segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Bernardo Soares - Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo...
Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo as minhas horas
melhores. Eram cravos as flores preferidas, talvez porque não
significavam requintes. Os teus lábios festejavam sobriamente a ironia
do seu próprio sorriso. Compreendias bem o teu destino? Era por o
conheceres sem que o compreendesses que o mistério escrito na tristeza
dos teus olhos sombreara tanto os teus lábios desistidos. A nossa Pátria
estava demasiado longe para rosas. Nas cascatas dos nossos jardins a
água era pelúcida de silêncios. Nas pequenas cavidades rugosas das
pedras, por onde a água escolhia, havia segredos que tivéramos quando
crianças, sonhos do tamanho parado dos nossos soldados de chumbo, que
podiam ser postos nas pedras da cascata, na execução estática duma
grande acção militar, sem que faltasse nada aos nossos sonhos, nem nada
tardasse às nossas suposições.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I.
Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete
Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado
Coelho.) Lisboa: Ática, 1982. - 266.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/140
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/140
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Luiza Neto Jorge - ANOS QUARENTA, OS MEUS
fotografia de Artur Pastor |
ANOS QUARENTA, OS MEUS
De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavão alto me aflorava muito
em sonhos, à noite. E sofria de asma
alma e ar reféns dentro do pulmão
(como o chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mão).
Salazar, três vezes, no eco da aula.
As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos
que hoje inda esbraceja, numa árvore passiva.
Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
acabou a guerra meu pai grita «Viva».
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.
Já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra Cacilhas e, no céu que ressuma
névoas, águas mil, um fictício arco-
-íris como que é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.
Luiza Neto Jorge
obrigada, Daniel
ALDEIAS SONORAS
“Aldeias Sonoras” é um projecto educativo da Binaural/Nodar
de mapeamento sonoro de zonas rurais portuguesas, em paralelo com o seu
levantamento geográfico, histórico e sócio-cultural. O projecto envolve
escolas básicas e secundárias de zonas rurais de diversas regiões de
Portugal, tendo ocorrido um primeiro módulo no ano lectivo 2008/2009 em
parceria com a Escola Secundária de São Pedro do Sul e um segundo módulo
no ano de 2010 em parceria com diversas escolas de zonas por onde passa
o rio Paiva, integrado no projecto “Paivascapes #1“
O projecto pretende evidenciar a riqueza sonora do mundo rural português e a necessidade de o registar, envolvendo crianças e jovens nessa descoberta, promovendo em paralelo o sentido de identidade, de diversidade e de orgulho em viver no campo.
“Aldeias Sonoras” envolve uma série de
módulos de aprendizagem teórico-prática, com o objectivo de dotar os
alunos de conhecimentos de tecnologias de registo e edição de sons,
utilização de blogs para a organização e distribuição de informação,
associando cada etapa do projecto a diversas disciplinas curriculares
(nas áreas da arte, história, cidadania, geografia, tecnologias de
informação, etc.).
obrigada, Daniel
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013
domingo, 16 de junho de 2013
A Lenda do Sever
Eis a lenda que, com mais ou menos variantes, a tradição nos transmitiu:
Em distante e já remota época, numeroso e escolhido cortejo de damas e cavaleiros, de longada para as bandas de Castela, resolve descansar das fadigas da jornada junto às margens do rio e no sítio onde mais fácil se torna a sua passagem a vau. Ao pretender, porém, recomeçar a viagem, quando as damas se preparavam para compor os seus vestidos e alisar os cabelos desgrenhados pelos solavancos da travessia através dos ásperos córregos e do pedregoso trilho dos rústicos caminhos viram, com desconsolada surpresa, que em nenhuma das escouradas arcas de bagagem se encontrava um espelho, objecto tão necessário às mais novas e tafús e que havia esquecido na azáfama confusa da partida. Compreender-se-á o desespero em que esse facto lançaria as entristecidas e contrariadas damas, tão ávidas de bem parecer e para as quais o espelho é o mais dilecto, necessário e indispensável companheiro.
Diz-se mesmo que em algumas delas tal contratempo se denunciava por mal contidas e furtivas lágrimas, que não passaram despercebidas ao olhar atento e enamorado de um gentil moço e garboso cavaleiro da comitiva. Pressuroso e cortês acudiu este procurando remediar a contrariedade das aflitas damas, lembrando-lhes que não havia, em verdade, motivo para se entristecerem pois que, para substituir o espelho tinham elas ali bem perto um belo rio de SE VER.
