terça-feira, 12 de julho de 2011


foram observados bem de perto:

... pode deixar estupefacto qualquer observador que nunca se tenha cruzado com uma ave desta espécie








Julho calmoso faz o ano formoso.

Água de Julho, no rio faz barulho.

Em Julho, ao quinto dia verás que mês terás.

Julho fresco, Inverno chuvoso, estio perigoso.

Por muito que Julho queira ser, pouco há-de chover.

Em Julho ceifo o trigo e o debulho; em o vento lhe dando, o vou limpando. 



sexta-feira, 8 de julho de 2011

À MEMÓRIA DE MEU AVÔ FRANCISCO BORGES PIRES, MESTRE-ESCOLA E POETA - Emanuel Félix


Percorro com o olhar as figueiras e as vinhas
os campos semeados de milho
a luzerna ondulante.

Ouço o cacarejar perseguido das frangas
e tenho na boca o gosto das ameixas
colhidas quase verdes.

Reencontro os atalhos
por onde
descalça corre ainda a minha infância.

De longe vem o apelo do mar.

E é tudo
subitamente tão belo
como se tivesse de partir
ou acabasse de chegar.

Cabo da Praia, Setembro de 1970
Emanuel Félix

SEMPRE DISSE TAIS COISAS ESPERANÇANDO NA VULCANOLOGIA - 12 Poetas do Açores
Gota de Água - Casa da Moeda 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vinho


1. Vinho pela cor, pão pelo sabor.
2. Vinho, ouro e amigo, quanto mais velho melhor.
3. Vinho que baste, carne que farte, pão que sobre e seja eu pobre.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Reserva Natural do Estuário do Tejo




Ermida de Nossa Senhora de Alcamé


A Ermida de Nossa Senhora de Alcamé construída no século XVIII, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, era o espaço apropriado para os trabalhadores das Lezírias ali cumprirem as suas obrigações religiosas. Localiza-se na ZPE junto ao limite Norte da Reserva Natural. No final do século XIX, realizavam-se aqui episodicamente festas, organizadas por uma comissão de festeiros de que faziam parte lavradores de Vila Franca de Xira, Alhandra e Alverca. Nos anos 40, um grupo de proprietários retomou a organização das festas associando-as às do “Colete Encarnado” de Vila Franca de Xira. Nos últimos anos, a Associação de Varinos de Vila Franca de Xira tem dinamizado a realização da romaria pelo 17 de Junho, com a participação de outras associações locais. Os campinos, acompanhados pela banda e o cortejo, transportam o andor com a imagem da Nossa Senhora da Conceição desde a Igreja Matriz até ao cais, onde se realiza a cerimónia de embarque. A procissão prossegue pelo rio, em embarcações tradicionais todas engalanadas, até ao cais do Marquês. Aí o andor é transferido para uma charrete, seguindo o cortejo até à ermida. Aí, realizam-se as cerimónias religiosas, que incluem a benção dos gados, e o arraial com apresentação de ranchos folclóricos e actividades associadas aos cabrestos e campinos.

Aqui
e
Aqui










fotografias de Helena Nilo

domingo, 1 de maio de 2011

Festa de Nossa Senhora dos Milagres, Cernache - Coimbra

O Pão Ázimo


À noite dispunham-se num local amplo, geralmente numa "loja", oito "massadeiras", encostadas umas às outras, a formar um rectângulo.
Nelas se deitava a farinha, amassada depois ("tomada" no dizer local) por dezasseis rapazes (dois para cada massadeira), virados de frente uns para os outros, escolhidos entre os mais robustos do lugar.
A tarefa era acompanha pelo "preparador", um homem a quem competia vigiar a amassadura, e que, de vez em quando, deitava nas massadeiras a pouquíssima água que a massa levava.
Durante todo o processo eram entoadas "alvoradas" e cânticos populares de exaltação à Virgem.
Depois de pronta a massa era retirada das massadeiras pelo preparador e estendida por ele numa enorme pá em sete camadas (simbolizando os sete dias da semana).
A massa contida na última gamela (a oitava) servia para os enfeites, mais concretamente, para os elementos decorativos do pão ázimo (de formato rectângular), trabalho igualmente a cargo do preparador: as quatro pinhas (assentes no vértice, simbolizando o incenso); as duas pombas (com bicos voltados para fora, colocadas diametralmente opostas, a meio, no sentido da largura do pão, significando o Espírito Santo); as duas palmeiras (representando  a árvore do Paraíso), tendo de cada lado uma serpente bíblica, ondulando em direcção inversa, ao longo do comprimento do pão.
Chegados a este ponto da feitura do pão, os respectivos grupos saíam pelas ruas a entoar as alvoradas, para voltar ao mesmo lugar, a buscar o pão (coberto com caules de trigo verde, para que o forno o não queimasse), seguindo depois, cerca da meia-noite, em cortejo, até à "casa do forno" (utilizado apenas uma vez no ano, para este fim).
Na manhã do dia seguinte o pão era retirado do forno, pincelado com azeite e colocado num andor enfeitado com flores e verdura.


