domingo, 4 de março de 2018

sábado, 3 de março de 2018







A Colecção Gulbenkian de Livros Manuscritos Ocidentais e as Inundações de 1967

Ideia original
Manuela Fidalgo e João Carvalho Dias

Realização, operação de câmara e edição
Márcia Lessa




Helena Nilo, 6.05.2016







Adelino Furtado, Poço, Quinta da Regaleira, Sintra, 1926



Adelino Furtado, Poço, Quinta da Regaleira, Sintra, 1926

sexta-feira, 2 de março de 2018

Francisco Afonso Chaves

 

Fotografia de Francisco Afonso Chaves

 
Mais fotografias AQUI

Amália Rodrigues - Vagamundo (1961)



Amália Rodrigues e Alain Oulman


Um dia estava eu num acampamento e levaram-me o Alain Oulman, que tinha feito uma música a pensar em mim, o Vagamundo. Fui ouvir e gostei.
(…)
Para além da música, o Alain, com a sua vasta cultura, fez-me travar conhecimento com grandes poetas. Ele não só fazia as músicas, como ia procurar, aos livros de poesia, letras para as músicas. Dedicou-me um tempo grande. Não me influenciou mas, durante um tempo, andei toda contente com aquela descoberta que ele me trazia. Trabalhámos muito os dois.
(…)
O Alain trouxe um público que não estava comigo (…) Mas o Alain não me veio explicar nada. Eu é que quando não sabia alguma coisa lhe perguntava. (…) A partir deste primeiro disco, o Alain foi sempre muito importante para mim…

AMÁLIA RODRIGUES
Amália, uma Biografia por Vítor Pavão dos Santos,
Lisboa, Contexto Editora, p.151








Alain Oulman


Mirante da praia do Homem do Leme – anos 20



 Mirante da praia do Homem do Leme – anos 20


DAQUI




João Francisco Camacho, Ilha da Madeira. Costa Norte, 1865 - 1875,
Arquivo de Documentação Fotográfica / DDCI/DGPC

quinta-feira, 1 de março de 2018

Arte xávega na Costa da Caparica a Património ImateriaL






A Arte-Xávega é uma técnica de pesca tradicional que consiste na utilização de uma rede de cerco envolvente que é lançada no mar e depois puxada para terra.

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A pesca com a Arte-Xávega na Costa da Caparica é uma prática de pesca local tradicional, cujos principais elementos móveis são as embarcações e as redes ou artes. A chata corresponde a um tipo de embarcação adaptado às condições do mar da região. As chatas são construídas segundo as indicações do proprietário, em estaleiros fora do concelho de Almada. As chatas atualmente utilizadas na pesca com Arte-Xávega na Costa da Caparica são construídas em madeira ou fibra com medidas aproximadas de seis metros e vinte de comprimento, dois metros e quarenta de boca e noventa centímetros de pontal (medidas da Chata S. José com a matricula TR-151513-L). O fundo da embarcação, sem quilha, é plano para facilitar o deslizamento na areia (de onde deriva a designação chata) a proa é larga e elevada, para vencer a rebentação, com painel de popa onde está é colocado o motor fora de bordo basculante. A chata divide-se em Proa (onde vão os remadores), Sé do Meio (compartimento onde se colocam as cordas e a rede) e Popa, onde segue o arrais, o calador e o camarada que larga o saco. Na cara do barco em ambos os lados do casco junto à proa, a grande maioria dos barcos de pesca artesanal da Costa da Caparica tanto os utilizados da Arte-Xávega como em outras artes de pesca, encontram-se pintadas imagens de cariz simbólico sendo o olho o mais representativo, contudo também se encontram outros símbolos tais como estrela, rosa-dos-ventos, cruz, peixe estilizado, emblema desportivo. Conforme refere Octávio Lixa Filgueiras estas representações de cariz mágico religioso estarão associadas à proteção e / ou sacralização do barco (FILGUEIRAS, 1978). Sendo mais comum a explicação da utilização do “olho” como proteção contra o “mau-olhado” a dimensão sagrada encontra-se igualmente patente nos nomes de alguns barcos como S. José, Deus te Guie ou Há-de ser o que Deus Quiser. Ainda relativamente à pintura do olho encontram-se várias interpretações junto dos pescadores: a tradição ou até «para ver o peixe». Destaca-se contudo que entre as várias representações estilizadas do “olho” pintado na cara do barco uma das mais características da Costa da Caparica apresenta-se como uma fusão de olho e peixe que na linha superior apresenta doze pestanas que segundo alguns pescadores significam os doze apóstolos, alusão que apresenta um paralelismo acentuado com a imagem votiva existente na Igreja da Costa da Caparica representando um barco meia-lua tripulado pelos doze apóstolo.






«Um grande, pormenorizado e expressivo olho decorava, igualmente, a cara branca, não delimitada, deste belo saveiro, na Costa da Caparica, por volta de 1965.»

DAQUI  [Ver, também, aqui algumas considerações sobre a representação decorativa do olho nas embarcações de pesca]

AQUI

AQUI


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018




Joaquim Manuel Magalhães


In:
Joaquim Manuel Magalhães, «Light at Two Lights», in João Miguel Fernandes Jorge, Jorge Molder, Joaquim Manuel Magalhães,'Uma Exposição', Lisboa, A Regra do Jogo, 1980.


