segunda-feira, 3 de novembro de 2014
CANÇÃO
"triste como um rio, sereno como as pontes..."
fio d'água transparente
balança de luz
na noite que se alarga
serena como um rio
serena como as pontes
estátua que conduz
estátua que conduz
o cintilar do negro
na noite que se alarga
serena como um rio
serena como as pontes
o gato que se enrola
o gato que se enrola
a limitar o brilho
que identifica o negro
que a noite percorre
sereno como um rio
sereno como as pontes
palácio que esqueci
palácio que esqueci
teu corpo já estrangeiro
no nome tão distante
felino ainda na noite
triste como um rio
triste como um rio
sereno como as pontes
Manuel de Castro, A Estrela Rutilante, ed. do autor
domingo, 2 de novembro de 2014
sábado, 1 de novembro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Luís Miguel Nava - Rios
Aqui, onde o vemos
correr, o rio mais não é que uma cortina, por trás
da qual corre outro rio. O
que no primeiro se reflecte
no outro transfigura-se.
Desprende-se o primeiro
do plano a que os sentidos o
mantêm agarrado, para assim
melhor entrar na alma, de cuja
incerta superfície faz as margens.
Disto isto doutra forma: assenta-nos
as margens na aspereza
da alma, a cujas reetrâncias
(já dizia o Pessoa) o sol não chega.
Mas nem ele é preciso. Uma só vela
nas trevas basta
para que o rio se ilumine
desde a foz à nascente.
É esse rio, idêntico a uma porta
que existe só por dentro e que por fora
foi já toda comida pelas trevas, que
nos serve de metáfora do tempo
(só o outro é literal)
e, tal como nas trevas - onde as ervas
e as flores são invisíveis -
o aroma verdeja, assim
o tempo, escoando-se, adquire
a cor da erva: e ontem, hoje
e amanhã mais não são do que tantos outros tons de
verde
que bovinamente a alma saboreia.
AQUI
terça-feira, 7 de outubro de 2014
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
António Lopes Ribeiro - Lisboa de Hoje e de Amanhã, 1948
Lisboa de Hoje e de Amanhã é um documentário português realizado,
escrito e narrado por António Lopes Ribeiro, produzido pela Câmara
Municipal de Lisboa, no ano de 1948. Consiste numa série de pequenas
filmagens de algumas zonas da cidade, com a explicação das mesmas por
Lopes Ribeiro e, música de fundo.
Este documentário é uma análise da cidade de Lisboa, feita por António Lopes Ribeiro, de quatro perspectivas: habitação, circulação, trabalho e, espaços de lazer. São divididas por quatro partes, cada uma com 10 minutos de duração. Num Portugal indirectamente devastado pela Segunda Guerra Mundial, este filme apresenta aquilo que já pudera ser feito e, tudo o que estava planeado fazer para tornar Lisboa numa cidade pioneira ao nível dos quatro pilares referidos. AQUI
Este documentário é uma análise da cidade de Lisboa, feita por António Lopes Ribeiro, de quatro perspectivas: habitação, circulação, trabalho e, espaços de lazer. São divididas por quatro partes, cada uma com 10 minutos de duração. Num Portugal indirectamente devastado pela Segunda Guerra Mundial, este filme apresenta aquilo que já pudera ser feito e, tudo o que estava planeado fazer para tornar Lisboa numa cidade pioneira ao nível dos quatro pilares referidos. AQUI
terça-feira, 23 de setembro de 2014
"Os 'Olhares Fotográficos' dos estrangeiros" sobre Portugal
François Le Diascorn, Lamentações das três Marias, Évora, Portugal 1980 |
Sabine Weiss, Interior de igreja em Portugal, 1954 |
Cartier Bresson, 'Confissão', Igreja dos Jerónimos, 1954 |
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Francisco Bugalho - Rega
Longa, lenta, melancólica,
Cantou a velha canção,
A nora triste da horta.
E uns brandos ares de bucólica
- Oh, lírica solidão! -
Bateram à minha porta.
Terra sedenta que espera,
Ansiosa todo o dia,
Estes momentos da tarde,
Agora se desaltera.
- Que, a esta hora tardia,
O beijo do sol não arde.
Toda se dá em perfumes
Que lembram, a quem os sente,
Vagos, sensuais desatinos.
