terça-feira, 29 de junho de 2010

São Pedro - Montijo











Ainda em épocas passadas (1902), há referência à primeira queima de um barco no Páteo d'Água, ali colocado dias antes, ornamentado com flores e bandeiras.
À noite organizava-se um baile, cantava-se e dançava-se, enquanto era ateado fogo ao batel, continuando o bailarico ao redor da fogueira ...



Registe-se que as touradas foram introduzidas nos festejos da vila no século XVI, por provisão real do rei D. Manuel, «para diversão do povo».

Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Junho. Lisboa: Círculo de Leitores.

Trono a São Pedro

No Teixoso era uso os rapazes solteiros, na madrugada de 28 para 29 de Junho, depois de terem bailado ao redor das fogueiras perfumadas com rosmaninho, irem beber água a todas as fontes, enquanto pelos caminhos roubavam cravos, que ofereciam depois às namoradas ou moças da sua eleição.

Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Junho. Lisboa: Círculo de Leitores. 

São Pedro

Tu, que Diabo?, és velho.
Es o único dos trez que traz velhice
Às festas. Tuas barbas brancas
Têm comtudo um ar terno
A que o teu duro olhar não dá razão.
Parece que com essas barbas brancas
Por um phenomeno de imitação
Pretendes ter um ar de Padre Eterno.

Carcereiro do ceu, isso é o que és,
Basta ver o tamanho d'essas chaves —
As que Roma cruzou no seu brasão.
Segundo aquele passo do Evangelho
Do «Tu és Pedro» etcetera (tu sabes),
Que é, afinal, uma fraude,
Meu velho, uma interpolação.

Carcereiro do céu, que chaves essas!
Nem dão vontade de ser bom na terra,
Se, segundo evangelicas promessas
Vamos parar, no fim, a um ceu claustral.
Isso — fecharem-me — não quero eu,
Nem com Deus e o que é seu
Que o estar fechado faz-me mal
Até na beatitude do teu ceu,
Entre os santos do paraíso,
(A liberdade Deus dá a Deus —
Um Deus que não sei se é o teu)
O estar fechado, aqui ou ali, dizia eu
Faz-me terriveis cocegas no juizo.

Enfim, que direi eu de ti, amigo,
Que não seja uma coisa morta,
Anti-popular, gongorica,
Por fruste deselegante,
Como de quem, sem saber nada. exhausto.
Começo por duvidar bastante,
Desculpa-me chaveiro antigo,
De que tivesses existencia historica.

Mas isso, é claro, não importa
Se nos trazes
A alegria da singeleza
Ou a bondade que não sabe ter tristeza.
O peor é que nada d'isso fazes.
O teu semblante é duro e cru
E as barbas que roubaste ao Deus que tens
Só arrancam aos dandies teus loquazes
Ditos de dandies cinicos desdens.
Que diabo, és uma série de ninguens
O Santo são as chaves, e não tu.

Para uns és S. Pedro, o grão porteiro
Para outros as barbas já citadas,
Para uns o tal fatidico chaveiro
Que fecha à chave as almas sublimadas.
Para uns fundaste a Roma do Papado
(Andavas bebado ou enganado
Ou esqueceste
O teu Mestre quando o fizeste)
E para outros enfim, como é o povo
E segundo as ideias que elle faz,
És quem lhe não vem dar nada de novo —
Umas barbas com S. Pedro lá por traz.

É diffcil tratar-te em verso ou prosa,
Tudo em ti, salvo as barbas, é incerto.
Tudo teu, salvo as chaves, não tem ser.
E a alma mais humilde é clamorosa
De qualquer coisa que se possa ver,
Em sonho até, qual se estivesse perto.

Olha, eu confesso
Que nunca escreveria
Este vago poema, em que me apresso
Só para me ver livre do teu nada,
Se não fosse para dar o cunho
A este livro da trilogia
(Santo António, S. João, S. Pedro -
De popular, que bem que sôa!)

Mas por que diabo de intuição errada
É que vieste parar a Junho
E a Lisboa?

Isto aqui ainda tem
Um sorriso que lhe fica bem,
Que até, até
No teu dia,
(Ó estupor velho
Com um chavelho,)
Nas ruas

O povo anda com alegria
É fé,
Não em ti nem nas barbas tuas
Mas no que a alegria é.

Olha, acabei.
Que mais dizer-te, não sei.
Espera lá, olha.
Roma, fingindo que viceja,
Lentamente se desfolha.
Um gesto volvente e mudo
Teu ultimo gesto seja.
Se tens poder milagroso,
Se essas chaves abrem tudo,
Deixa esse ceu lastimoso.
Deixa de vez esse céu,
Desce até à humanidade
E abre-lhe, enfim no mundo gesto teu,
As portas do Inferno, e da Verdade.