Para comemorar a gentil lembrança do moço fidalgo e como prémio e agradecida homenagem à sua tão feliz e oportuna ideia puseram, então, as damas ao sítio onde haviam estado a pentear-se o lindo e romântico nome de «PORTO DOS CAVALEIROS», nome que ainda hoje lá se conserva e que a tradição liga a esta lenda tão perfumada de cortês e graciosa galantaria.».
Fonte Biblio COSTA, Alexandre de Carvalho Marvão, suas freguesias rurais e alguns lugares n/a, Câmara Municipal de Marvão, 1982 , p.49-50
O sardão da Lapa
Consta-se que uma mulher vinha dum povoado chamado Forca a caminho de Quintela com um saco de novelos de linho para tecer. A meio da encosta da serra, num local conhecido por Cova, foi atacada por um grande lagarto. Este, de boca enorme, tentou morder a mulher que, aflita, pediu ajuda à Senhora da Lapa. Foi então que lhe veio a ideia de atirar ao monstro os novelos que no saco levava, ficando com a ponta dos fios nas mãos.
O bicharoco ia engolindo os novelos que a mulher lhe arremessava. Quando já tinha na mão uma grande quantidade de pontas, a mulher deu uns puxões que engasgaram a fera.
Em sinal de gratidão, a mulher ofereceu o corpo do lagarto à Senhora da Lapa.
Fonte Biblio
AA. VV., -
Literatura Portuguesa de Tradição Oral
s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003
, p.L3
daqui
daqui
Vitorino Nemésio - A concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio, O Bicho Harmonioso, 1938
terça-feira, 23 de abril de 2013
sábado, 20 de abril de 2013
Alhandra - 17/04/2013
Gravura de Maria Irene Ribeiro (Casa-Museu Sousa Martins) |
Xilogravura de Augusto Bértholo (Casa-Museu Sousa Martins) |
(Casa-Museu Sousa Martins) |
[ obrigada, Daniel, por tudo e todos : ) ]
segunda-feira, 15 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
sábado, 30 de março de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
Manoel de Oliveira, Douro, Faina Fluvial, 1931
Adaptação musical: Maestro Luís de Freitas Branco
[via Luis Manuel Gaspar]
sábado, 23 de março de 2013
Sophia de Mello Breyner Andresen - PRIMAVERA
As heras de outras eras água pedra
E passa devagar memória antiga
Com brisa madressilva e Primavera
E o desejo da jovem noite nua
Música passando pelas veias
E a sombra das folhagens nas paredes
Descalço o passo sobre os musgos verdes
E a noite transparente e distraída
Com seu sabor de rosa densa e breve
Onde me lembro amor de ter morrido
— Sangue feroz do tempo possuído
Natália Correia - Fiz um conto para me embalar
Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.
Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.
Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.
Fialho de Almeida - 'A princesinha das rosas'
(...)
Captiva por aquella phantasmagoria do lago,
a princesa desceu á praia uma noite ... o luar vinha
nascendo... — diz que uma barca atracara
ás escadarias dos cães, negra barca de mudos barqueiros,
anões com hombros de titans, cujos olhos phosphorejavam
por baixo de chapéus feitos de grandes cogumellos.
Mas a princesa, a princesa?
Diz que pelas velhas estradas trotam mensageiros
anciosos, creanças n'aquelle tempo, hoje velhos de
mil annos, que vâo perguntando aos viandantes se a
viram passar alli. Quanta maior certeza elles teem
de não achar quem procuram, tanto mais frenéticos
precipitam os voos seus cavallos esqueletos.
(...)
Livro AQUI
Alexandre O’Neill - «O TEJO CORRE NO TEJO»
17.7.2012 |
Tu que passas por mim tão indiferente,
no teu correr vazio de sentido,
na memória que sobes lentamente,
do mar para a nascente,
és o curso do tempo já vivido.
Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!
Por isso, à tua beira se demoraaquele que a saudade ainda trespassa,
repetindo a lição, que não decora,
de ser, aqui e agora,
só um homem a olhar para o que passa.
Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!
Um voo desferido é uma gaivota,não é o voo da imaginação;
gritos não são agoiros, são a lota…
Vá, não faças batota,
Deixa ficar as coisas onde estão…
Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu que em ti me vejo!
Tejo desta canção, que o teu corrernão seja o meu pretexto de saudade.
Saudade tenho, sim, mas de perder,
sem as poder deter,
as águas vivas da realidade!
