Mostrar mensagens com a etiqueta António Carneiro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta António Carneiro. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 12 de setembro de 2017

sábado, 19 de agosto de 2017

António Carneiro - As algas




António Carneiro, Contemplação, 1911




Quanto tempo vogaram, embaladas
No seio profundíssimo do mar...
E, ao rolá-las na praia, a soluçar
Fica a onda de as ver abandonadas...

A novo beijo da água, de mansinho
As algas se insinuam, no desejo
Saüdoso de voltar; e, num harpejo,
Despede-as o mar, devagarinho...

Fonte de vida eterna, inexaurível,
Sendo só com a vida compatível
— A desse grande túmulo: a Terra,

Voragem pertinaz, assustadora,
Vai o mar rejeitando, hora por hora
Mortes que fez, as mortes que ele encerra.

António Carneiro, Solilóquios: Sonetos Póstumos, 1936.



sexta-feira, 27 de março de 2015

AFONSO LOPES VIEIRA - ESPUMA




António Carneiro, retrato de Afonso Lopes Vieira, 1912.



Mais leve que a pluma
que no ar balança,
pela praia dança
a ligeira espuma.
Dançando se afaga
no alado bailar!
Pétalas da vaga,
poeira do mar…


Espuma de neve,
ergue-a num momento
a curiosa e leve,
vaga mão do vento.
Mas o vento, achando
que da mão lhe escorre,
com ela brincando
pela praia corre…

Eis se ergue e dissolve,
coisa láctea e pura,
onde o luar se envolve
na fervente alvura.
Espuma levada
das águas ao rés,
renda evaporada,
jóia das marés!

Grácil mimo e flor
de femínea graça.
que efémera passa
no eterno esplendor.
Em meus dedos, ágil,
um momento tive-a,
e na morte nívea
se me evola frágil.

Mais leve que a pluma
que no ar ondeia,
pela fina areia
baila, aérea, a espuma.
 E na dança etérea,
que impalpável ronda!
Bafo da matéria,
penugem da onda…

Os Versos de Afonso Lopes Vieira, Lisboa, Sociedade Editora Portugal-Brasil, 1927