Andam no ar vaga-lumes.
E a terra, molhada e ardente,
Tem desejos femininos...
Depois, a nora calou-se.
Ficaram-se murmurando,
Nos regos, já invisíveis,
- Murmúrio leve e tão doce!... -
Águas que vão retratando
Finas estrelas insensíveis.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Luis Manuel Gaspar - A Morte Nunca Existiu
luis manuel gaspar, «a morte nunca existiu (antónio joaquim lança / josé mário branco)», '40xABRIL', lisboa, abysmo, 2014 |
LUÍS MIGUEL NAVA - DOIS RIOS
O corpo dividido em duas partes
fechadas
à chave uma na outra, avanço
num duplo coração como se fosse
ao mesmo tempo num só barco por dois rios.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Ermida da Memória, Cabo Espichel
Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014 |
A segunda tradição
do culto de Nossa Senhora do Cabo é transmitida por Frei Agostinho de
Santa Maria, no Santuário Mariano. "Outros affirmarão que a Senhora
apparecera na praya que lhe fica em baixo da mesma penha, aonde se
aedifcou a Ermidinha, e que apparecera sobre uma jumentinha, e que esta
suba pela rocha assima, e que ao subir hia firmando as mãos, e os pés na
mesma rocha, deixando impressos nella os vestígios das mãos, e pés; e
que de ser isto assim o affirmava a tradição dos que virão estes mesmo
sinaes, que já hoje tem gastado, e consumido o tempo. E como a Deos lhe
não he impossivel obrar mayores maravilhas, bem podemos crer obraria
esta, para que assim fosse por ella buscada, evenerada aquella
Santissima Imagem. Aquella Ermidinha que se fundo no lugar aonde a
Senhora parou, naquella liteirinha vivente que a levava, desfez muytas
vezes o tempo; mas a devoçam dos que a servem, a reformou outras tantas
vezes, pezar dos seus rigores". DAQUI
Helena Nilo | 14 de Agosto de 2014 |
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Linho
30 de Dezembro
A vida é tecida como o linho: um fio de dor, um fio de ternura. Eu intrometo-lhe sempre um fio de sonho. Foi o que me perdeu.
Raul Brandão, Húmus
fotografia de Artur Pastor [Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico] |
fotografia de Artur Pastor [Arquivo Municipal de Lisboa | Núcleo Fotográfico] |
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Eugénio de Andrade - Véspera da Água
Tudo lhe doía
de tanto que lhes queria:
a terra
e o seu muro de tristeza,
um rumor adolescente,
não de vespas
mas de tílias,
a respiração do trigo,
o fogo reunido na cintura,
um beijo aberto na sombra,
tudo lhe doía:
a frágil e doce e mansa
masculina água dos olhos,
o carmim entornado nos espelhos,
os lábios,
instrumentos da alegria,
de tanto que lhes queria:
os dulcíssimos melancólicos
magníficos animais amedrontados,
um verão difícil
em altos leitos de areia,
a haste delicada de um suspiro,
o comércio dos dedos em ruína,
a harpa inacabada
da ternura,
um pulso claramente pensativo,
lhe doía:
na véspera de ser homem,
na véspera de ser água,
o tempo ardido,
rouxinol estrangulado,
meu amor: amora branca,
o rio
inclinado
para as aves,
a nudez partilhada, os jogos matinais,
ou se preferem: nupciais,
o silêncio torrencial,
a reverência dos mastros,
no intervalo das espadas
uma criança corre
corre na colina
atrás do vento,
de tanto que lhes queria,
tudo tudo lhe doía.
IN: Obscuro Domínio, 1971
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Bernardo Soares - O RIO DA POSSE
Que somos todos diferentes, é um axioma da nossa naturalidade. Só nos parecemos de longe, na proporção, portanto, em que não somos nós. A vida é, por isso, para os indefinidos; só podem conviver os que nunca se definem, e são, um e outro, ninguéns.
Cada um de nós é dois, e quando duas pessoas se encontram, se aproximam, se ligam, é raro que as quatro possam estar de acordo.
O homem que sonha em cada homem que age, se tantas vezes se malquista com o homem que age, como não se malquistará com o homem que age e o homem que sonha no Outro.