Não, Tejo,
não és tu que em mim te vês,
- sou eu, em mim, que me vejo!
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Soeiro Pereira Gomes
Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de lama que só o rio afaga.
Soeiro Pereira Gomes, Esteiros, Publicações Europa-América, p. 9
AQUI
Soeiro Pereira Gomes, Esteiros, Publicações Europa-América, p. 9
AQUI
sábado, 23 de fevereiro de 2013
António Nobre - Nasci, num reino d'Oiro e amores
Nasci, num reino d'Oiro e amores
À beira-mar.
Sou neto de Navegadores,
Heróis, Lobos-d'água, Senhores
Da índia, d'Aquém e d'Além-mar!
E o Vento mia! e o Vento mia!
Que irá no Mar!
Que noite! ó minha Irmã Maria
Acende um círio à Virgem Pia,
Pelos que andam no alto Mar...
Ao Mundo vim, em terça-feira
Que noite! ó minha Irmã Maria
Acende um círio à Virgem Pia,
Pelos que andam no alto Mar...
Ao Mundo vim, em terça-feira
Um sino ouvia-se
dobrar!
Vim a subir pela ladeira
E, numa certa terça-feira,
Estive já pra me matar...
Ides gelar, água das fontes
Vim a subir pela ladeira
E, numa certa terça-feira,
Estive já pra me matar...
Ides gelar, água das fontes
Ides gelar!
Águas do rio! Águas dos montes!
Cantigas d'água pelos montes,
Que sois como amas a cantar...
Passam na rua os estudantes
Águas do rio! Águas dos montes!
Cantigas d'água pelos montes,
Que sois como amas a cantar...
Passam na rua os estudantes
A vadrulhar...
Assim como eles era eu dantes!
Meus camaradas! estudantes!
Deixai o Poeta trabalhar.
O Job, coberto de gangrenas,
Assim como eles era eu dantes!
Meus camaradas! estudantes!
Deixai o Poeta trabalhar.
O Job, coberto de gangrenas,
Meu avatar!
Conservo as mesmas tuas penas,
Mais tuas chagas e gangrenas,
Que não me farto de coçar!
E a neve cai, como farinha,
Conservo as mesmas tuas penas,
Mais tuas chagas e gangrenas,
Que não me farto de coçar!
E a neve cai, como farinha,
Lá desse moinho a
moer, no Ar;
Ó bom Moleiro, cautelinha!
Não desperdices a farinha
Que tanto custa a germinar...
Andais, à neve, sem sapatos,
Ó bom Moleiro, cautelinha!
Não desperdices a farinha
Que tanto custa a germinar...
Andais, à neve, sem sapatos,
Vós que não tendes
que calçar!
Corpos ao léu, vesti meus fatos!
Pés nus! levai esses sapatos...
Basta-me um par.
Quando eu morrer, hirto de mágoa,
Corpos ao léu, vesti meus fatos!
Pés nus! levai esses sapatos...
Basta-me um par.
Quando eu morrer, hirto de mágoa,
Deitem-me ao Mar!
Irei indo de frágua em frágua,
Até que, enfim, desfeito em água,
Hei de fazer parte do Mar!
No Pantéon, trágico, o sino
Irei indo de frágua em frágua,
Até que, enfim, desfeito em água,
Hei de fazer parte do Mar!
No Pantéon, trágico, o sino
Dá meia-noite,
devagar:
É o Vítor, outra vez menino,
A compor um alexandrino,
Pelos seus dedos a contar!
Que olhos tristes tem meu vizinho!
É o Vítor, outra vez menino,
A compor um alexandrino,
Pelos seus dedos a contar!
Que olhos tristes tem meu vizinho!
Vê-me a comer e
põe-se a ougar:
Sobe ao meu quarto, bom velhinho!
Que eu dou-te um copo deste vinho
E metade do meu jantar.
Bairro Latino! dorme um pouco,
Sobe ao meu quarto, bom velhinho!
Que eu dou-te um copo deste vinho
E metade do meu jantar.
Bairro Latino! dorme um pouco,
Faze, meu Deus, por
sossegar!
Cala-te, Georges! estás já rouco!
Deixa-me em paz! Cala-te, louco.
Ó boulevard!
Boas almas, vinde ao meu seio!
Cala-te, Georges! estás já rouco!
Deixa-me em paz! Cala-te, louco.
Ó boulevard!
Boas almas, vinde ao meu seio!
Espíritos errantes
no Ar!
Sou médium: evoco-os, noite em meio!
Vós não acreditais, eu sei-o...