As alvoradas cantadas pelas ruas depois de amassado o pão:

Está sentada na pedrinha
A minha Virgem do Milagres;
Oh! Que tão baixa cadeira
Para tão alta Rainha.


Tem uma meada d'ouro
A minha Virgem dos Milagres,
Quem me dera ser a relva
P'ra ser o seu coradouro.


bolo santo


andor de Nossa Senhora dos Milagres

Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.

... e 8 de dezembro (II)

sábado, 30 de abril de 2011

dar à língua...

"as mulheres cando se juntam
a falar da vida alheia
começam na lua nova
e acabam na lua cheia"

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Festa do Bodo - 25 de Abril

Salvaterra do Extremo e Monfortinho - Idanha-A-Nova
Tempres e Chamiços








Nossa Senhora da Consolação

Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.

sábado, 23 de abril de 2011

Procissão do Enterro do Senhor - Loriga

Os Farricocos




Fotografia de Jorge Barros


Quinta-Feira Santa a Procissão do Senhor Ecce Homo, popularmente designada por Procissão do Senhor da Cana Verde, a lembrar as palavras proferidas por Pôncio Pilatos aos Judeus: «Eis o homem», quando lhes mostrou Jesus Cristo coroado de espinhos, com uma cana verde nas mãos a servir-lhe de ceptro. Nesta procissão incorporam-se, obrigatoriamente, todos os irmãos da Irmandade da Misericórdia.

À frente, descalços e encapuçados, caminham os «farricocos», vestidos com túnicas negras até meio da perna (os «balandraus»), uma corda atada à cintura, outra a cingir-lhes a testa e a cabeça, sobre uma espécie de capuz com dois buracos para os olhos.
Chamados igualmente «os homens dos fogaréus», transportam um cabo de madeira, altíssimo, na ponta do qual balança uma bacia de cobre contendo pinhas a arder em chama viva. São acompanhados por outros «farricocos» com cestas cheias de pinhas destinadas a alimentar os fogaréus.
Em tempos recuados competia aos «farricocos» a tarefa incómoda de «lançar as pulhas», ou seja, de divulgar ou caluniar publicamente os mais íntimos segredos de cada família, a coberto da escuridão e do disfarce, atingindo, indistintamente, quem calhava. Outras vezes, após a procissão, espalhavam-se pelas ruas, noite dentro, causando medo a quem com eles se cruzava.
Havia também os «farricocos» que se limitavam a fazer soar as «matráculas», após o silenciamento dos sinos, na intenção de chamar os fiéis ao culto ou a lembrar-lhes a confissão e a penitência – tal como se faz ainda hoje em Braga e noutras localidades durante o dia de Quinta-Feira Santa.
Na sua origem pagã, estes homens tinham por missão anunciar às pessoas, pelas ruas, utilizando as «matráculas», a passagem dos condenados, relatando os crimes por eles cometidos. Posteriormente cristianizados, os «farricocos», associados depois ao relato das «pulhas», limitam-se, actualmente, a tocar as «matráculas», mantendo a tradição litúrgica, e a fazer parte dos cortejos processionais desta quadra.


Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.

procissão do Senhor Ecce-Homo, em Braga



sexta-feira, 22 de abril de 2011

II




...




Santa Senhorinha


Santa Senhorinha (924?-22 de Abril de 982?)
Basto (Cabeceiras de Basto)
Festa no Domingo seguinte.

