quinta-feira, 9 de outubro de 2014

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Rocha Peixoto



fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico



Luís Miguel Nava - Rios


Aqui, onde o vemos
correr, o rio mais não é que uma cortina, por trás
da qual corre outro rio. O
que no primeiro se reflecte
no outro transfigura-se.

Desprende-se o primeiro
do plano a que os sentidos o
mantêm agarrado, para assim
melhor entrar na alma, de cuja
incerta superfície faz as margens.
Disto isto doutra forma: assenta-nos
as margens na aspereza
da alma, a cujas reetrâncias
(já dizia o Pessoa) o sol não chega.

Mas nem ele é preciso. Uma só vela
nas trevas basta
para que o rio se ilumine
desde a foz à nascente.

É esse rio, idêntico a uma porta
que existe só por dentro e que por fora
foi já toda comida pelas trevas, que
nos serve de metáfora do tempo
(só o outro é literal)
e, tal como nas trevas - onde as ervas
e as flores são invisíveis -
o aroma verdeja, assim

o tempo, escoando-se, adquire
a cor da erva: e ontem, hoje
e amanhã mais não são do que tantos outros tons de
verde
que bovinamente a alma saboreia.

AQUI

terça-feira, 7 de outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

António Lopes Ribeiro - Lisboa de Hoje e de Amanhã, 1948




Lisboa de Hoje e de Amanhã é um documentário português realizado, escrito e narrado por António Lopes Ribeiro, produzido pela Câmara Municipal de Lisboa, no ano de 1948. Consiste numa série de pequenas filmagens de algumas zonas da cidade, com a explicação das mesmas por Lopes Ribeiro e, música de fundo.

Este documentário é uma análise da cidade de Lisboa, feita por António Lopes Ribeiro, de quatro perspectivas: habitação, circulação, trabalho e, espaços de lazer. São divididas por quatro partes, cada uma com 10 minutos de duração. Num Portugal indirectamente devastado pela Segunda Guerra Mundial, este filme apresenta aquilo que já pudera ser feito e, tudo o que estava planeado fazer para tornar Lisboa numa cidade pioneira ao nível dos quatro pilares referidos.
AQUI





António Lopes Ribeiro - AQUI
António Lopes Ribeiro

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Os 'Olhares Fotográficos' dos estrangeiros" sobre Portugal



François Le Diascorn, Lamentações das três Marias, Évora, Portugal 1980



Sabine Weiss, Interior de igreja em Portugal, 1954



Cartier Bresson, 'Confissão', Igreja dos Jerónimos, 1954
DAQUI

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Nora


Fotógrafo não identificado
Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico

Francisco Bugalho - Rega


Longa, lenta, melancólica,
Cantou a velha canção,
A nora triste da horta.
E uns brandos ares de bucólica
- Oh, lírica solidão! -
Bateram à minha porta.

Terra sedenta que espera,
Ansiosa todo o dia,
Estes momentos da tarde,
Agora se desaltera.
- Que, a esta hora tardia,
O beijo do sol não arde.

Toda se dá em perfumes
Que lembram, a quem os sente,
Vagos, sensuais desatinos.
Andam no ar vaga-lumes.
E a terra, molhada e ardente,
Tem desejos femininos...

Depois, a nora calou-se.
Ficaram-se murmurando,
Nos regos, já invisíveis,
- Murmúrio leve e tão doce!... -
Águas que vão retratando
Finas estrelas insensíveis.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Luis Manuel Gaspar - A Morte Nunca Existiu








luis manuel gaspar, «a morte nunca existiu (antónio joaquim lança / josé mário branco)»,
'40xABRIL', lisboa, abysmo, 2014






LUÍS MIGUEL NAVA - DOIS RIOS



O corpo dividido em duas partes
fechadas
à chave uma na outra, avanço
num duplo coração como se fosse
ao mesmo tempo num só barco por dois rios.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Rocha Peixoto - Farol de Santa Marta


[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



Chafariz



fotografia de Artur Pastor, Chafariz de Palhais, Setúbal, Portugal, [1943-1945]
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



Devoção


fotografia de Artur Pastor,  (Trás-os-Montes) [entre 1950 e1954]
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



fotografia de Artur Pastor,  (Alentejo) [entre 1943 e1945]
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Cais do Sodré




Desembarque dos passageiros das canoas cacilheiras no Cais do Sodré
 [Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]


Ermida da Memória, Cabo Espichel




 
Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014



A segunda tradição do culto de Nossa Senhora do Cabo é transmitida por Frei Agostinho de Santa Maria, no Santuário Mariano. "Outros affirmarão que a Senhora apparecera na praya que lhe fica em baixo da mesma penha, aonde se aedifcou a Ermidinha, e que apparecera sobre uma jumentinha, e que esta suba pela rocha assima, e que ao subir hia firmando as mãos, e os pés na mesma rocha, deixando impressos nella os vestígios das mãos, e pés; e que de ser isto assim o affirmava a tradição dos que virão estes mesmo sinaes, que já hoje tem gastado, e consumido o tempo. E como a Deos lhe não he impossivel obrar mayores maravilhas, bem podemos crer obraria esta, para que assim fosse por ella buscada, evenerada aquella Santissima Imagem. Aquella Ermidinha que se fundo no lugar aonde a Senhora parou, naquella liteirinha vivente que a levava, desfez muytas vezes o tempo; mas a devoçam dos que a servem, a reformou outras tantas vezes, pezar dos seus rigores".   DAQUI
 


Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014





quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Linho


30 de Dezembro

A vida é tecida como o linho: um fio de dor, um fio de ternura. Eu intrometo-lhe sempre um fio de sonho. Foi o que me perdeu.


Raul Brandão, Húmus



fotografia de Artur Pastor
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



fotografia de Artur Pastor
[Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico]



Um fio de água que reluz prende-me horas e transforma as pedras.


Raul Brandão, Húmus

Castelo de São Jorge - Março de 1996



Helena Nilo | 1996



Helena Nilo | 1996



Helena Nilo | 1996

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Eugénio de Andrade - Véspera da Água





Tudo lhe doía
de tanto que lhes queria:

a terra
e o seu muro de tristeza,

um rumor adolescente,
não de vespas
mas de tílias,

a respiração do trigo,

o fogo reunido na cintura,

um beijo aberto na sombra,

tudo lhe doía:

a frágil e doce e mansa
masculina água dos olhos,

o carmim entornado nos espelhos,

os lábios,
instrumentos da alegria,

de tanto que lhes queria:

os dulcíssimos melancólicos
magníficos animais amedrontados,

um verão difícil
em altos leitos de areia,

a haste delicada de um suspiro,

o comércio dos dedos em ruína,

a harpa inacabada
da ternura,

um pulso claramente pensativo,

lhe doía:

na véspera de ser homem,
na véspera de ser água,
o tempo ardido,

rouxinol estrangulado,

meu amor: amora branca,

o rio
inclinado
para as aves,

a nudez partilhada, os jogos matinais,
ou se preferem: nupciais,

o silêncio torrencial,

a reverência dos mastros,
no intervalo das espadas

uma criança corre
corre na colina

atrás do vento,

de tanto que lhes queria,
tudo tudo lhe doía.


IN: Obscuro Domínio, 1971

RAQUEL ROQUE GAMEIRO - A MULHER RURAL DEVE SER AMIGA DA ÁGUA




Raquel Roque Garmeiro (1889-1970)
Ver também Aqui e Aqui