Deixá-lo não acreditar.
Se eu vos pudesse dar a vista,
Sou médium: evoco-os, noite em meio!
Vós não acreditais, eu sei-o...
Deixá-lo não acreditar.
Se eu vos pudesse dar a vista,
Ceguinhos que ides
a tactear...
Quando essa sorte me contrista!
Mas ah! mais vale não ter vista
Que um mundo destes ter de olhar...
A Morte, agora, é a minha Ama
Quando essa sorte me contrista!
Mas ah! mais vale não ter vista
Que um mundo destes ter de olhar...
A Morte, agora, é a minha Ama
Que bem que sabe
acalentar!
À noite, quando estou na cama:
"Nana, nana, que a tua Ama
Vem já, não tarda! foi cavar..."
Camões! Ó Poeta do Mar-bravo!
À noite, quando estou na cama:
"Nana, nana, que a tua Ama
Vem já, não tarda! foi cavar..."
Camões! Ó Poeta do Mar-bravo!
Vem-me ajudar...
Tenho o nome do teu escravo:
Em nome dele e do Mar-bravo
Vem-me ajudar!
E o Vento geme! e o Vento geme!
Tenho o nome do teu escravo:
Em nome dele e do Mar-bravo
Vem-me ajudar!
E o Vento geme! e o Vento geme!
Que irá no Mar!
Lobos-d'água, que ides ao leme
Tende cuidado! A lancha treme.
Orçar! orçar!
Meu velho Cão, meu grande amigo,
Lobos-d'água, que ides ao leme
Tende cuidado! A lancha treme.
Orçar! orçar!
Meu velho Cão, meu grande amigo,
Por que me estás
assim a olhar!
Quando eu choro, choras comigo
Meu velho Cão! és meu amigo...
Tu nunca me hás-de abandonar.
Frades do Monte de Crestelo!
Quando eu choro, choras comigo
Meu velho Cão! és meu amigo...
Tu nunca me hás-de abandonar.
Frades do Monte de Crestelo!
Abri-me as portas!
quero entrar...
Cortai-me as barbas e o cabelo,
Vesti-me esse hábito singelo...
Deixai-me entrar!
Moço Lusíada! criança!
Cortai-me as barbas e o cabelo,
Vesti-me esse hábito singelo...
Deixai-me entrar!
Moço Lusíada! criança!
Por que estás
triste, a meditar?
Vês teu país sem esperança
Que todo alui, à semelhança
Dos castelos que ergueste no Ar?
Vês teu país sem esperança
Que todo alui, à semelhança
Dos castelos que ergueste no Ar?
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Aspectos do ex-voto pictórico português
CARLOS NOGUEIRA
CENTRO DE TRADIÇÕES POPULARES PORTUGUESAS
“PROF. MANUEL VIEGAS GUERREIRO” / UNIVERSIDADE DE LISBOA
Resumo
O ex-voto, como objecto, que, colocado em ermidas, igrejas, capelas, etc., se oferece a Deus, à Virgem Maria ou a um santo, em cumprimento de um voto (do latim ex voto, “segundo promessa”), tem, em Portugal, uma das expressões mais quantiosas e ricas nas tábuas, painéis, quadros ou retábulos votivos, a que se atribui ainda a designação de “milagres” (por empréstimo sinedóquico da fórmula de abertura de grande parte destes artefactos, a qual, de resto, de todas aquela que certamente não é apenas do uso de especialistas, reenvia imediatamente para a práxis religiosa que se celebra e para o conteúdo diegético humano-religioso que ali se concentra). As narrativas pictóricas neles plasmadas, alusivas, na sua maioria, a moribundos e a naufrágios, a par das inscrições que os acompanham e prolongam, consubstanciam uma fenomenologia do corpo e da alma que importa conhecer, para o que é necessário convocar conhecimentos interdisciplinares (da semiologia, da estética, da literatura, da linguística, da etnologia, da sociologia, da religião...).
DAQUI
Oração ao deitar - Serra da Estrela
«Com Deus me deito
Com Deus me levanto
Com a graça de Deus e do Divino Espírito Santo.
Com três anjos aos pés
e quatro à cabeceira,
e Nossa Senhora na dianteira.
Se eu dormir embalai-me
Se eu morrer, acompanhai-me»
in: Pinharanda Gomes, "Piedade Eclesial, Piedade Popular", Separata de LAIKOS, Lisboa, 1980
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Raúl Brandão - Memórias (vol.III)
HÁ QUE TEMPOS!...
