quarta-feira, 21 de setembro de 2016
terça-feira, 20 de setembro de 2016
Meendinho - Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom
Achava-me eu na ermida de São Simão
E cercarom-me as ondas, que grandes são:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Estando na ermida ante o altar,
Cercarom-me as ondas grandes do mar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
E cercarom-me as ondas, que grandes são,
Não hei barqueiro nem remador:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
E cercarom-me as ondas do alto mar,
Não hei barqueiro, nem sei remar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Não hei barqueiro nem remador
Morrerei eu formosa no mar maior:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Não hei barqueiro, nem sei remar,
Morrerei eu formosa no alto mar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
O texto original, escrito há quase 800 anos
Estando na ermida ant’o altar,
cercarom-mi as ondas grandes do mar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
E cercarom-mi as ondas, que grandes som,
nom heii barqueiro, nem remador:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
E cercarom-mi as ondas do alto mar,
nom heii barqueiro, nem sei remar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Nom heii barqueiro, nem remador,
morrerei eu fremosa no mar maior (mar bravo):
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Nom heii barqueiro, nem sei remar,
morrerei eu fremosa no alto mar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Daqui
E cercarom-me as ondas, que grandes são:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Estando na ermida ante o altar,
Cercarom-me as ondas grandes do mar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
E cercarom-me as ondas, que grandes são,
Não hei barqueiro nem remador:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
E cercarom-me as ondas do alto mar,
Não hei barqueiro, nem sei remar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Não hei barqueiro nem remador
Morrerei eu formosa no mar maior:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
Não hei barqueiro, nem sei remar,
Morrerei eu formosa no alto mar:
Eu aguardando o meu amigo,
Eu aguardando o meu amigo! E virá?
O texto original, escrito há quase 800 anos
Sedia-m’eu na ermida de Sam Simiom
e cercarom-mi as ondas, que grandes som:
eu atendend’o meu amigo
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
e cercarom-mi as ondas, que grandes som:
eu atendend’o meu amigo
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Estando na ermida ant’o altar,
cercarom-mi as ondas grandes do mar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
E cercarom-mi as ondas, que grandes som,
nom heii barqueiro, nem remador:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
E cercarom-mi as ondas do alto mar,
nom heii barqueiro, nem sei remar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Nom heii barqueiro, nem remador,
morrerei eu fremosa no mar maior (mar bravo):
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
Nom heii barqueiro, nem sei remar,
morrerei eu fremosa no alto mar:
eu atendend’o meu amigo.
eu atendend’o meu amigo. E verrá?
O poema está recolhido no códice da Biblioteca Nacional de Lisboa e no códice da Biblioteca Vaticana, de lírica medieval.
Daqui
Álvaro Laborinho - Nazaré
Álvaro Laborinho, Mar bravo, onda gigante (Nazaré), 1931 Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Álvaro Laborinho, Forno d'Orca (lPraia Norte, Nazaré) e Augusto, 1930
Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Álvaro Laborinho, José Maria Isaac pescando as enguias (foz do Alcôa), 1907 Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Álvaro Laborinho, Mar chegando ao paredão, frente aos chalets (Nazaré) Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
O Mar na pintura portuguesa
Banhos a Vapor - 1841-1842
Revista Universal [Lisbonense], N3, Outubro de 1841, pp. 2-4 |
ARTIGO AQUI
e aqui
e aqui
Obrigada, Daniel
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
RUY CINATTI
Ao Carlos Alberto
Lentamente, ao bater dos remos, vão os barcos
Rio acima, rio abaixo, na faina diária dos dias de sol e chuva.
Os homens já puxaram os barcos para a margem
Onde os senhores passam fechados, altaneiros,
Por entre homens da plebe — os que transportam sacos de trigo.
Os gestos repetem‑se, milenários,
Enquanto, de manhã à noite, os barcos vão passando
Desapercebidos dos lavradores dos campos.