Sobre as formas de culto prestado à santa não existem muitas informações. Sabe-se que na Idade Média o túmulo era visitado por peregrinos do Alto Minho, da Galiza a até de Castela. Hoje é procurado por pessoas de lugares mais próximos que ali vão satisfazer promessas contraídas. Uma prática ainda corrente é a de retirar do vão onde está o seu sepulcro um pouco de terra, que se guarda como relíquia. Em 1886, José Augusto Vieira escrevia que muitos devotos, depois de rezarem ajoelhados em frente ao túmulo, «[...] rojam-se sobre o pavimento para com uma pena, um ramúsculo, ou qualquer outro instrumento apropriado, esgravatarem por entre as fendas ou interstícios do túmulo o solo onde ele assenta, e pedirem assim a terra à santa para curar as maleitas, operação que é feita depois em casa, tomando a terra numa infusão de ervas escolhidas.» ([1886]: I, 540-542). Nas paredes vêem-se sempre pendurados vários ex-votos, sobretudo de cera, que testemunham os milagres da santa.

IN: João VASCONCELOS, Romarias: Um Inventario dos Santuários de Portugal, Olhapim, 1996 

Outras referências:
MONTEIRO, António Xavier, Santa Senhoria e Basto, Cabeceiras de Basto, Comissão Fabriqueira de Cabeceira de Basto, 1982, 48p., il.
A vida de Santa Senhorinha (abadessa, 924-982, Vieira do Minho), desde o nascimento até à morte. A sua beatificação no século XII, baseada em curas milagrosas [ainda em vida], e a sua canonização no século XVI. Santa Senhorinha na liturgia desde o século XVI. A nova capela (século XVII) e o seu túmulo em Cabeceiras de Basto. O culto a Santa Senhorinha nos tempos modernos.
(Resumo In: Piedade Popular em Portugal, dir. Zília Osório de CASTRO e Paule LEROU, Edições Távola Redonda, 1998)

Artigo Aqui:
Pedro Vilas Boas TAVARES, "Senhorinha de Basto memórias literárias da vida e
milagres de uma santa medieval", Via Spiritus 10 (2003) pp. 7-37
Loas nas páginas 25 a 31

...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

História Luso- Árabe - historiografia



David Lopes et Pedro Azevedo: deux contrastants arabe-islamologues dans l’historiographie portugaise, Judite A. Gonçalves de Freitas, Afrontamento, 2007

AQUI

Páscoa



REFÚGIO

Sozinho a ouvir o mar, que não diz nada.
Férias do mundo e de quem lá anda.
Concha de ouriço, mas desabitada,
Aberta no lençol da areia branda.

Não se lembrem de mim esta semana!
Matem o Cristo, e ele que ressuscite!
Eu, nesta angústia humana ou desumana,
Quero apenas que o sono me visite.

Miguel Torga
Arrábida, Páscoa de 1952
In: Diário IV

A Serra da Arrábida na poesia portuguesa, selecção, prefácio, actualização de textos e notas, António Mateus Vilhena e Daniel Pires, Setúbal, Centro de Estudos Bocageanos, 2002


terça-feira, 12 de abril de 2011

arabismos

José Pedro Machado:

Alguns Vocábulos de Origem Árabe ( aqui )

Comentários a Alguns Arabismos do Dicionários de Nascentes ( aqui )

Curiosidades Filológicas ( aqui )

segunda-feira, 4 de abril de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

Mantas Tradicionais Alentejanas

As Fontes

2. As Fontes

Na tradição e na cultura mediterrânica, seja judaica ou portuguesa, as fontes e os poços são locais onde se realizam encontros essenciais. É junto das fontes e da água que o amor nasce e os casamentos se iniciam. É junto das nascentes que se concentram os cultos. Todo o  santuário tem uma fonte. Tinham uma fonte os santuários orientais, tem uma fonte a Senhora do Almortão. Têm uma fonte ou chafariz ou ribeiro todas as ermidas de Portugal.

A sagração das fontes é um acto universal, pois a fonte é a boca da água viva ou da água  virgem. A água que brota da fonte é a água das chuvas, é o sémen divino, é a maternidade. Por isso é que as mouras estão encantadas nas fontes e beber nelas é conhecer. Beber água nestas fontes é ficar encantado. Por isso é que se costuma dizer, a propósito do rapaz que casa noutra terra que não a sua: bebeu água da fonte... e ficou por cá.