Duas sombras têm acompanhado a minha vida e estão aqui a meu lado... Minha mãe gastou-se a sonhar, só nervos e paixão: viu cair por terra todos os seus sonhos – e teimou em sonhar, atrevendo-se contra todo o universo! A realidade temerosa afastou-a sempre de si. Venceu-a. Deu-nos vida a todos. Alimentou-nos do mesmo sonho que a devorou até final, sem medo da morte, como se a morte fosse a continuação natural da vida. Foi dela que herdei a sensibilidade e o amor pelas árvores, pela água, e dela herdei também o sonho... Bastava que a bica do quintal- deitasse menos para minha mãe adoecer. Ficava horas a olhar, extasiada, o pouco de musgo humedecido, donde escorria, vindo da escuridão, com um hálito de frescura, o fio azul infatigável, que caía em baixo, desfeito em milhares de gotas líquidas que logo subiam à superfície reluzindo em bolhas iluminadas. Às vezes íamos vê-la brotar no fundo da mina, e ansiosos e calados assistíamos na escuridão ao nascer misterioso da água borbulhando na madre e escorrendo logo pela caleira de pedra. Quando mais tarde minei o monte, fi-lo com a mesma ansiedade. Ver na terra sequiosa e inútil escorrerem as primeiras gotas que lhe dão vida e a transformam é um dos espectáculos mais lindos que conheço. É criar.
De Verão, ao levantar-se muito cedo, o primeiro olhar de minha mãe era para a fonte, que se ia reduzindo, desde o jorro de Inverno que transborda ao fio de Setembro, deitado com aflição. Em Agosto secam os montes, em Setembro secam as fontes.
– Se secasse!...
De noite punha o ouvido à escuta – como me acontece ainda hoje a mim. No silêncio profundo aquela voz é extraordinária de frescura e pureza. Nenhuma outra me fala da mesma maneira – nem a das folhas, nem a do vento –, nenhuma outra me fala tão baixinho e com tanto encanto. Às vezes muda de tomàs vezes, e por momentos, emudece. Secou! E lá torna a correr...
Plantou árvores até aos últimos dias – como eu as planto. E, já prostrada, mantinha de pé a ilusão. e teimava em sonhar – como eu sonho até ao fim da vida. Foi tal o frenesi, o encanto, as lágrimas, que ainda hoje vivo da vida de minha mãe. Às vezes sonhávamos juntos. Sentava-me ao pé dela e era capaz de estar assim horas perdidas. Ou, tendo corrido pelo quintal numa exaltação, ia direito ao alegrete e desatava aos soluços com a cabeça no seu colo. Ela não me dizia palavra nem me estranhava sequer – talvez porque visse em mim reproduzida a mesma sensibilidade exagerada; só me passava a mão na cabeça, e àquele contacto ia serenando e chorando cada vez mais baixinho... A lua aparecia atrás dos montes, sobre a mais bela paisagem do Mundo porque a paisagem mais bela é aquela em que fomos criados e que faz parte da nossa substância.
Há imagens tão delicadas no fundo do meu ser, que tenho medo que desapareçam tocando-lhes. Apagaram-se pouco e pouco. Melhor: transformaram-se pouco e pouco, mais desvanecidas e mais lindas, num fundo de auréola como certas figuras dos livros. Sinto-a doirada. Pura e doirada. Toda a matéria desapareceu, reduzida a fios de aranha. Ficou uma luz – sentimento que liga as suas raízes às minhas raízes.É quase nada e faz parte da essência da minha alma.
O meu sonho está preso por um fio ténue e indestrutível ao fundo do seu sepulcro. Só uma única coisa se me conservou intacta na memória – o seu olhar. Talvez porque o amor nunca mais se apaga – talvez porque a luz seja a única realidade do mundo – o que é certo é que eu e ela olhamos ainda hoje um para o outro com a mesma ansiedade e o mesmo amor.
Foi ela quem me falou pela primeira vez naquele pobre que costuma entrar pela porta dos desgraçados dentro, quando menos se espera, e se senta ao pé do lume: – Assim andava o Senhor pelo mundo!... –E eu fugia para o fundo do quintal, para sonhar com Ele. Nunca mais deixei de amar a solidão nem de ver esse pobre extraordinário que me tem acompanhado até à velhice.