Lentamente, vagaroso como o correr das águas,
Ergue‑se suplicante o canto dormente dos remadores…
Vai passando, vai quebrando, vai fugindo…
Ruy Cinatti, 'Obra Poética I', Lisboa, Assírio & Alvim, Out. 2016 [a sair brevemente]
Via Luis Manuel Gaspar
domingo, 21 de agosto de 2016
Fotografias de Artur Benarus (1861-1926) | Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico
Olhão | fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Zona Ribeirinha do Porto | fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Setúbal | fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
Artur Benarus (1861-1926) - Praia da Rocha
fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
fotografia de Artur Benarus (1861-1926) | Fotografia do Arquivo Municipal de Lisboa | fotográfico |
sexta-feira, 20 de maio de 2016
António José Forte - POEMA
Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva de uma estrela
alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler
alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios
alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar
António José Forte, Uma Faca nos Dentes, Parceria A.M. Pereira/Livraria Editora, Lda., Lisboa, 2003.
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler
alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios
alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar
António José Forte, Uma Faca nos Dentes, Parceria A.M. Pereira/Livraria Editora, Lda., Lisboa, 2003.
Algarve - Fotografia
Francisco Oliveira | Vista da Praia da Rocha | 1950 |
Investigação sobre fotógrafos de Portimão recupera a memória de um Algarve já distante.
Aqui:
domingo, 15 de maio de 2016
Fernando Pessoa - ÁGUA CORRENTE
Água corrente,
Frescura a fugir —
A uma alma doente,
Tornas inconsciente,
Frescura a fugir —
A uma alma doente,
Tornas inconsciente,
Fazê-la sorrir.
Eu te vejo e ouço
Cantando correr,
E um momento posso
Esquecer o esforço
E o esforço de o ter.
E em minha alma vaga
Frescura também
Me envolve, me alaga,
E, se me embriaga,
É num fresco bem.
Por isso, no olvido
Excepto da água estou
E de um só sentido,
Da vista e do ouvido
Que me furta a quem sou.
Murmúrio da fonte,
Canto da água vão —
Coração insonte
Não tem horizonte...
Dorme, coração!
8 .07.1920
In Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
Eu te vejo e ouço
Cantando correr,
E um momento posso
Esquecer o esforço
E o esforço de o ter.
E em minha alma vaga
Frescura também
Me envolve, me alaga,
E, se me embriaga,
É num fresco bem.
Por isso, no olvido
Excepto da água estou
E de um só sentido,
Da vista e do ouvido
Que me furta a quem sou.
Murmúrio da fonte,
Canto da água vão —
Coração insonte
Não tem horizonte...
Dorme, coração!
8 .07.1920
In Poesia 1918-1930 , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
terça-feira, 10 de maio de 2016
Bernardo Santareno - Nos Mares do Fim do Mundo
fotografia de Bernardo Santareno |
"Foi reeditado "Nos Mares do Fim do Mundo", de Bernardo Santareno (1959), livro sobre o período em que o escritor acompanhou os pescadores bacalhoeiros portugueses pela Terra Nova e Gronelândia."
[...]
"a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e Gil Eannes,"
[...]
"O volume também traz fotos – registos de despedidas, de embarcações, de rostos, da figura do próprio autor, sempre com óculos de massa, uma das suas imagens de marca. E dois inéditos. O primeiro é um texto sobre o peso da responsabilidade de ter deixado o território protegido dos laboratórios e das clínicas para tratar aqueles que tanto respeitava e o segundo é sobre uma insubordinação em defesa de um direito ocorrido num arrastão. O prenúncio de um posicionamento político que Bernardo Santareno iria aprofundar nos anos seguintes, antes e depois do 25 de Abril de 1974."
Daqui: http://observador.pt/2016/05/08/bernardo-santareno-coracao-nas-trevas/
José Manuel Nilo - As velhas Raposas
["chora"]
[...]
«Esfomeado, nem sequer me lembro de responder à ironia do capitão. Com a concha de alumínio picada pelo tempo encho a malga de esmalte. De início, o aspecto das partes gelatinosas repugna-me um pouco, mas em breve devoro com verdadeiro prazer. Na minha idade, com a boa constituição física e nas circunstâncias do momento, tudo que seja fresco e consistente me sabe bem. Lembro-me da profecia do capitão - hesito em repetir. Mas a necessidade de encher o estômago e o delicioso sabor da "chora"* impélem-me a atascar de novo a malga. E exclamo entre duas colheradas:
- Isto é formidável! Tinham-me dito que era bom... mas não julgava que fosse assim tanto...