As fontes, em Portugal, têm moiras encantadas. No dizer de C. Pedroso, as moiras portuguesas são «génios femininos das águas», irmãs das germânicas nixen, das inglesas lac-ladies, das russas rusalki, das sérvias vilas, das escandinavas elfen e das gregas naiadas. Diríamos que são irmãs menos conhecidas da Lady of de Lake dos Cavaleiros da Távola Redonda. Seguindo o mesmo autor, as moiras aparecem como génios maléficos que perseguem o homem, como fiandeiras e construtoras de monumentos e como guardadoras de tesouros encantados; mas a sua maior função e razão de serem conhecidas é de serem génios femininos das águas. Não há fonte portuguesa que não tenha uma moira que ora tem a forma de serpente e exerce feitiço sobre os viandantes, ora tem a forma de uma linda donzela que promete riqueza e felicidade a quem colocar fim ao seu encantamento. O dia e a hora primordial de aparecimento é a Noite de São João, à Meia-Noite. Nesta noite, a serpente, a moira, a grande mãe, que são uma e a mesma coisa, liberta-se da autoridade do pai, diz M. E. Santo. Liberta-se e acontece a noite de maior sensualidade e sexualidade de todo o calendário agro religioso rural.

António Maria Romeiro Carvalho

A Moura de Algoso

Algoso é uma pequena aldeia perdida nas serranias transmontanas. Diz uma lenda que ainda hoje por lá corre que, no tempo dos Mouros existia nos arredores um bruxo famoso, conhecedor de mezinhas milagrosas e sabedor do passado e do futuro. Vivia num casebre um pouco afastado da povoação, mas nem a pobreza da sua casa, nem o afastamento da mesmo obstavam a que ali acorressem quantos acreditavam nas suas capacidades mágicas ou videntes.

Na verdade, ricos e pobres, de longe ou de perto, todos ali acudiam em busca de cura para os seus males, pedindo filtros de amor ou indagando sobre o que lhes reservaria o futuro.

Em certos dias era uma autêntica romaria. E com tudo isto o bruxo criou fama e proveito de homem rico, apesar de continuar a viver no pobre casebre tentando fazer-se passar por miserável. Entretanto, os cristãos iam avançando na reconquisto de território ainda sobre a dependência dos Mouros e estavam a aproximar-se rapidamente de Algoso. Sabendo disto o bruxo, que não podia prever o seu próprio futuro, calculou que a ocupação cristã não viesse a ser muito demorada e decidiu esconder os seus tesouros, disposto a recuperá-los mais tarde, quando pudesse recuperar o seu oficio.

Assim pensando, escolheu o que poderia carregar consigo, e o restante, as jóias e o ouro, meteu-o num cofre de marfim chapeado a cobre. Feito isto, e como precisava de encontrar um bom esconderijo para a sua fortuna, partiu com o cofre debaixo do braço em demanda do melhor local.

Depois de muito procurar, achou que o melhor sitio era debaixo da fonte de S. João, debaixo das raízes de um enorme e belo chorão que derramava a sua sombra as águas. Pegou numa enxadinha e cavou um buraco apropriado ao tamanho do cofre. Meteu-o lá dentro, tapou-o com terra e disfarçou a obra com folhagem e gravetos.

Terminando o trabalho, levantou-se e olhou em volta. Espantado, viu uma mourinha que, descuidada, descia uma vereda da serra cantando uma velha canção. Convencido que a moura o vira esconder o cofre e estava agora a disfarçando o caso, o bruxo encaminhou-se para ela, olhou-a com uma estranha fixidez, fez uns sinais misteriosos e, recitando certa oração antiga, lançou sobre a menina um encantamento, de tal modo que ela desapareceu no mesmo instante. Casquinhando, esfregou as mãos, pegou nos seus haveres e desandou rapidamente para a floresta, donde nunca mais voltou. A lenda da moura de Algoso foi passando de boca em ouvido, de geração em geração.

A fonte de S. João de resto, continuava ali, lembrando a todos a desdita da mourinha encantada pelo bruxo e desafiando a coragem de quem sonhasse desencantá-la. Uma noite, muito próxima da de S. João, uma rapaz de Algoso que se apaixonara pela história sonhou que via a moura na fonte. Mal acordou, decidiu que, desse lá por onde desse, havia de tentar ver na madrugada de S. João se a lenda era verdadeira. Além disso, como corria se alguém visse a moura nas suas horas felizes lhe podia fazer três pedidos, os quais seriam atendidos, o rapaz achou que, apesar do medo, era talvez vantajoso fazer aquela tentativa. Na véspera de S. João, encaminhou-se para a fonte ainda antes de anoitecer por completo. Procurou um local para se esconder, um local de onde visse sem ser visto, e preparou-se para esperar pela meia noite sem fazer ruído algum. O velho chorão da fonte, já centenário, continuava lançando sobre a água os seus ramos lacrimejantes