Porque será que todas as outras sombras vejo distintamente – e minha mãe não? Minha mãe é um fantasma de saudade, que lá está todas as noites sentada ao pé da bica. Não a separo desse fio, que a lua toca por momentos com o seu dedo molhado de branco – e que nasce para apagar a sede de todos com indiferença, mas que só fala com encanto aos que sabem amar...
A Mari’Emília foi, até morrer, nossa criada. Era um tipo popular, de energia admirável. Estou a vê-la de bigode branco, olhos espertos dum azul já um pouco desbotado pela velhice, mas teimando em exprimir ternura até à morte. Vejo-lhe a boca desdentada a sorrir e sinto nas minhas mãos o calor das suas mãos e o dedo grosso e enorme a que me apegava quando ia para a mestra na Foz Velha. Doente duma perna, sempre a conheci a mancar. Atravessou toda a vida a mancar e a sorrir. Porque essa é que era a expressão mais intima e mais bela da sua alma: a alegria na desgraça. Infatigável e risonha – o riso sempre pronto no trabalho e na dor. Só a conheci alegre e morreu com um sorriso e um dente, depois de nos servir a vida inteira. A Mari’Enlília era já uma pessoa da família. Raro saía.. As mulheres do seu tempo estavam habituadas à reclusão e só saíam para a missa de capote e coca. A bem dizer-se, a vida conventual estendia-se até cá fora: em todos os quartos de dormir havia um oratório, de castanho ou pau-santo onde dia e noite ardia a lamparina. O da Mari’Emília era tão lindo como a sua alma: o Jesus crucificado sobressaia do fundo de papel azul com estrelinhas doiradas, entre o Bom e o Mau Ladrão. Também lá se via, um pouco a frente, o Menino pela mão de Maria e de José – e, muito maior, outro personagem principal, entre duas velas de cera, Santo António, o santo da sua devoção, que lhe servia de medianeiro quando queria obter os favores celestiais. Do quarto ao lado, onde eu dormia, ouvia-a todas as noites rezar. Ouvia-a com espanto. Era um diálogo cheio de familiaridade com Santo António – era uma coisa pueril que fazia chegar as lágrimas aos olhos. Ela não só lhe pedia – ralhava com ele como ralhava comigo, com autoridade e ternura.
– Tu ouves?... – Silêncio. – Tu ouves?... Tu não me queres ouvir!...– Outro silêncio (naturalmente ele respondia-lhe). – Então eu peço e tu não me ouves?! Tinha-te prometido umas velas de arrátel, mas já não te dou, meu maroto, senão umas de quarta!
E aquilo seguia, durante muito tempo, no mesmo tom, com exclamações e rogos, até eu adormecer...Ao fim de tantos anos de familiaridade, tinham chegado a tratar-se como velhos amigos.
Nos últimos anos, a Mari’Emília já não podia trabalhar, mas fazia, de manhã à noite, as meias de fio branco que meu pai usou até à morte – contando-nos histórias intermináveis. Aprendi com a Mari’Emília coisas extraordinárias – a religião, no que ela tem de mais vivo – o veio que passa escondido de alma para alma do povo e a piedade pelos humildes. Vi Jesus. Vi Jesus menino, a quem não é preciso mudar de túnica porque a túnica cresce naturalmente com Ele; vi-O fazendo pássaros de barro e soprando-lhes para eles voarem. Vi-O, depois, à porta do rico soberbo que O repele – vi-O sobretudo aparecer nas horas em que se sofre e se espera. Esta religião viva e escondida, esta ânsia do pobre – esta aspiração que não morre para uma vida mais perfeita e mais bela, transmitiu-me uma criada velha e humilde – que tenho sempre diante de mim mancle-mancle, a sorrir- -me com os olhos azuis já turvos pelos anos. E com ela quero viver e morrer.
Que é que nós lhe demos para assim nos amar? Sofrimento, trabalho até cair exausta de dedicação. E ela deu-nos à vida a alegria. Mancou e riu até ao fim. Nenhuma desgraça pôde com ela.Resistiu sempre. Serviu e amou. E no fim morreu ainda servindo-nos e com estas palavras na boca: – Levo-vos no coração!
De Verão, ao levantar-se muito cedo, o primeiro olhar de minha mãe era para a fonte, que se ia reduzindo, desde o jorro de Inverno que transborda ao fio de Setembro, deitado com aflição. Em Agosto secam os montes, em Setembro secam as fontes.
– Se secasse!...