Fernando Pessoa
"Foram escriptos, todos os três, no dia 9 de Junho de 1935"


(Almada Negreiros)
Pessoa, Fernando (1994), Os Santos Populares. Lisboa: Edições Salamandra. 

alcachofra


A alcachofra, símbolo da ressurreição da Natureza, é (ou era) a mais utilizada pelas raparigas em práticas  «de sortes» divinatórias. Chamuscada nas fogueiras de São João, à meia-noite, e posta ao relento, se no dia seguinte reflorescesse  indicaria  que se era correspondida nos amores.

Jorge Barros e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Junho. Lisboa: Círculo
de Leitores.



[ «Manda a tradição que se queime a sua flor durante o solstício de Verão, pois uma vez mergulhada em água fria voltará a florir. Das cinzas às cinzas, a alcachofra manifesta em si o eterno retorno, a negação da morte, a ressurreição. » ]

sábado, 26 de junho de 2010

Verão ...

alho-porro

São João

(Braga)
Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Junho. Lisboa: Círculo de Leitores.

24 de Junho - São João

... a pancadinha propiciatória que trará a boa sorte e fortuna.
... a noite em que se quebra ou se prolonga o encanto das moiras encantadas.
... a madrugada em que se colhem os figos lampos com orvalho bento.

Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Junho. Lisboa: Círculo de Leitores.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

brinquei eu, brincaste tu ...



cinco saquinhos, pedrinhas ou Marias

carrinho de rolamentos

 jogo do elástico

corrida de caricas

arco

adufe





Maria Amélia Fonseca - Romaria à Senhora do Almortão, Monsanto.

Monsanto - Idanha-A-Nova



Festa de Santa Cruz ou do Castelo - As Bezerras - Marafonas. Realiza-se anualmente no primeiro domingo a seguir ao dia 3 de Maio.


fotografia de Jorge Barros


fotografia de Jorge Barros







Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Maio. Lisboa: Círculo de Leitores. Fotografias de Jorge Barros.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Romaria de São Torcato (Cabaços - Moimenta da Beira)


O chapéu de três bicos


A romaria realiza-se em dois fins-de-semana seguidos (a começar no quarto Domingo depois da Páscoa), repartida pelas duas capelas de São Torcato (o Velho e o Novo) e pela Igreja Matriz de Santo Adrião, padroeiro de Cabaços.

No domingo (dia principal da festa), pelas sete e meia da manhã, abrem-se as portas das duas capelas e logo começa - na mais antiga, onde se encontra a primitiva imagem do santo, segurando o livro de pontífice e a palma de mártir, vestido com uma espécie de libré, de calção até ao joelho e tricórnio (chapéu de três bicos) - um ritual que se perde no tempo: a "Liturgia do Chapéu de São Torcato".
A tradição (assistida por quatro mordomos, ou "mesários") consiste em retirara o chapéu ao santo, para o colocar, por rápidos instantes, na cabeça dos devotos - homens, mulheres e crianças, que se ajoelham junto do altar da sagrada imagem.

Segundo a crença popular, "colocar o chapéu de São Torcato é evitar as dores e as doenças da cabeça, do peito e dos membros".


Barros, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Maio. Lisboa: Círculo de Leitores.

maias e maios ... 1 de Maio





A erva, Maio a dá, Maio a leva.



(fotografias de Jorge Barros)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Maias - Quinta-Feira da Ascensão - Dia da Espiga






A espiga inclui pés de trigo e/ou centeio, cevada, aveia, um ramo de oliveira, papoilas, videira, alecrim  e margaridas amarelas e brancas. As espigas simbolizam o pão e a abundância, as papoilas o amor e a vida. o ramo de oliveira a paz, as margaridas o ouro e a prata, a videira o vinho e a alegria e o alecrim a saúde e a força. De acordo com a tradição, o ramo deve ser pendurado dentro de casa, na parede da cozinha ou da sala, aí se conservando durante um ano, até ser substituído pelo ramo do ano seguinte. Assim, segundo crença popular, o ramo traz a abundância, a alegria, a saúde e a sorte - "Quem tem trigo da Ascensão, todo o ano terá pão."

sábado, 24 de abril de 2010

Lenda do rio Arade

 
Rio Arade, rio Arade,
Diz a voz da tradição
Que uma moira aqui chorou,
Trazida por Rei Cristão...

Foi em tempos tão remotos,
Em tempos que já lá vão,
Que a luta era mais acesa
Entre a Cruz e o Alcorão...