Do outro lado, havia agora um belíssimo roseiral, donde provinha um perfume intenso quando todas as rosas abriam. Chegou a meia noite. De repente o rapaz ouviu uma restolhada vinda das bandas do roseiral. Era uma enorme serpente que, rastejando, se dirigia para a fonte. Aí chegada, mergulhou três vezes. Qual não foi o espanto do moço quando viu aparecer sobre as águas uma menina: a moura da fonte e... mais bela do que tradição contava. A moura saltou com leveza da rocha para o solo e, sentando-se na borda da fonte, começou a cantar uma suave canção que o marulhar da água acompanhava, enquanto ela ia passando um pente pelos seus cabelos loiros. Subitamente, uma corça apareceu vinda da floresta e, sem mostrar qualquer receio, aproximou-se da moura, que a afagou com ternura. A corça, num gesto de agradecimento, lambeu-lhe as babuchas de damasco azul.

Era realmente um espectáculo de beleza que o rapaz jamais esperava encontrar, E, acocorado no seu canto, esqueceu os três pedidos que queria fazer, esqueceu tudo, esqueceu-se até de si mesmo, até que, bruscamente, a moura parou de se pentear, debruçou-se no tanque e desatou num pranto irreprimível. Chorava, talvez, a dor da sua solidão sem fim. Condoído, o rapaz fez um movimento para a consolar, esquecido do que não fosse aquela ânsia de ternura que dele se apoderara. Ao erguer-se, porém, fez estalar sob o corpo os ramos da sebe em que se escondera. A corça embrenhou-se rapidamente no mato e a moura desapareceu subitamente, evolando-se numa névoa sobre a águas da fonte de S. João de Algoso.
AQUI

segunda-feira, 28 de março de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

alfarroba

Licor de alfarroba

Ingredientes:

- 1 litro de aguardente
- 1 kg de açúcar
- 1 litro de água
- 2 vagens de alfarroba maduras partidas aos bocados
- 2 chávenas de alfarroba torrada e moída fina
- casca de 1 limão


MODO DE FAZER:
Põe-se o açúcar num tacho.
Junta-se-lhe a água e a alfarroba(farinha) e leva-se ao lume, mexendo sempre até ferver.
Desliga-se o lume, deixa-se amornar e junta-se a aguardente.
Mexe-se bem.
Num frasco deita-se esta mistura, a casca de limão e as vagens de alfarroba.
Tapa-se bem e deixa-se de infusão durante 10 dias.
Todos os dias mexe-se com colher de pau-
Ao fim deste tempo, filtra-se (por papel de filtrar, ou saquinhos de filtrar que se compram na farmácia) e põe-se em garrafas, bem fechado.


sobre a utilização da alfarroba:

AQUI

sexta-feira, 4 de março de 2011

Abd al-Malik ibn Abd Allah ibn Badrun al-Hadram - O AMOR



O amor é feito de prazer:
Então é só beijos e abraços.
Depois chega a hora de sofrer:
Palavras amargas seguem nossos passos
E nos apartamos como quem vai morrer.
Oh, se no amor não mais acreditasse
Melhor fora que a minha vida se acabasse!

Abd al-Malik ibn Abd Allah ibn Badrun al-Hadrami, Silves, (XII-XIII) 
IN: Poetas do Gharb al-Ândalus

Ficar é morrer

POIS NÃO sabes, minha amiga,
Que ficar é morrer
E que a morada do cobarde é o seu túmulo?
O perigo me dará a recompensa.
Não viste o voo das aves da noite
Por ti afugentadas? Não auguraram,
Voando pela direita, que era tempo de alegria?
Ensinaram-me a temer longas viagens,
Mas são o meio de beijar a mão de Almançor
Venha, pois, a água salobra dos desertos
Para alcançar a torrente límpida da generosidade!
Quando a minha amiga veio para o adeus
Trouxe soluços e suspiros, inimigos da coragem,
E suplicou-me: Em nome do nosso amor e em nome da paixão!
No berço ficava o nosso filho: Um menino chorando,
Que não falava, mas através do olhar
Me trespassava a alma.
Mas nem a dona de mim
Nem meu filho das entranhas
Fizeram que obedecesse.
E na ânsia da viagem
Eis que, por fim,
Eu parti.

Ibn Darraj Al Qastalli (958-1030), poeta do Al Andalz