efeito das espadas refulgentes
e das lanças escuras!
Quantas noites passei,
deliciado, numa volta do rio,
com uma donzela cuja pulseira
imitava a curva da corrente!
deliciado, numa volta do rio,
com uma donzela cuja pulseira
imitava a curva da corrente!
E servia-me vinho do seu olhar,
e o vinho do jarro,
e outras vezes o vinho da sua boca.
Assim passava o tempo!
e o vinho do jarro,
e outras vezes o vinho da sua boca.
Assim passava o tempo!
Feridas pelo plectro,
as cordas do seu alaúde faziam-me estremecer,
e era como se ouvisse a melodia das espadas
nos tendões dos inimigos…
as cordas do seu alaúde faziam-me estremecer,
e era como se ouvisse a melodia das espadas
nos tendões dos inimigos…
Ao despir o manto descobria o corpo,
florescente ramo de salgueiro,
como o capulho se abre
ao exibir a flor…
florescente ramo de salgueiro,
como o capulho se abre
ao exibir a flor…
Muhammad ibn ‘Abbad al-Mu’tamid
sábado, 30 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
terça-feira, 26 de julho de 2011
domingo, 24 de julho de 2011
terça-feira, 19 de julho de 2011
domingo, 17 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
sexta-feira, 8 de julho de 2011
À MEMÓRIA DE MEU AVÔ FRANCISCO BORGES PIRES, MESTRE-ESCOLA E POETA - Emanuel Félix
Percorro com o olhar as figueiras e as vinhas
os campos semeados de milho
a luzerna ondulante.
Ouço o cacarejar perseguido das frangas
e tenho na boca o gosto das ameixas
colhidas quase verdes.
Reencontro os atalhos
por onde
descalça corre ainda a minha infância.
De longe vem o apelo do mar.
E é tudo
subitamente tão belo
como se tivesse de partir
ou acabasse de chegar.
Cabo da Praia, Setembro de 1970
Emanuel Félix
SEMPRE DISSE TAIS COISAS ESPERANÇANDO NA VULCANOLOGIA - 12 Poetas do Açores
Gota de Água - Casa da Moeda
quarta-feira, 6 de julho de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
Vinho
1. Vinho pela cor, pão pelo sabor.
2. Vinho, ouro e amigo, quanto mais velho melhor.
3. Vinho que baste, carne que farte, pão que sobre e seja eu pobre.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Reserva Natural do Estuário do Tejo
Ermida de Nossa Senhora de Alcamé
A Ermida de Nossa Senhora de Alcamé construída no século XVIII, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, era o espaço apropriado para os trabalhadores das Lezírias ali cumprirem as suas obrigações religiosas. Localiza-se na ZPE junto ao limite Norte da Reserva Natural. No final do século XIX, realizavam-se aqui episodicamente festas, organizadas por uma comissão de festeiros de que faziam parte lavradores de Vila Franca de Xira, Alhandra e Alverca. Nos anos 40, um grupo de proprietários retomou a organização das festas associando-as às do “Colete Encarnado” de Vila Franca de Xira. Nos últimos anos, a Associação de Varinos de Vila Franca de Xira tem dinamizado a realização da romaria pelo 17 de Junho, com a participação de outras associações locais. Os campinos, acompanhados pela banda e o cortejo, transportam o andor com a imagem da Nossa Senhora da Conceição desde a Igreja Matriz até ao cais, onde se realiza a cerimónia de embarque. A procissão prossegue pelo rio, em embarcações tradicionais todas engalanadas, até ao cais do Marquês. Aí o andor é transferido para uma charrete, seguindo o cortejo até à ermida. Aí, realizam-se as cerimónias religiosas, que incluem a benção dos gados, e o arraial com apresentação de ranchos folclóricos e actividades associadas aos cabrestos e campinos.
Aqui e Aqui |
fotografias de Helena Nilo
quinta-feira, 2 de junho de 2011
domingo, 8 de maio de 2011
domingo, 1 de maio de 2011
Festa de Nossa Senhora dos Milagres, Cernache - Coimbra
O Pão Ázimo
À noite dispunham-se num local amplo, geralmente numa "loja", oito "massadeiras", encostadas umas às outras, a formar um rectângulo.
Nelas se deitava a farinha, amassada depois ("tomada" no dizer local) por dezasseis rapazes (dois para cada massadeira), virados de frente uns para os outros, escolhidos entre os mais robustos do lugar.
A tarefa era acompanha pelo "preparador", um homem a quem competia vigiar a amassadura, e que, de vez em quando, deitava nas massadeiras a pouquíssima água que a massa levava.
Durante todo o processo eram entoadas "alvoradas" e cânticos populares de exaltação à Virgem.
Depois de pronta a massa era retirada das massadeiras pelo preparador e estendida por ele numa enorme pá em sete camadas (simbolizando os sete dias da semana).
A massa contida na última gamela (a oitava) servia para os enfeites, mais concretamente, para os elementos decorativos do pão ázimo (de formato rectângular), trabalho igualmente a cargo do preparador: as quatro pinhas (assentes no vértice, simbolizando o incenso); as duas pombas (com bicos voltados para fora, colocadas diametralmente opostas, a meio, no sentido da largura do pão, significando o Espírito Santo); as duas palmeiras (representando a árvore do Paraíso), tendo de cada lado uma serpente bíblica, ondulando em direcção inversa, ao longo do comprimento do pão.
Chegados a este ponto da feitura do pão, os respectivos grupos saíam pelas ruas a entoar as alvoradas, para voltar ao mesmo lugar, a buscar o pão (coberto com caules de trigo verde, para que o forno o não queimasse), seguindo depois, cerca da meia-noite, em cortejo, até à "casa do forno" (utilizado apenas uma vez no ano, para este fim).
Na manhã do dia seguinte o pão era retirado do forno, pincelado com azeite e colocado num andor enfeitado com flores e verdura.
As alvoradas cantadas pelas ruas depois de amassado o pão:
Na manhã do dia seguinte o pão era retirado do forno, pincelado com azeite e colocado num andor enfeitado com flores e verdura.
As alvoradas cantadas pelas ruas depois de amassado o pão:
Está sentada na pedrinha
A minha Virgem do Milagres;
A minha Virgem do Milagres;
Oh! Que tão baixa cadeira
Para tão alta Rainha.
Tem uma meada d'ouro
Tem uma meada d'ouro
A minha Virgem dos Milagres,
Quem me dera ser a relva
P'ra ser o seu coradouro.
Quem me dera ser a relva
P'ra ser o seu coradouro.
bolo santo |
andor de Nossa Senhora dos Milagres |
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.
sábado, 30 de abril de 2011
dar à língua...
"as mulheres cando se juntam
a falar da vida alheia
começam na lua nova
a falar da vida alheia
começam na lua nova
e acabam na lua cheia"
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Festa do Bodo - 25 de Abril
Salvaterra do Extremo e Monfortinho - Idanha-A-Nova
Tempres e Chamiços
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.
Tempres e Chamiços
Nossa Senhora da Consolação |
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.
domingo, 24 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
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