Era tudo fogo e ferro,
Em chamas ardia o chão,
E, a blasfêmia proclamada,
Carecia de perdão...

E se Cristo alçava a cruz
Aos valentes portugueses,
Allah, de longe, incitava
Os moiros, algumas vezes...

Os dias assim passavam,
Tão negros, sem exagero,
Que nada ali mais se ouvia
Que as vozes do desespero...

Quebravam-se alfanjes moiros,
Duras lanças portuguesas,
Nesses combates hostis,
Pelos montes, por devesas...

E diz a lenda, ela sempre,
Que o sangue que o chão bebia
Numa fonte mais à frente,
Muitas vezes, apar’cia...

É por isso que ainda hoje,
Até por gosto bizarro,
Se apanho terra de Silves,
É vermelha, cor de barro...

Vamos ao que mais importa
Nesta longa narração:
Saber o que aconteceu
À moita e ao rei cristão...

Era um dia, ao sol poente
Brilhavam núvens nos céus,
E El-Rei das hostes cristãs
Rezava, sózinho, a Deus.

Senão quando, senão quando
Junto de si apar’ceu
Uma visão, a mais linda,
Vinda lá dum outro céu.

Pronto El-Rei ali quedou
A fervorosa oração;
Logo, também, inquiriu:
— “Quem és tu, aparição?...

— “Eu sou Fhatma, a engeitada;
“Não tenho pai, nem irmãos,
“E assim me dou, pura e virgem,
“Ao forte Rei dos cristãos...

Levou-a El-Rei consigo,
Na garupa do cavalo;
Prestes, dela se tomou,
Não seu Rei, mas seu Vassalo...

E, numa curva do rio,
Num lugar que é Encherim,
Entre flores de laranjeira,
El-Rei lhe falou assim:

— “Tu és flor ou és mulher?...
 “És verdade ou tentação?...
 “Tu, que és moira, quer’s ficar
“Aqui no meu coração?.,,

Era a moira só ternura,
E sorria como ainda
O guerreiro outra não vira
Sorrir, morena e tão linda...

Mas Fhatma ali respondeu:
— Sou mulher, mas, se me queres,
Sou só tua, apenas tua;
‘Faz de mim quanto quiseres!...

Abraços assim e beijos
Não foram jamais trocados,
Nos tempos vindos depois,
Nem nos tempos já passados...

Porque o amor não era amor,
Era coisa tão sem nome,
Como a água que mata a sede
Ou o pão que mata a fome.

Foi-se El-Rei de novo à guerra
E a princesa, porque o era,
Ficou-se, naquele vale,
Sempre à espera, sempre à espera...

Passaram tempos vindouros,
Longa noite, longo dia,
Mas EI-Rei não mais voltou
Para ver quem não o via...

E a moira que filha fora
Do príncipe Ben Ahr-ade,
Foi-se, a pouco, ali finando,
Só chorando de saudade...

Lágrimas do céu bebia,
Nas longas noites chuvosas,
Para as transformar, depois,
Noutras bem mais copiosas...

Eis, assim, foi engrossando
Aquela magra ribeira,
Onde a moira se quedara,
Mais chorosa, à sua beira...

Os tempos foram passando,
Mas a ribeira era agora
Um rio que ia morrer
Noutras águas, mar em fora...

Logo o vulgo, sempre o vulgo,
Depois, para a eternidade,
Ali mesmo baptizou
O rio, de Rio Arade...

Por isso, nos meus ouvidos,
Em longas noites de v’rão,
Ainda ouço alguém cantar
Aquela estranha canção:

— “Rio Arade, Rio Arade,
“Diz a voz da tradição
“Que uma moira aqui chorou,
“Trazida por Rei Cristão...

LOPES, Morais Algarve: as Moiras Encantadas s/l, Edição do Autor, 1995 , p.63-67


Fonte

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Prendas de Páscoa









Para presentear afilhados, familiares, amigos e namorados

Festa de Aleluia









Celebração antiga e singular da quadra da Páscoa  ao que parece, única no País -, poderá dizer-se que tem início na Quinta-Feira Santa quando grupos de crianças começam a recolher flores destinadas aos «ramos» (se forem meninas) e às «cruzes» (se forem rapazes). A predominância das flores recai na «aleluia» (chamadas, noutras regiões, «giesta», ou «páscoa»).
O Desfile sai da Capela de São Sebastião [Tomar] às nove horas da manhã de domingo de Páscoa. A idade dos componentes do cortejo, que chega a comportar centenas de crianças, não pode exceder os doze anos.

Barro, Jorge e Soledade Martinho Costa (2002), Festas e Tradições Populares: Março e Abril. Lisboa: Círculo de Leitores.