Somos forças porque somos vidas. Cada um de nós tende para si próprio com escala pelos outros. Se temos por nós mesmos o respeito de nos acharmos interessantes, (...) Toda a aproximação é um conflito. O outro é sempre o obstáculo para quem procura. Só quem não procura é feliz; porque só quem não busca encontra, visto que quem não procura já tem, e já ter, seja o que for, é ser feliz (como não pensar é a parte melhor, de ser rico).
Olho para ti, dentro de mim, noiva suposta, e já nos desavimos antes de existires. O meu hábito de sonhar claro dá-me uma noção justa da realidade. Quem sonha demais precisa de dar realidade ao sonho. Quem dá realidade ao sonho tem que dar ao sonho o equilíbrio da realidade. Quem dá ao sonho o equilíbrio da realidade, sofre da realidade de sonhar tanto como da realidade da vida (e do irreal do sonho com o de sentir a vida irreal).
Estou-te esperando, em devaneio, no nosso quarto com duas portas, e sonho-te vindo e no meu sonho entras até mim pela porta da direita; se, quando entras, entras pela porta da esquerda, há já uma diferença entre ti e o meu sonho. Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos.
O amor perde identidade na diferença, o que é impossível já na lógica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que só torna seu se não é. Amar é entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega também a consciência do outro. O amor maior é por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renúncia — os amores todos que são os absurdiandos do amor.
No terraço antigo do palácio, alçado sobre o mar, meditaremos em silêncio a diferença entre nós. Eu era príncipe e tu princesa, no terraço à beira do mar. O nosso amor nascera do nosso encontro, como a beleza se criou do encontro da Lua com as águas.
O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou já diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente.
O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.
Metafísico. Mas toda a vida é uma metafísica às escuras, com um rumor de deuses e o desconhecimento da rota como única via.
A pior astúcia comigo da minha decadência é o meu amor à saúde e à claridade. Achei sempre que um corpo belo e o ritmo feliz de um andar jovem tinham mais competência no mundo que todos os sonhos que há em mim. E com uma alegria da velhice pelo espírito que sigo às vezes — sem inveja nem desejo — os pares casuais que a tarde junta e caminham braço com braço para a consciência inconsciente da juventude. Gozo-os como gozo uma verdade, sem que pense se me diz ou não respeito. Se os comparo a mim, continuo gozando-os, mas como quem goza uma verdade que o fere, juntando à dor da ferida a consciência de ter compreendido os deuses.
Sou o contrário dos espiritualistas simbolistas, para quem todo o ser, e todo o acontecimento, é a sombra de uma realidade de que é a sombra apenas. Cada coisa, para mim, é, em vez de um ponto de chegada, um ponto de partida. Para o ocultista tudo acaba em tudo; tudo começa em tudo para mim.
Procedo, como eles, por analogia e sugestão, mas o jardim pequeno que lhes sugere a ordem e a beleza da alma, a mim não lembra mais que o jardim maior onde possa ser, longe dos homens, feliz a vida que o não pode ser. Cada coisa sugere-me não a realidade de que é a sombra, mas a realidade para que é o caminho.
O jardim da Estrela, à tarde, é para mim a sugestão de um parque antigo, nos séculos antes do descontentamento da alma.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I.
Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete
Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado
Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.
- 273.
- 273.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
DAQUI: http://arquivopessoa.net/textos/1299
DAQUI: http://arquivopessoa.net/textos/1299
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Provérbios populares sobre a Lenda São Martinho
Provérbios populares do dia São Martinho
- No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho.
- Mais vale um castanheiro do que um saco com dinheiro.
- Dia de S. Martinho fura o teu pipinho.
- Do dia de S. Martinho ao Natal, o médico e o boticário enchem o teu bornal.
- Pelo S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.
- Se o Inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo S. Martinho.
- Se queres pasmar teu vizinho lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
- Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
- Pelo S. Martinho, prova o teu vinho, ao cabo de um ano já não te faz dano.
- Pelo S. Martinho mata o teu porco e bebe o teu vinho.
- Pelo S. Martinho semeia favas e vinho.
- Pelo S. Martinho, nem nado nem cabacinho.
- Água-pé, castanhas e vinho faz-se uma boa festa pelo S. Martinho.
- No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho.
- Mais vale um castanheiro do que um saco com dinheiro.
- Dia de S. Martinho fura o teu pipinho.
