Ao Carlos Alberto
Lentamente, ao bater dos remos, vão os barcos
Rio acima, rio abaixo, na faina diária dos dias de sol e chuva.
Os homens já puxaram os barcos para a margem
Onde os senhores passam fechados, altaneiros,
Por entre homens da plebe — os que transportam sacos de trigo.
Os gestos repetem‑se, milenários,
Enquanto, de manhã à noite, os barcos vão passando
Desapercebidos dos lavradores dos campos.
Lentamente, vagaroso como o correr das águas,
Ergue‑se suplicante o canto dormente dos remadores…
Vai passando, vai quebrando, vai fugindo…
Ruy Cinatti, 'Obra Poética I', Lisboa, Assírio & Alvim, Out. 2016 [a sair brevemente]
Via Luis Manuel Gaspar
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