O capitão casquinha uma gargalhada:
- Paro o ano estará de volta! Mas deve fazer mais por isso...
Fito o velho, e sùbitamente - num brusco enfraquecimento das minhas íntimas intenções -, perdôo-lhe todas as anteriores ofensas.» [...]
José Manuel Nilo, As Velhas Raposas (finalizado em 1974 - não editado)
*«A "chora" teve origem a bordo dos veleiros da frota bacalhoeira, mais não sendo do que uma sopa que era servida aos pescadores após a dureza do trabalho heróico de pescar, escalar e salgar o bacalhau apanhado diariamente. Dada a compreensível escassez de vegetais e outros alimentos frescos, a Chora era feita quase sempre apenas com arroz ou massa e caras de bacalhau. Também se fazia com os ossos do bacalhau.»
sábado, 7 de maio de 2016
AFONSO LOPES VIEIRA - À SENHORA MARIA LARANJO DA PRAIA DA NAZARÉ
Minha boa Amiga senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
em quem tanto admiro essa fidalguia
de um povo que na Europa o mais fino é,
muito agradecido pelo almoço Real
que aí me deu junto às ondas do mar;
tivera Camões comido um igual,
fazia-lhe versos, mas não a zombar.
Minha boa Amiga, senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
por minha mulher a receberia
(se a minha Amiga quisesse, já se vê)
se acaso a conheço quando era solteiro,
para ser agora, — ventura tamanha —
em vez de pobre doutor, marinheiro,
mendigo do mar, arrais de companha.
Estando da banda dos pobres do mar
já eu não teria, como tenho às vezes,
remorsos tamanhos e tão graves fezes
de ver tantas dores em roda a penar;
assim penaria e acreditaria
como eles, por lindo milagre da fé,
que depois no mar do Paraíso seria
o pescador mais feliz da Nazaré!...
Mas já que eu errei, por destino fatal,
o que era a minha pura, certa vocação,
saiba que em si louvo e admiro Portugal
no que tem de belo — alma e coração.
E saibam as altas senhoras princesas
que há uma fidalga aí na Nazaré
com quem elas podem aprender finezas
e a dar um almoço que tão fino é.
Afonso Lopes Vieira, 'Onde a terra se acaba e o mar começa', Lisboa, Livraria Bertrand, 1940; 2.ª ed., edição de António Manuel Couto Viana, Lisboa, Vega, 1998.
O poema é dedicado à avó materna do pintor Mário Botas.
Laranjo, da praia da Nazaré,
em quem tanto admiro essa fidalguia
de um povo que na Europa o mais fino é,
muito agradecido pelo almoço Real
que aí me deu junto às ondas do mar;
tivera Camões comido um igual,
fazia-lhe versos, mas não a zombar.
Minha boa Amiga, senhora Maria
Laranjo, da praia da Nazaré,
por minha mulher a receberia
(se a minha Amiga quisesse, já se vê)
se acaso a conheço quando era solteiro,
para ser agora, — ventura tamanha —
em vez de pobre doutor, marinheiro,
mendigo do mar, arrais de companha.
Estando da banda dos pobres do mar
já eu não teria, como tenho às vezes,
remorsos tamanhos e tão graves fezes
de ver tantas dores em roda a penar;
assim penaria e acreditaria
como eles, por lindo milagre da fé,
que depois no mar do Paraíso seria
o pescador mais feliz da Nazaré!...
Mas já que eu errei, por destino fatal,
o que era a minha pura, certa vocação,
saiba que em si louvo e admiro Portugal
no que tem de belo — alma e coração.
E saibam as altas senhoras princesas
que há uma fidalga aí na Nazaré
com quem elas podem aprender finezas
e a dar um almoço que tão fino é.
Afonso Lopes Vieira, 'Onde a terra se acaba e o mar começa', Lisboa, Livraria Bertrand, 1940; 2.ª ed., edição de António Manuel Couto Viana, Lisboa, Vega, 1998.
O poema é dedicado à avó materna do pintor Mário Botas.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
quinta-feira, 28 de abril de 2016
Sophia de Mello Breyner Andersen - NAVIO NAUFRAGADO
Vinham dum mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.
É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.
E em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.
E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves de cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos dos videntes.
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