- Do dia de S. Martinho ao Natal, o médico e o boticário enchem o teu bornal.
- Pelo S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.
- Se o Inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo S. Martinho.
- Se queres pasmar teu vizinho lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho.
- Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho.
- Pelo S. Martinho, prova o teu vinho, ao cabo de um ano já não te faz dano.
- Pelo S. Martinho mata o teu porco e bebe o teu vinho.
- Pelo S. Martinho semeia favas e vinho.
- Pelo S. Martinho, nem nado nem cabacinho.
- Água-pé, castanhas e vinho faz-se uma boa festa pelo S. Martinho.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Bernardo Soares - ...e as algas como molhados cabelos empastando o rosto...
...e as algas como molhados cabelos empastando o rosto morto das águas.
Um som suave de rio largo, uma indecisa frescura aquática, uma saudade audível, oculta, um amarelo morto de movimento.
Leves, leves as sombras calmas.
A noite era cheia daquelas pequenas nuvens muito brancas, que se destacam umas das outras. Vista através de uma ou outra delas, a Lua tinha em seu torno um halo azul, castanho e amarelo, com uns tons supostos de verde-vivo. Entre as árvores o céu era dum azul-negro profundíssimo, longínquo, irrevogável. As estrelas viam-se ora através das nuvens, ora, muito longe, mas entre elas. Uma saudade de coisas idas, de grandes passados da alma, talvez porque em reencarnações antigas, olhos nossos, no corpo físico, houvesse visto, este luar sobre florestas longínquas, quando selvática ainda, a alma infanta talvez pressentia, por uma memória em Deus ao contrário, no futuro das suas reencarnações, esta lua retrospectiva. E assim essas duas luas davam mãos de sombra por sobre a minha cabeça abatida.
Um som suave de rio largo, uma indecisa frescura aquática, uma saudade audível, oculta, um amarelo morto de movimento.
Leves, leves as sombras calmas.
A noite era cheia daquelas pequenas nuvens muito brancas, que se destacam umas das outras. Vista através de uma ou outra delas, a Lua tinha em seu torno um halo azul, castanho e amarelo, com uns tons supostos de verde-vivo. Entre as árvores o céu era dum azul-negro profundíssimo, longínquo, irrevogável. As estrelas viam-se ora através das nuvens, ora, muito longe, mas entre elas. Uma saudade de coisas idas, de grandes passados da alma, talvez porque em reencarnações antigas, olhos nossos, no corpo físico, houvesse visto, este luar sobre florestas longínquas, quando selvática ainda, a alma infanta talvez pressentia, por uma memória em Deus ao contrário, no futuro das suas reencarnações, esta lua retrospectiva. E assim essas duas luas davam mãos de sombra por sobre a minha cabeça abatida.
s.d.
Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990. - 82.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/2117
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/2117
Bernardo Soares - Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo...
Os teus colares de pérolas fingidas amaram comigo as minhas horas
melhores. Eram cravos as flores preferidas, talvez porque não
significavam requintes. Os teus lábios festejavam sobriamente a ironia
do seu próprio sorriso. Compreendias bem o teu destino? Era por o
conheceres sem que o compreendesses que o mistério escrito na tristeza
dos teus olhos sombreara tanto os teus lábios desistidos. A nossa Pátria
estava demasiado longe para rosas. Nas cascatas dos nossos jardins a
água era pelúcida de silêncios. Nas pequenas cavidades rugosas das
pedras, por onde a água escolhia, havia segredos que tivéramos quando
crianças, sonhos do tamanho parado dos nossos soldados de chumbo, que
podiam ser postos nas pedras da cascata, na execução estática duma
grande acção militar, sem que faltasse nada aos nossos sonhos, nem nada
tardasse às nossas suposições.
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I.
Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete
Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado
Coelho.) Lisboa: Ática, 1982. - 266.
"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/140
daqui: http://arquivopessoa.net/textos/140
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Luiza Neto Jorge - ANOS QUARENTA, OS MEUS
fotografia de Artur Pastor |
ANOS QUARENTA, OS MEUS
De eléctrico andava a correr meio mundo
subia a colina ao castelo-fantasma
onde um pavão alto me aflorava muito
em sonhos, à noite. E sofria de asma
alma e ar reféns dentro do pulmão
(como o chimpanzé que à boca da jaula
respirava ainda pela estendida mão).