De noite punha o ouvido à escuta – como me acontece ainda hoje a mim. No silêncio profundo aquela voz é extraordinária de frescura e pureza. Nenhuma outra me fala da mesma maneira – nem a das folhas, nem a do vento –, nenhuma outra me fala tão baixinho e com tanto encanto. Às vezes muda de tomàs vezes, e por momentos, emudece. Secou! E lá torna a correr...
Plantou árvores até aos últimos dias – como eu as planto. E, já prostrada, mantinha de pé a ilusão. e teimava em sonhar – como eu sonho até ao fim da vida. Foi tal o frenesi, o encanto, as lágrimas, que ainda hoje vivo da vida de minha mãe. Às vezes sonhávamos juntos. Sentava-me ao pé dela e era capaz de estar assim horas perdidas. Ou, tendo corrido pelo quintal numa exaltação, ia direito ao alegrete e desatava aos soluços com a cabeça no seu colo. Ela não me dizia palavra nem me estranhava sequer – talvez porque visse em mim reproduzida a mesma sensibilidade exagerada; só me passava a mão na cabeça, e àquele contacto ia serenando e chorando cada vez mais baixinho... A lua aparecia atrás dos montes, sobre a mais bela paisagem do Mundo porque a paisagem mais bela é aquela em que fomos criados e que faz parte da nossa substância.
Há imagens tão delicadas no fundo do meu ser, que tenho medo que desapareçam tocando-lhes. Apagaram-se pouco e pouco. Melhor: transformaram-se pouco e pouco, mais desvanecidas e mais lindas, num fundo de auréola como certas figuras dos livros. Sinto-a doirada. Pura e doirada. Toda a matéria desapareceu, reduzida a fios de aranha. Ficou uma luz – sentimento que liga as suas raízes às minhas raízes.É quase nada e faz parte da essência da minha alma.
O meu sonho está preso por um fio ténue e indestrutível ao fundo do seu sepulcro. Só uma única coisa se me conservou intacta na memória – o seu olhar. Talvez porque o amor nunca mais se apaga – talvez porque a luz seja a única realidade do mundo – o que é certo é que eu e ela olhamos ainda hoje um para o outro com a mesma ansiedade e o mesmo amor.
Foi ela quem me falou pela primeira vez naquele pobre que costuma entrar pela porta dos desgraçados dentro, quando menos se espera, e se senta ao pé do lume: – Assim andava o Senhor pelo mundo!... –E eu fugia para o fundo do quintal, para sonhar com Ele. Nunca mais deixei de amar a solidão nem de ver esse pobre extraordinário que me tem acompanhado até à velhice.
Porque será que todas as outras sombras vejo distintamente – e minha mãe não? Minha mãe é um fantasma de saudade, que lá está todas as noites sentada ao pé da bica. Não a separo desse fio, que a lua toca por momentos com o seu dedo molhado de branco – e que nasce para apagar a sede de todos com indiferença, mas que só fala com encanto aos que sabem amar...
A Mari’Emília foi, até morrer, nossa criada. Era um tipo popular, de energia admirável. Estou a vê-la de bigode branco, olhos espertos dum azul já um pouco desbotado pela velhice, mas teimando em exprimir ternura até à morte. Vejo-lhe a boca desdentada a sorrir e sinto nas minhas mãos o calor das suas mãos e o dedo grosso e enorme a que me apegava quando ia para a mestra na Foz Velha. Doente duma perna, sempre a conheci a mancar. Atravessou toda a vida a mancar e a sorrir. Porque essa é que era a expressão mais intima e mais bela da sua alma: a alegria na desgraça. Infatigável e risonha – o riso sempre pronto no trabalho e na dor. Só a conheci alegre e morreu com um sorriso e um dente, depois de nos servir a vida inteira. A Mari’Enlília era já uma pessoa da família. Raro saía.. As mulheres do seu tempo estavam habituadas à reclusão e só saíam para a missa de capote e coca. A bem dizer-se, a vida conventual estendia-se até cá fora: em todos os quartos de dormir havia um oratório, de castanho ou pau-santo onde dia e noite ardia a lamparina. O da Mari’Emília era tão lindo como a sua alma: o Jesus crucificado sobressaia do fundo de papel azul com estrelinhas doiradas, entre o Bom e o Mau Ladrão. Também lá se via, um pouco a frente, o Menino pela mão de Maria e de José – e, muito maior, outro personagem principal, entre duas velas de cera, Santo António, o santo da sua devoção, que lhe servia de medianeiro quando queria obter os favores celestiais. Do quarto ao lado, onde eu dormia, ouvia-a todas as noites rezar. Ouvia-a com espanto. Era um diálogo cheio de familiaridade com Santo António – era uma coisa pueril que fazia chegar as lágrimas aos olhos. Ela não só lhe pedia – ralhava com ele como ralhava comigo, com autoridade e ternura.
