sábado, 31 de março de 2018
sexta-feira, 30 de março de 2018
quinta-feira, 29 de março de 2018
Leo Jahn-Dietrichstein - Portugal zeitloses
Leo Jahn-Dietrichstein (fotógrafo austríaco, 1911-1984), Portugal Zeitloses, Argentic, 1957. Na capa barco da Costa da Caparica
domingo, 25 de março de 2018
Manuel de Freitas - Hotel Praia, Quarto 508
Para a Inês
I
São ruas que vão até ao mar, abruptamente
- ou é o mar que, desde sempre, nelas
encontrou morada? Indiferentes a esta pergunta
ociosa, as mulheres falam de casas, discutem
preços e amarguras, alugam barracas por um dia.
E vestem-se de luto ou de cores tão improváveis
como Deus, enquanto distribuem bênçãos,
pequenos rancores, rios de ouro sobre o peito.
Será talvez um modo atávico de exorcizarem a fome
nas casas que não têm mas alugam, sentadas junto ao mar.
pequenos rancores, rios de ouro sobre o peito.
Será talvez um modo atávico de exorcizarem a fome
nas casas que não têm mas alugam, sentadas junto ao mar.
Não sorriem nunca, por excesso ou falta de razões.
II
Não esperava, trinta anos depois, reconhecer
a Nazaré. Igual a sim mesma, fintou o progresso
no desmando da morte e no cheiro seco
dos carapaus jacentes (só um gato preto, sem
jeito para o negócio, foi poupado ao extermínio).
II
Não esperava, trinta anos depois, reconhecer
a Nazaré. Igual a sim mesma, fintou o progresso
no desmando da morte e no cheiro seco
dos carapaus jacentes (só um gato preto, sem
jeito para o negócio, foi poupado ao extermínio).
Diferente é apenas vê-la agora desta varanda,
contigo ao lado, e perceber a alegria que
irmana dos telhados e balcões, sob os farrapos
de uma língua apátrida que nem o amor
nem o mar conseguiriam devidamente pardonner.
contigo ao lado, e perceber a alegria que
irmana dos telhados e balcões, sob os farrapos
de uma língua apátrida que nem o amor
nem o mar conseguiriam devidamente pardonner.
Um homem de fato completo deixou-nos ver a lua.
III
III
Há quem veja na sereia, que um dia se cansou,
razão suficiente para tantas mortes.
E há quem desça sem temor as escadas que vão
do Forte ao rochedo do Guilhim. Nós, menos
confiantes, olhávamos as grutas, escolhíamos pedras.
Conchas com água dentro, recentes pedacinhos de ossos.
IV
IV
E era como se caminhássemos sobre a lua
e o vento de Agosto nos juntasse lado
a lado, quando já não há degraus.
Pedacinhos de Ossos
Manuel de Freitas
Averno, Lisboa, Novembro 2012
domingo, 4 de março de 2018
sábado, 3 de março de 2018
sexta-feira, 2 de março de 2018
Amália Rodrigues - Vagamundo (1961)
Um dia estava eu num acampamento e levaram-me o Alain Oulman, que tinha feito uma música a pensar em mim, o Vagamundo. Fui ouvir e gostei.
(…)
Para além da música, o Alain, com a sua vasta cultura, fez-me travar conhecimento com grandes poetas. Ele não só fazia as músicas, como ia procurar, aos livros de poesia, letras para as músicas. Dedicou-me um tempo grande. Não me influenciou mas, durante um tempo, andei toda contente com aquela descoberta que ele me trazia. Trabalhámos muito os dois.
(…)
O Alain trouxe um público que não estava comigo (…) Mas o Alain não me veio explicar nada. Eu é que quando não sabia alguma coisa lhe perguntava. (…) A partir deste primeiro disco, o Alain foi sempre muito importante para mim…
(…)
Para além da música, o Alain, com a sua vasta cultura, fez-me travar conhecimento com grandes poetas. Ele não só fazia as músicas, como ia procurar, aos livros de poesia, letras para as músicas. Dedicou-me um tempo grande. Não me influenciou mas, durante um tempo, andei toda contente com aquela descoberta que ele me trazia. Trabalhámos muito os dois.
(…)
O Alain trouxe um público que não estava comigo (…) Mas o Alain não me veio explicar nada. Eu é que quando não sabia alguma coisa lhe perguntava. (…) A partir deste primeiro disco, o Alain foi sempre muito importante para mim…
AMÁLIA RODRIGUES
Amália, uma Biografia por Vítor Pavão dos Santos,
Lisboa, Contexto Editora, p.151
Amália, uma Biografia por Vítor Pavão dos Santos,
Lisboa, Contexto Editora, p.151
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Alain Oulman |
quinta-feira, 1 de março de 2018
Arte xávega na Costa da Caparica a Património ImateriaL
LER ARTIGO AQUI
A pesca com a Arte-Xávega na Costa da
Caparica é uma prática de pesca local tradicional, cujos principais
elementos móveis são as embarcações e as redes ou artes. A chata
corresponde a um tipo de embarcação adaptado às condições do mar da
região. As chatas são construídas segundo as indicações do proprietário,
em estaleiros fora do concelho de Almada.
As chatas atualmente utilizadas na pesca com Arte-Xávega na Costa da
Caparica são construídas em madeira ou fibra com medidas aproximadas de
seis metros e vinte de comprimento, dois metros e quarenta de boca e
noventa centímetros de pontal (medidas da Chata S. José com a matricula
TR-151513-L). O fundo da embarcação, sem quilha, é plano para facilitar o
deslizamento na areia (de onde deriva a designação chata) a proa é
larga e elevada, para vencer a rebentação, com painel de popa onde está é
colocado o motor fora de bordo basculante.
A chata divide-se em Proa (onde vão os remadores), Sé do Meio
(compartimento onde se colocam as cordas e a rede) e Popa, onde segue o
arrais, o calador e o camarada que larga o saco.
Na cara do barco em ambos os lados do casco junto à proa, a grande
maioria dos barcos de pesca artesanal da Costa da Caparica tanto os
utilizados da Arte-Xávega como em outras artes de pesca, encontram-se
pintadas imagens de cariz simbólico sendo o olho o mais representativo,
contudo também se encontram outros símbolos tais como estrela,
rosa-dos-ventos, cruz, peixe estilizado, emblema desportivo. Conforme
refere Octávio Lixa Filgueiras estas representações de cariz mágico
religioso estarão associadas à proteção e / ou sacralização do barco
(FILGUEIRAS, 1978). Sendo mais comum a explicação da utilização do
“olho” como proteção contra o “mau-olhado” a dimensão sagrada
encontra-se igualmente patente nos nomes de alguns barcos como S. José,
Deus te Guie ou Há-de ser o que Deus Quiser. Ainda relativamente à
pintura do olho encontram-se várias interpretações junto dos pescadores:
a tradição ou até «para ver o peixe». Destaca-se contudo que entre as
várias representações estilizadas do “olho” pintado na cara do barco uma
das mais características da Costa da Caparica apresenta-se como uma
fusão de olho e peixe que na linha superior apresenta doze pestanas que
segundo alguns pescadores significam os doze apóstolos, alusão que
apresenta um paralelismo acentuado com a imagem votiva existente na
Igreja da Costa da Caparica representando um barco meia-lua tripulado
pelos doze apóstolo.
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