[Retirado Daqui]

Lavadeiras



Fotografia de C. Trincão

Boletim Fotográfico, Abril de 1900


J. A. Soares - Castelo de D'Almourol





Fotografia de J. A. Soares
"Boletim Fotográfico", Agosto de 1900

Fografias do Boletim Fotográfico






Fotografia de Silva Nogueira
Boletim Fotográfico
, Janeiro de 1900

Fotografia de Augusto Soares
Boletim Fotográfico
, Outubro e Novembro de 1900


Fotografia de F. Viegas 
Boletim Fotográfico
, Setembro de 1900







Fotografia de S. Fortes
Boletim Fotográfico
, Outubro e Novembro de 1900





Fotografia de C. Trincão
Boletim Fotográfico
, Abril de 1900




Fotografia do Visconde de Coruche
Boletim Fotográfico
, Fevereiro de 1900

domingo, 4 de fevereiro de 2018




Helena Corrêa de Barros, Tirando água do poço, [entre 1950 e 1960]
Fotografai do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Miguel Martins - Aldeia




Adoro as levadas caudalosas,
serpenteando por entre avencas,
levando consigo pequenos blocos de terra,
ensopando a terra,
matando a sede a raízes
que mais parecem teias de aranha
cujo centro se esconde a vários palmos de distância
ou longilíneas tarântulas

Adoro os Verões iniciáticos,
a aprendizagem de caminhos e trabalhos sob as copas densas,
os banhos na represa por entre libélulas e alfaiates
e o esgar de nojo,
quando, da ponte,
se avista lá ao fundo um gato morto
preso nas silvas das margens de água límpida

Adoro os Invernos laboriosos,
as encostas escorregadias,
a lama nas botas,
a misteriosa caminhada até cada courela,
o gesto medieval que ceifa o talo à couve,
o toucinho na salgadeira

Adoro o regresso do ruído,
a chegada das crianças da cidade,
adoro vê-las subir às amoreiras,
as mãos miúdas confiando em nós de madeira centenária, enquanto os pais me visitam na adega,
cortamos uma broa e abrimos uma garrafa de morangueiro fresco

Adoro as casulas e os paramentos na sacristia
e o pó que os cobre nos meses de ausência do padre
e o branco nu da capela
e a pedra nua de todas as outras casas,
que é da cor das folhas de tabaco secas da plantação que o Eduardo tem ao fundo do povo e esconde dos fiscais
(ele que já viu mais mundo que todos os fiscais da região e trabalhou na PanAm e foi aos Estados Unidos)

Adoro as trutas apanhadas à mão e o viveiro de trutas, nossa única indústria desde que ruiu o moinho de água
e só Deus sabe quanto isso me custou e custa,
saber que não mais sentirei o cheiro do milho acabado de moer

Adoro as idas à mercearia da aldeia vizinha
e a pouquíssima variedade de produtos que aí se encontra,
como se estivéssemos em tempo de guerra
ou o século XX não ousasse começar por aqui

Adoro os fogões a lenha,
as enormes arcas de nogueira,
os colchões de palha de milho
confortavelmente concavados por décadas de hóspedes e a remota possibilidade de serem do tempo
em que João Brandão, “o terror das Beiras”, se acoitou nestas casas

Adoro os audazes mergulhos da ponte metálica coberta de caganitas de cabra
e as cabras
e a mão desusada que as conduz
e que sabe amar quando é chegada a noite
ou quando é chamada a iluminar um recanto de sombra

Adoro as lamparinas e os morcegos que vêm chupar o azeite das torcidas,
o cheiro das queimadas e o cheiro do tojo
acabado de roçar,
e as pequenas manchas roxas
que as amoras esmagadas imprimem no chão

Adoro as ameaças e as benesses do céu
e a certeza de que nelas se escondem todas as respostas da irrevogável vontade de Deus
e adoro como uns são pais dos filhos dos outros
e deixam Deus fora da questão
e não pegam em espingardas

Sim, adoro esta aldeia sem caçadores
em que os pardais só temem os espantalhos
e os gritos que ecoam desde o outro lado das montanhas

Adoro o tio Alfredo, que espantava as almas penadas, batendo com uma corda nas costas,
e o primo Alfredo
que trabalha tanto como quem trabalha mais
e mimetiza o mesmo gesto
para afugentar as dores que isso lhe dá por todo o corpo

Adoro a iniciação sexual dos rapazes,
quase sempre com outros rapazes,
anos antes de terem uma rapariga,
o que só acontece aos doze anos e depois não quer dizer nada,
que é como quem diz, fica vida fora

Adoro o orvalho desenhando folhas de plantas nos vidros das janelas
e janelas nas folhas das plantas
e a nitidez de todos os veios destas
e de todas as veias na pele das mulheres,
que nunca tomaram banhos de sol
e sempre cobrem as cabeças com lenços
ou chapéus de palha

E adoro-vos a vós
que nunca vistes nem vereis a minha aldeia
e acabais de a adoptar pelo útero

(Atol, Clube dos Poetas Vivos, Lisboa, 2002)


Leitura de Raquel Marinho (clicar para ouvir)


Helena Nilo, Lagos, Setembro, 2014

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018