– Tu ouves?... – Silêncio. – Tu ouves?... Tu não me queres ouvir!...– Outro silêncio (naturalmente ele respondia-lhe). – Então eu peço e tu não me ouves?! Tinha-te prometido umas velas de arrátel, mas já não te dou, meu maroto, senão umas de quarta!
E aquilo seguia, durante muito tempo, no mesmo tom, com exclamações e rogos, até eu adormecer...Ao fim de tantos anos de familiaridade, tinham chegado a tratar-se como velhos amigos.
Nos últimos anos, a Mari’Emília já não podia trabalhar, mas fazia, de manhã à noite, as meias de fio branco que meu pai usou até à morte – contando-nos histórias intermináveis. Aprendi com a Mari’Emília coisas extraordinárias – a religião, no que ela tem de mais vivo – o veio que passa escondido de alma para alma do povo e a piedade pelos humildes. Vi Jesus. Vi Jesus menino, a quem não é preciso mudar de túnica porque a túnica cresce naturalmente com Ele; vi-O fazendo pássaros de barro e soprando-lhes para eles voarem. Vi-O, depois, à porta do rico soberbo que O repele – vi-O sobretudo aparecer nas horas em que se sofre e se espera. Esta religião viva e escondida, esta ânsia do pobre – esta aspiração que não morre para uma vida mais perfeita e mais bela, transmitiu-me uma criada velha e humilde – que tenho sempre diante de mim mancle-mancle, a sorrir- -me com os olhos azuis já turvos pelos anos. E com ela quero viver e morrer.
Que é que nós lhe demos para assim nos amar? Sofrimento, trabalho até cair exausta de dedicação. E ela deu-nos à vida a alegria. Mancou e riu até ao fim. Nenhuma desgraça pôde com ela.Resistiu sempre. Serviu e amou. E no fim morreu ainda servindo-nos e com estas palavras na boca: – Levo-vos no coração!
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Sereias no cancioneiro popular
A crença nas Sereias é ainda viva. Elas são raparigas da cinta para cima e peixes da cinta para baixo. Cantam muito bem e enganam os navios (Minho, Beira Alta, Trás-os-Montes, Galiza).
São vulgares estes versos, fragmentos de um romance popular, mas que se dizem como cantiga:
Ouvi cantá-la Sereia
Lá no meio desse mar:
Muito navio se perde
Aos som daquele cantar.
Lá no meio desse mar,
Ouvi cantar, escutei:
Saiu-me a Senhora Sereia
Lá no palácio d'el-rei
Esta noite, à meia-noite,
Ouvi um lindo cantar:
Eram os anjos no céu
Ou as sereia no mar.
Na Galiza dizem:
A Sereia no mar,
É unha linda bizarra,
Quer por unha maldicion,
Tén-na Dios nesa auga.
Valla-me Dios! como canta
A Sereia no mar...
Os navios déron volta
Para y-a ouvir cantar.
Nos Açores ainda existe a crença nas Fadas marinhas, ou sereias, que vêm pentear-se à praia. Num romance da ilha de São Jorge (Cantos pop. do Arquipélago Açoriano, por T. Braga, n.¨ 28 e 32 ) diz-se:
Escutai se q'reis ouvir
Um rico, doce cantar!
Devem ser as Marinhas
Ou os peixinhos do mar.
Que vozes do céo são estas,
que eu aqui ouço cantar?
Ou são anjos no céo
Ou as Sereias no mar.
IN: José Leite de Vasconcelos, Tradições populares de Portugal, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1984 p.119
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Santa Agata
Imagem de Santa Agata, Azambuja |
Virgem e mártir, nasceu na Sicília. Segundo uma lenda foi entregue a uma prostituta e foram-lhe cortados os seios; mas S. Pedro curou-a desta mutilação. O seu culto estendeu-se à Igreja universal e o seu nome é lembrado na I Oração Eucarística (Cânone Romano). Várias vezes libertou a sua cidade natal das erupções do temível vulcão Etna. É a protectora das lactentes (humanos e animais), dos fundidores e dos ourives. É figurada com um vaso numa mão, cheia de seios cortados, e na outra com uma faca ou um par de tenazes. A sua festa é a 5 de Fevereiro. Portugal tem uma cidade com o seu nome. [...]
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