Salazar, três vezes, no eco da aula.
As verdiças tranças prontas a espigar
escondiam na auréola os mais duros ganchos.
E o meu coito quando jogava a apanhar
era nesse tronco do jardim dos anjos
que hoje inda esbraceja, numa árvore passiva.
Níqueis e organdis, espelhos e torpedos
acabou a guerra meu pai grita «Viva».
Deflagram no rio golfinhos brinquedos.
Já bate no cais das colunas uma
onda ultramarina onde singra um barco
pra Cacilhas e, no céu que ressuma
névoas, águas mil, um fictício arco-
-íris como que é, no seu cor-a-cor,
uma dor que ao pé doutra se indefine.
No cinema lis luz o projector
e o FIM através do tempo retine.
Luiza Neto Jorge
obrigada, Daniel
ALDEIAS SONORAS
“Aldeias Sonoras” é um projecto educativo da Binaural/Nodar
de mapeamento sonoro de zonas rurais portuguesas, em paralelo com o seu
levantamento geográfico, histórico e sócio-cultural. O projecto envolve
escolas básicas e secundárias de zonas rurais de diversas regiões de
Portugal, tendo ocorrido um primeiro módulo no ano lectivo 2008/2009 em
parceria com a Escola Secundária de São Pedro do Sul e um segundo módulo
no ano de 2010 em parceria com diversas escolas de zonas por onde passa
o rio Paiva, integrado no projecto “Paivascapes #1“
O projecto pretende evidenciar a riqueza sonora do mundo rural português e a necessidade de o registar, envolvendo crianças e jovens nessa descoberta, promovendo em paralelo o sentido de identidade, de diversidade e de orgulho em viver no campo.
“Aldeias Sonoras” envolve uma série de
módulos de aprendizagem teórico-prática, com o objectivo de dotar os
alunos de conhecimentos de tecnologias de registo e edição de sons,
utilização de blogs para a organização e distribuição de informação,
associando cada etapa do projecto a diversas disciplinas curriculares
(nas áreas da arte, história, cidadania, geografia, tecnologias de
informação, etc.).
obrigada, Daniel
Etiquetas:
água,
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fonte,
rio,
sonoplastia
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
domingo, 16 de junho de 2013
A Lenda do Sever
Eis a lenda que, com mais ou menos variantes, a tradição nos transmitiu:
Em distante e já remota época, numeroso e escolhido cortejo de damas e cavaleiros, de longada para as bandas de Castela, resolve descansar das fadigas da jornada junto às margens do rio e no sítio onde mais fácil se torna a sua passagem a vau. Ao pretender, porém, recomeçar a viagem, quando as damas se preparavam para compor os seus vestidos e alisar os cabelos desgrenhados pelos solavancos da travessia através dos ásperos córregos e do pedregoso trilho dos rústicos caminhos viram, com desconsolada surpresa, que em nenhuma das escouradas arcas de bagagem se encontrava um espelho, objecto tão necessário às mais novas e tafús e que havia esquecido na azáfama confusa da partida. Compreender-se-á o desespero em que esse facto lançaria as entristecidas e contrariadas damas, tão ávidas de bem parecer e para as quais o espelho é o mais dilecto, necessário e indispensável companheiro.
Diz-se mesmo que em algumas delas tal contratempo se denunciava por mal contidas e furtivas lágrimas, que não passaram despercebidas ao olhar atento e enamorado de um gentil moço e garboso cavaleiro da comitiva. Pressuroso e cortês acudiu este procurando remediar a contrariedade das aflitas damas, lembrando-lhes que não havia, em verdade, motivo para se entristecerem pois que, para substituir o espelho tinham elas ali bem perto um belo rio de SE VER.
Para comemorar a gentil lembrança do moço fidalgo e como prémio e agradecida homenagem à sua tão feliz e oportuna ideia puseram, então, as damas ao sítio onde haviam estado a pentear-se o lindo e romântico nome de «PORTO DOS CAVALEIROS», nome que ainda hoje lá se conserva e que a tradição liga a esta lenda tão perfumada de cortês e graciosa galantaria.».
Fonte Biblio COSTA, Alexandre de Carvalho Marvão, suas freguesias rurais e alguns lugares n/a, Câmara Municipal de Marvão, 1982 , p.49-50
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